O Robô Benevolente

Eu sempre quis entender o que leva os seres humanos a sofrerem. Quero dizer, que sentimentos eles carregam? Eu já não podia entender, pois era um robô. Meu criador me fez antes de morrer, ele foi infectado por um vírus mortal e acabou falecendo. O meu mestre era um homem de um intelecto muito alto, ele me limpava e trocava meu óleo todos os dias e eu me sentia muito aliviado por ele cuidar de mim o tempo inteiro, eu aprendi sozinho a interagir com outros seres humanos, e quando ele morreu eu fui levado por duas pessoas que cuidaram de mim e me deram um lar, mesmo eu não sendo humano eu fui muito bem aceito por eles.

A fabulosa Yara, cabelos loiros com olhos castanhos e um lindo sorriso e uma pele branca igual a neve. Ela tinha 40 anos, porém sua beleza interior era de uma moça jovem que escondia uma inocente capacidade de amar, algo que eu não entendia, pois eu era um robô. A sua filha Alicia tinha 18 anos e tinha cabelos escuros, sardas pelo rosto branco e jovial, o que ela mais gosta de fazer é escutar musicas, jogar vídeo game e fazer novos amigos, a menina olhava para meu rosto e se surpreendia. Na verdade, quando eu fui criado, eu utilizava uma pele artificial idêntica ao dos humanos: Eu tenho olhos castanhos, pele escura e tinha sardas pelo nariz.

As duas moças são muito tímidas, trabalham muito para ter uma vida feliz e muito promissora, o pai de Alicia e marido de Yara foi trabalhar no exterior com o intuito de adquirir uma oportunidade da família conseguir um bom dinheiro, outro sentimento em questão: o que é a saudade? Eu não entendia os sentimentos humanos, não sabia o que tinha de tão especial em um toque gentil, um cafuné ou um abraço, coisas que não compreendia, mas com o tempo eu fui me acostumando até que eu e a Alicia tivemos uma longa conversa:

-Minha jovem, diga-me, você tem um namorado? Eu lhe inquiri-, é apenas uma curiosidade, eu guardo o relatório e as informações de todos os meus donos, guardo no meu sistema de memórias.

Alicia estranhou! A menina fez uma cara de surpresa e depois riu de mim como se fosse um deboche, eu então perguntei à ela:

-Qual a graça?

-Eu tenho namorado! Eu ri do que tu disseste antes, amigo robô, se queres parecer com nós humanos precisas usar gestos mais educados, tais como: ''hoje é um belo dia para contemplar o brilho radiante do sol.''

-Mas qual o sentindo de observar uma bola de energia que garante a nossa sobrevivência, digo, apenas a de vocês humanos, pois eu não preciso do sol para sobreviver e apenas a minha pele artificial morreria, mas minha carapaça robótica permaneceria existente, eu sou uma forma de vida que depende de óleo para sobreviver, se vocês morrerem eu também deixarei de existir.

-Robô! ouça-me um instante. -Disse ela-, você precisa enxergar beleza nas coisas, zoar as coisas mais estúpidas que veres, assim serás um humano, enquanto você estiver preso a dados que correspondem de informações cerebrais você será um recluso.

-Você tem toda razão, porém eu tenho um sonho...

Eu não contei a Alisa antes, mas meu sonho era ter uma alma humana. Dizem que nela guarda-se todos os sentimentos de amor e ódio e por isso eu me sentia incapacitado de amar, algo normal para outros seres viventes do planeta. Eu contei a história a ela, e ela se surpreendeu.

-Eu entendo, Robô, mas um dia terás uma alma, se você aprender a amar como um ser humano uma luz nascerá de seu peito e ela será o seu bem maior. Valorize o que há dentro de si que aquilo nascerá, o que temos por fora logo mucha e fica feio, mas a nossa alma é eterna, é bela.

Foram as palavras mais lindas que eu já ouvi, eu programei meu cérebro eletrônico para sorrir os lábios de meu rosto, foi a primeira vez que eu sorrir, a mercê de meu corpo imperfeito, mas eu sempre excluía dados do meu sistema que correspondem-se ao mal, eu apenas aprendia a amar.

Passou-se muitos anos, nesse tempo a família de Alicia cresceu muito, eu a vi morrer pouco depois de sua mãe, eu vi suas filhas, suas netas, suas bisnetas e, sucessivamente, observei o mundo regredir muito. O homem destruiu completamente a natureza, os humanos foram extintos junto com outras formas de vida, pois o sol também havia morrido. Apenas restou eu vivo, estava sem óleo e seria automaticamente desligado até que eu dou meu ultimo suspiro.

-Eu aprendi a amar, durante esse tempo eu conheci uma moça, eu me apaixonei por ela, porém morreu sessenta anos depois, eu fui o único robô do mundo que se apaixonou por uma humana, eu fui o único robô que aprendeu a amar. Eu estou feliz, eu acho que consegui o que tanto queria, depois do recluso tempo que estive alienado em códigos fontes que mantinham-me vivo, agora eu sou livre e disso eu sei.

O meu sistema se apagou. Naquele momento eu pensei que era o fim até que ouço uma benevolente voz que me agarrou com força e disse:

-Bem vindo de volta. -Disse Yara, mãe de Alicia-, eu estou feliz em vê-lo Robô, parece que você ganhou sua alma, nos lhe dissemos que conseguirias.

-Obrigado por tudo, todos vocês, amigos que me deram forças para que eu obtivesse uma vida normal que nem a de vocês. Eu estou muito feliz. -Disse-lhe a todos os integrantes da família que lá estavam.

-Meus parabéns, minha grande invenção. -Disse meu mestre, meu criador, meu pai.

-Pai. Você também está aqui? -Perguntei-lhe.

-Sim eu estou aqui, eu o criei com o propósito de aprenderes com os seres humanos e me parece que foste capaz de muitas coisas incríveis, eu estou encantado de estar em presença de um ser tão forte e inteligente como você, Robô. Me diga, o que aprendeste em toda a sua vida?

Foi uma pergunta simples! Eu aprendi muitas coisas enquanto estive envolto na exuberante vida terrestre. Eu compreendi que podemos conseguir qualquer coisa se lutarmos, a vida não se baseia apenas em conhecimentos profundos, não, são lições de vidas que são acompanhadas quando somos aptos a por os pés na rua e encarar a vida, com muitas brincadeiras e momentos de prazer. Eu amei e vivi, agora eu fui libertado, estou ao lado das pessoas que me fazem bem. Meus amigos, minha família.

Franklin Furtado Ieck

Sr Furtado
Enviado por Sr Furtado em 09/03/2014
Reeditado em 09/03/2014
Código do texto: T4721935
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