Uma Noite de Inverno - Parte 5

Era sempre às três da tarde que as crianças do orfanato West Hill saíam para brincar nos gramados que rodeavam o edifício. Bruce Dennis, que naquela época tinha dez anos, sentava-se em um dos bancos de madeira e olhava os outros correndo e rindo. Ele não sentia vontade de fazer o mesmo, não até fazer uma grande amizade com Stanley Crowle. Ele era sorridente e desde novo sempre mostrou uma grande vontade de viver para aproveitar o melhor que o mundo podia oferecer.

Stanley foi a companhia de Bruce até pouco tempo antes de morrer. Sempre juntos em uma parceria sólida e inseparável. Quando os dois completaram a idade para começar a ter uma vida independente, começaram a conhecer o que realmente acontecia lá fora. A relação deles era como a de pai e filho sendo que cada um tinha um pouco do pai e um pouco do filho.

Mas as coisas começaram a mudar desde que Bruce começou a sumir. Stanley não sabia os motivos e Bruce sempre teve medo de lhe revelar toda a verdade. O mundo se tornava cada vez mais turbulento e houve uma época em que Bruce sumiu de vez para Stanley.

A ascensão do Guardião Negro. O renascer da esperança.

Stanley foi abandonado por um bem maior. O problema era que ele não podia saber disso. Não podia saber que a “perca” de um grande amigo e um verdadeiro pai era resultado de uma busca inquietante e tortuosa de Bruce na tentativa para deixar o mundo menos sujo.

- Eu o abandonei Selly – disse Bruce depois de vários minutos de silêncio.

- Abandonou quem? – Perguntou Selly, não entendendo sobre o que Bruce falava; a última que vez que ele se pronunciou foi para lhe contar da vez que viu uma adolescente sendo estuprada por uma gangue.

- Stanley.

"Seu falecido amigo.", pensou a mulher. Ela queria entender o porquê deste tal de Stanley ter mexido tanto com Bruce, fazendo-o até desistir de ser o Guardião Negro.

- Me fale um pouco dele – disse Selly.

Sentado no sofá, Bruce suspirou.

- Esquece – ele disse.

Selly bebeu um gole do vinho barato que trouxera.

- Tudo bem – ela disse e logo em seguida, para tentar deixar a atmosfera menos tensa no local, tentou mudar de assunto. – Sabe, mesmo que o mundo inteiro não te conheça direito, todos sabem que o seu maior desafio foi com aquele super vilão... como é que eles o chamavam...?

- Volt – respondeu Bruce, sem alterar a sua expressão. – Sempre achei idiotas os nomes que os jornalistas e especuladores colocavam em algo que eles não conheciam. Guardião Negro? Volt? É estúpido.

Bruce olhou para o teto.

- A primeira vez que o vi foi no dia que ouvi no rádio sobre um assalto a um banco no centro de Manhattam. Deus, isso é muito clichê, mas acontece – continuou Bruce. – Coloquei meu uniforme e voei para o local. Quando me aproximei os pelos de meu braço se arrepiaram. Não, eu não estava com medo, aquilo foi apenas o efeito do campo elétrico que inundava a localidade. As pessoas normais que se aproximavam logo saíam correndo afirmando que “haviam pegado um choque.”. Eu entrei no banco e fui à procura do criminoso. Ele estava no cofre, colocando milhares de cédulas em um grande saco. Naquele momento, o que eu achei mais estranho foi a luz branca azulada que iluminava o lugar. Logo percebi que a luz saia da mão do meliante. Ele se virou e olhou para mim. Não pude ver o seu rosto por causa do capuz que escondia a sua identidade, mas ele me viu e naquela hora, nunca esperei que fosse ver algo do tipo, tudo que estava em minha volta se desfez. Pedaços de concreto do prédio flutuavam no ar. Eu podia ver as ruas e as pessoas olhando sem acreditar. Correntes elétricas visíveis faziam sons agudos. O super vilão apenas levantou voo e fugiu em uma velocidade super sônica enquanto os pedaços do prédio caiam. Eu sabia que seria difícil alcança-lo.

Bruce se virou para Selly.

- Acho que você sabe bem disso, assim como todos. Aquilo feito no banco não é nada comparado aos eventos que ocorreram futuramente.