O Gabinete de Guerra
Um mordomo de libré abriu a porta do número 10 da Downing Street e cumprimentou o visitante:
- Bem-vindo, professor! Fez boa viagem?
- Tanto quanto é possível nestes dias conturbados, Joseph...
- Dê-me seu chapéu, o guarda-chuva e o sobretudo, por favor!
O professor entregou os objetos solicitados, que foram pendurados num cabideiro.
- Queira me acompanhar - disse o mordomo.
Cruzaram o hall de entrada com seu característico piso axadrezado em preto e branco e seguiram por um corredor alcatifado até uma antessala onde foram recebidos por uma secretária morena num vestido escuro de corte militar. O mordomo fez uma vênia de cabeça e retirou-se para os aposentos da criadagem.
- Bom dia, professor! - Exclamou a secretária abrindo um imenso sorriso.
- Bom dia, Sarah!
- Sente-se, por favor. Vou avisar ao primeiro-ministro da sua chegada.
O professor instalou-se numa poltrona próxima a lareira, encimada por um busto do Duque de Wellington. Em seguida, a secretária inclinou-se sobre sua escrivaninha e apertou um botão no interfone:
- Senhor primeiro-ministro? O professor Woland acaba de chegar.
- Faça-o entrar - respondeu uma voz grave pelo alto-falante.
- Professor? - Disse a secretária, mas o visitante já estava de pé. Ela passou por ele e abriu uma porta que conduzia à uma sala menor ao lado, onde uma secretária loura datilografava um relatório. O professor seguiu-a.
- Bom dia, Rita! - Cumprimentou o visitante.
- Bom dia, professor! - Respondeu a datilógrafa, sem sequer diminuir o ritmo dos toques no teclado.
Havia outra porta nos fundos do aposento e Sarah deu duas batidas nela. A voz grave do primeiro-ministro respondeu:
- Entre!
Sarah girou a maçaneta e abriu a porta, afastando-se para que o visitante entrasse. Depois, fechou a porta atrás de si. O professor viu-se no interior da Sala do Gabinete, dominada por uma imponente mesa de carvalho ladeada por vinte e três sólidas cadeiras de mogno, das quais, no momento apenas cinco estavam ocupadas. Numa delas, a única com braços, de costas para a lareira e voltada para as duas janelas no fundo da sala, estava instalado o primeiro-ministro, com um indefectível charuto pendendo na boca. De frente para ele e de costas para as janelas, estavam o Líder da Casa dos Comuns, o Secretário de Estado para Assuntos Federativos, o Lorde Presidente do Conselho e o Secretário de Relações Exteriores.
- Cavalheiros - disse o visitante. - Não imaginei que fosse tão sério!
- Você nos dirá se é sério ou não, Woland - retrucou o primeiro-ministro, colocando o charuto num cinzeiro à sua frente. E indicando uma cadeira à sua esquerda:
- Tome assento.
O professor instalou-se no lugar indicado e cumprimentou os presentes do outro lado da mesa com uma vênia de cabeça. Sem maiores delongas, o primeiro-ministro empurrou em sua direção uma edição do "Times" - a mesma que ele mostrara no dia anterior à filha no salão da Aerated Bread Company - e perguntou à queima-roupa:
- E então, Woland? O que tem a nos dizer sobre a suposta descoberta dos nazistas na Crimeia?
[02-03-2014]