O sentido de sua vida neste Universo
Saudações, irmão.
Em uma tentativa de animar a prisão, seu mundo, escreverei nesta carta o sentido de sua vida e alguns detalhes a mais.
Primeiramente posso garantir que ninguém acreditará em você até "morrer", como vocês dizem.
Tentarei fazer a tradução perfeita para sua linguagem em seu tempo atual.
Tudo começou aqui do outro lado, no mundo que achamos que é real (como garantir que não é uma simulação?), quando nossa espécie estava numa crise como a sua, no período atual da sua prisão. Precisávamos criar prisões, porém não gostamos de ver irmãos sendo rebaixados numa sala solitária.
Como na própria prisão por você criada, vocês prendem os bandidos, os fora da Lei. A diferença é que na prisão criada por nós vocês regrediram, ao viver como seres inferiores, mas já elaboramos outro plano para depois que trocarmos a bateria.
A prisão que criamos foi um universo perfeitamente restrito, onde há somente um planeta habitável. E mais, este seu universo não é real, mas virtual, uma simulação.
Acredite se quiser irmão, sua vida nesse planeta é a tortura menos dolorosa que jamais existiu.
Conforme nossos seres (vocês), foram evoluindo rapidamente, vimos todas as suas crenças e tabus, e conforme uma é aprovada pela maioria dos humanos, nós mudamos alguns números e deixamos a crença ser real. Mas claro que não de graça, precisamos nos divertir às vezes, pois vigiar e arrumar erros da prisão o tempo todo é chato.
Aqueles "deuses" nórdicos, egípcios, gregos etc. foram reais. Eu, inclusive, fui dois deles. Entrei no seu universo sendo um deus, apenas por diversão. Tem outros irmãos que entram para ajudar, às vezes com brutalidade, mas sem querer. Porém a maior parte entra somente diversão.
Seu deus atual é um antigo colega de trabalho meu, o deixei entrar, pois ele teve uma ideia magnifica, pelo menos era na teoria, e agora está pondo em prática. Ele deu a vocês esperança, porém errou em uma parte, em que faz vocês terem esperanças de viver como reais humanos.
Agora, pensando bem, os dados que coletamos dos humanos reais diz que se exterminaram por conta de um deus parecido, porém que impediu a todo o custo o avanço da ciência para o bem deles próprios. Claro que não foi um deus, mas seus seguidores que impediam o avanço.
Não tenha esperanças novamente, irmão. Os humanos foram extintos com sua galáxia há milhões de anos, os coitados conseguiram destruir um sistema perfeito, aquele que chamavam de sistema solar. A estrela, claro, continua por lá, cada vez maior e mais quente. Paramos de visitar o planeta já faz algum tempo. Até nossas naves não aguentam mais um pouso naquele cemitério de fogo. Coletamos tudo o que pudemos, o resto aprendemos com a prisão.
Então por isso simulamos vocês como humanos, partindo dos dados coletados. Primeiramente para estudar a vida que tinham, e também porque vocês de alguma forma deixaram pessoas feridas neste mundo (nem sempre fisicamente), e ficaram presos num lugar onde o tempo é mais lento. Desde seu nascimento até a idade de sua morte natural, na sua época, cerca de setenta anos, aqui se passou um ou dois meses, baseado no tempo que vocês contam na Terra.
O motivo da prisão de vocês pode ser um em um milhão. A maior parte pula a parte dos estudos e parte direto para o comando de uma nave, causando acidentes. Outros simplesmente ainda não se livraram de sentimentos primatas, como raiva ou ciúmes. Mas em uma coisa nós evoluímos, nós somos dominados por ninguém mesmo que nós mesmos. Como vocês chamam na prisão, somos “anarquistas”. Sempre nos ajudamos sem pensar na troca. Com isso a harmonia predomina, o egoísmo se extingue e coisas como ganância não existem mais.
Agora, para sair daí, vocês devem “morrer”. O ser que disse que a morte é uma passagem está certo. É a passagem de volta para seu planeta de origem. Algumas vezes um irmão ou outro fica com trauma por alguns dias quando volta, mas é porque a consciência humana ainda se manifesta, mas acaba sendo extraída artificialmente se não sair naturalmente. Isso tudo mostra a este irmão como a vida aqui é muito boa, e o desencoraja de errar propositalmente novamente.
Se você, aí na prisão, estuda coisas do "espaço", vai gostar desta noticia: Buracos negros realmente são passagens. Mas com a tecnologia de vocês é uma passagem para o corpo original, ou seja, morte.
Os buracos são como um link entre os diferentes universos criados por nós, ou até por outra espécie. Como você não lembra, aí vai: vivemos em harmonia com muitas outras espécies, todas tem suas prisões, universos de estudo, de jogos para diversão (como seus videogames, porém com a consciência dentro do jogo) e diversas outras razões diferentes criados artificialmente.
Por exemplo, o buraco negro que fica próximo ao centro de seu sistema solar leva ao chamado "inferno", outros vão para o "paraíso", "umbral", "limbo" etc. Como eu já disse, nós adaptamos a cada cultura, e se a crença da pessoa é muito forte antes de sua passagem de volta, nós damos um gostinho de sua "vida-pós-morte" antes de trazermos ele de volta.
Agora sobre o fim de tudo, é incrível o que vocês descobriram com sua tecnologia limitada. A teoria desenvolvida por vocês do "fim do universo" está correta. Impressionante a precisão de vocês. Convertendo seus cálculos para os nossos, notamos que vocês acertaram precisamente a data que teremos que trocar as baterias da prisão. Quem a criou fez com que a "vida" em seu universo acabasse antes das baterias serem trocadas, para evitar perda de dados.
Só queria dizer mais uma coisa, que particularmente acho engraçado na sua versão humana. Irmão, "fantasmas" não existem. Lembra-se que eu disse que eu vigiava a arrumava coisas? Essa é uma delas. O sistema da prisão não é perfeito, às vezes hologramas são lançados aleatoriamente pelo seu universo, é muito comum, e não só na Terra.
Outras coisas como humanos voando, criando fogo pelas mãos, usando telecinese etc. são, na verdade, nós nos divertindo um pouco, já que não temos um universo para jogos, como nossos vizinhos. Para não bagunçar a prisão, tentamos ser sutis, mas às vezes escapa sem querer.
Faça o que quiser com esta carta, irmão. Em poucas gerações ela será esquecida, mesmo se toda a prisão souber dela.
Boa sorte daí pra frente, agora que você sabe a verdade de seu mundo. Mas aproveite a experiência antes de vir para nós novamente.
Vejo-te daqui a pouco, irmão, quando você acordar. Boa vida.