Uma Noite de Inverno - Parte 6
Até hoje, Selly não conseguia entender quais eram os motivos do super-vilão chamado Volt cometer atrocidades tão hediondas contra a vida humana. Ela olhou para Bruce que havia acabado de acender um dos últimos cigarros que restara e pensou: ele conseguiu nos salvar.
Há alguns anos atrás, 180 pessoas morreram eletrocutadas dentro de um trem. A causa: um criminoso que teve a desconhecida sorte de adquirir super poderes. A mídia o intitulou de Volt. No dia deste grande desastre, um carro que andava em uma rodovia perto dos trilhos do trem levava um casal que registrou, a partir de uma câmera de celular, uma das cenas que marcariam o século XXI. O vídeo que circulou o mundo mostrava um trem inteiro levitando no ar a 30 metros do chão. E enquanto isso acontecia, as 180 pessoas dentro do trem, incluindo mulheres, idosos e crianças, morriam com uma descarga de alta tensão que percorria os seus corpos. A câmera também capturou um ponto negro no céu azul daquela tarde ensolarada de quinta-feira.
O Guardião estava a caminho, mas ele falhou ao chegar atrasado e ainda carrega a culpa pela morte de todos.
- Naquele dia do desastre do trem, apesar de eu estar a dezenas de quilômetros do local, consegui ver os vagões no ar. Pareciam tão leves como as nuvens – Bruce mantinha um olhar caído. – Quando cheguei ao local, todos já estavam mortos. Eu podia sentir o cheiro de carne queimada. Volt havia me visto e então fugiu. O trem caiu no solo deserto e quente e como eu soube que nada se podia fazer a respeito das vítimas, fui atrás dele. Eu estava determinado como nunca a alcançá-lo e então enfrenta-lo. Ele era rápido demais e tentava me confundir com rodopios bruscos no ar e relâmpagos. Quando estávamos acima da área urbana eu o alcancei e peguei em seu braço para tentar faze-lo parar, mas levei um choque e então paralisei por alguns segundos. Meu corpo inteiro doía, mas isso não me fez desistir da perseguição. Quando eu chegava perto, ele tentava me atingir com descargas elétricas e eu sempre desviava, fazendo com que elas atingissem os prédios que eram em parte estilhaçados – Bruce deu um sorriso triste. – Mais mortes para a minha lista. – E então continuou. – Novamente consegui alcançá-lo e Volt olhou para mim, me revelando assim sua identidade.
Mais uma vez o homem levantou-se e caminhou em direção à janela. Ficou parado ali por alguns segundos. Selly o olhava. Bruce então se virou.
- Era Stanley.
Selly ficou incrédula.
- O quê? – Perguntou ela, mesmo tendo entendido muito bem o que Bruce havia dito.
- Seus olhos brilhavam como os raios que ele mesmo produzia. Naquele momento, não consegui fazer mais nada. Stanley aproveitou a oportunidade e me atingiu no peito com uma de suas descargas. Fui então jogado ao chão, caindo na periferia podre de Nova York.