Homens de preto

Rebecca olhou-se no espelho pela décima vez antes de sair. Como estava? Bem! Ajeitou o cabelo e pegou a bolsa. Não tinha muito tempo, precisava ir.

Foi quando soou a campainha da porta da frente.

"Oh, droga", pensou.

Afastou a cortina da janela da sala e olhou para a rua. Havia um carro preto de modelo antigo parado em frente ao seu portão. E junto da porta de entrada...

Dois homens em ternos pretos, óculos escuros, cabeças raspadas, olharam para ela simultaneamente. Pareciam gêmeos!

Rebecca hesitou por um instante antes de abrir a porta. Finalmente, girou a maçaneta e viu-se frente aos dois estranhos:

- Sim?

- Somos do Ministério da Segurança Interna - disse um dos carecas, exibindo rapidamente um distintivo metálico que ela mal teve tempo de olhar.

- Precisamos... falar com você... Rebecca - disse o segundo careca. A única diferença deste para o primeiro homem é que parecia ter algum problema de dicção.

- Ministério da Segurança Interna? - Repetiu ela, apreensiva. - Bem, eu estava de saída...

- Não vamos demorar - prometeu o primeiro careca.

- Está bem... - disse Rebecca, torcendo a alça da bolsa entre as mãos. E sem muita convicção:

- Entrem.

Os homens de preto seguiram-na. E fecharam a porta após entrar.

- Sentem-se - disse Rebecca, cada vez mais apreensiva. Alguém vira aqueles dois entrarem na sua casa? E se quisessem lhe fazer algum mal? Mas sabiam o seu nome!

Os homens sentaram-se num sofá com uma sincronismo quase artificial, mãos pousadas nos joelhos. Ela instalou-se numa poltrona em frente a eles e encarou-os. Seus rostos não tinham expressão, o que era agravado pelos óculos escuros. Nenhum contato visual.

- Vocês aceitam uma água... refrigerante? - Indagou ela.

- Obrigado... nos refrescamos... antes de vir para cá - disse o careca com problemas de dicção, a voz soando pastosa.

- Refrescaram-se? Ah, que bom! - Retrucou Rebecca, pensando que aquilo era perfeitamente idiota de dizer e de ouvir.

- Rebecca, vamos ao assunto de nossa visita aqui - disse o primeiro careca em tom monocórdio.

E de chofre:

- Você está grávida.

Rebecca ficou ainda mais aturdida quando o segundo careca acrescentou:

- Isso... não é bom.

- Como sabem que estou grávida?! Não contei ainda para ninguém! - Exclamou ela.

- Somos do Ministério da Segurança Interna - repetiu o primeiro careca, como se isso fosse explicação suficiente.

- E a minha gravidez é assunto do Ministério da Segurança Interna?

- Quando... envolve um dos nossos pesquisadores... é sim.

Rebecca sentiu uma onda de medo invadi-la.

- Julio é do Ministério da Segurança Interna?

O primeiro careca apontou-lhe o indicador direito e disse, em tom acusatório:

- Então não sabe com quem esteve se relacionando?

Curiosamente, o segundo careca deu um tapa no braço estendido do companheiro e disse em tom firme:

- Cale-se!

O primeiro careca voltou à expressão neutra anterior. O segundo prosseguiu, enfatizando o fim de cada frase:

- Não... interessa para quem... Julio trabalha. Ele não pode... saber que você... está grávida!

- Julio vai partir numa missão - disse o primeiro careca. - Todos os que aderiram à ela eram pessoas sem relacionamentos estáveis, cônjuges ou filhos. O risco de não retornar é muito grande. Se souber que está grávida, ele pode querer desistir.

- Isso... não seria bom - disse o segundo homem.

Rebecca sentiu-se arrasada. Mesmo assim, perguntou:

- O que acontece se eu me recusar a obedecer?

- Será... formalmente acusada... de juvenalismo. Vai para a cadeia.

- Quer ter sua filha na cadeia, Rebecca?

Rebecca olhou estupefata para os dois homens.

- Eu estou grávida de seis semanas! Como sabem o sexo do meu bebê?!

- Somos do Ministério da Segurança Interna - retrucou o primeiro careca, num tom que não admitia réplica.

[01-02-2014]