Sobre a esperança
Tentou rir, mas isto apenas piorou sua dor. Agora ele entendia.
Um dia, antes de tudo isso, havia tentado imaginar o que acontecia com uma pessoa que se jogava de um lugar alto. Será que ela vê a vida passar diante de seus olhos? Será que ela cai em câmera lenta? Agora sabia que tudo era mentira. Não havia nada disso, apenas a dor resultante da queda caso você sobrevivesse, como ele tinha sobrevivido agora.
Olhava a nuvem de fumaça subindo ao longe, onde seus companheiros foram vistos pela última vez pela mira de seu rifle de longa distância. Havia conseguido matar alguns Deles e ajudar no recuo dos sobreviventes, mas alguns minutos após saírem de seu campo de visão, os tiros pararam. Tudo estava silencioso. Deveriam estar mortos. Era o único sobrevivente daquela “brincadeira” A única esperança que tinham havia se transformado em pó, sem o menor esforço. Não havia pensado nisso, no quanto era sensível o sucesso do plano. Para falar a verdade, havia se recusado a pensar nisso. Não se pensa nas chances de um último ato de desespero... mas agora via com clareza... nunca tiveram uma chance.
Encostou a cabeça no chão cansado.
Lembrava-se perfeitamente da sensação que sentira após atravessar os restos de vidro do oitavo andar... que sensação fantástica. Teve a impressão de que por pouco, mas muito pouco, não conseguira voar. Com os braços estendidos e pernas em riste, o mergulho o atingiu com uma rajada fria e realista. Seu corpo lentamente começou a girar por causa do peso de suas botas. Malditas botas de metal! Seu corpo ficou de pé em pleno ar e foi assim que se chocou com o solo.
Agora se encontrava no chão, estendido, derrotado. Sentia o sono tomando conta de si e deixou-se levar, fechando os olhos e tentando se lembra da incrível sensação de quase vôo que sentiu ao pular...
Recuperou os sentidos com uma grande explosão que fez o chão tremer. Assustado tentou sentar-se e sentiu uma agonizante dor oriunda de suas moídas pernas. Como ainda estava vivo? Havia sentido o tão dito sono da morte, o havia abraçado, porque ainda estava vivo?
Ouviu outra explosão menor e incrédulo olhou para a nova fonte de fumaça que subia. Soltou um leve sorriso de satisfação. Explosões não aconteciam à toa. Alguém as estava causando, e provavelmente eram seus companheiros fazendo suas mortes serem um tanto mais espetaculares. Sorriu e bateu a cabeça com força no chão, porém seu capacete amorteceu o impacto mais do que desejara. Aqueles que trouxe para sua missão suicida estavam morrendo lutando e ele, que sempre se orgulhara de sua liderança e honra, nem se matar conseguia. Olhou para o prédio e riu, pois não conseguia se imaginar subindo até lá para se jogar mais uma vez. As proteções de sua perna exibiam menos sangue do que achou que veria, e não aparecia mais. Ergueu o braço o máximo que conseguiu e esmurrou a armadura do peito, o que não lhe causou dor. Não acreditava. Havia se jogado do oitavo andar de um prédio e não morrera na queda e nem morreria sangrando.
Virou-se para o lado e encontrou sua arma arranhada e com a mira telescópica quebrada. Pegou-a e conseguiu sentar usando-a como apoio.
Riu.
Riu como nunca antes havia rido em sua vida, e não se importava se Eles o achassem.
Finalmente havia entendido.
Arrastou-se até o topo da pilha de destroços à sua frente e descarregou as balas restantes de seu rifle. Gritou a plenos pulmões sentindo sua garganta ferir. Recarregou a arma e esperou. Que viessem! Ele já havia adiantado sua morte. Se iria morrer, que morresse lutando como seus companheiros. Quem sabe um deles não conseguiria chegar lá?
Foi necessário cair de oito andares para encontrar sentido naquilo tudo.
Não havia morrido à toa.
Não estavam lutando por uma chance de fazer algo dar certo.
Estavam lutando para manter a esperança de que algo poderia dar certo.