Distantes e Sozinhos

As coisas começaram a mudar a mais ou menos 600 anos. Acho que o nosso feito neste momento é uma consequência de quase tudo que a humanidade passou por estes seis séculos. Talvez eu deva contar um pouco do que nos trouxe até aqui mesmo que o universo todo saiba da história e mesmo que a vida ainda esteja limitada apenas a nós: seres humanos que saíram de um berço do qual muito longe agora estou, um berço que se chama Terra.

Em meados do século XXIII um de nossos potentes satélites começou a enviar fotos de um lugar irreconhecível. Normal seria se este satélite estivesse em um espaço interestelar, entretanto ele estava entre a Terra e Marte (O planeta vermelho estava começando a se transformar no Planeta-Cortiço; os humanos haviam enviado várias tropas e não muito tempo depois Marte estava repleto de pessoas que conseguiram alteram sua atmosfera através de bactérias geneticamente modificadas e começaram a cultivar a agricultura. Mas hoje em dia o nosso planeta vizinho não passa de uma favela poluída e degenerada.).

As fotos intrigaram os cientistas e engenheiros que então tentaram localizar o satélite sem sucesso algum. Parecia que o objeto estava a anos-luz da terra. No final das contas descobriram que o satélite realmente não estava em nosso sistema solar. As perguntas eram: como ele havia chegado até lá? E como as informações que recebíamos dele chegavam tão rápido na Terra?

Não demorou muito para ser descoberto que havia vários pontos em nosso universo que funcionavam como buracos de minhoca. Eram anomalias do espaço e tempo que tinham as mesmas características da espuma quântica – teoria que explica que uma partícula pode alterar uma outra mesmo que ela esteja no outro lado do universo. Resumindo: estas anomalias descobertas eram portais que podiam levar qualquer coisa para pontos distantes instantaneamente. A principal semelhança com a espuma quântica é que não havia uma ligação explícita entre os espaços que mesmo estando a milhões de anos-luz um do outro, estavam ligados, assim como não há uma ligação explícita entre as partículas na espuma quântica.

Essa descoberta mudaria para sempre o rumos do conhecimento e iria aumentar a nossa percepção e a solidez da existência das coisas. Várias sondas foram enviadas portal à dentro com o intuito de mapear toda aquela nova localidade. Logo foi descoberto o motivo para estar eu e mais 12 tripulantes dentro desta nave.

Um pulsar.

Mas a descoberta deste pulsar foi há muito tempo atrás. Séculos se passaram para que o homem tivesse tecnologia o suficiente para enviar uma missão até ele. Não diretamente até ele, mas até suas proximidades para que assim chegássemos até os planetas que faziam órbitas em sua volta.

Nossa nave tinha uma força extremamente grande, seus propulsores evitavam que fôssemos puxados em direção ao pulsar, pois sua gravidade era centena de milhões de vezes maior que a da Terra, e à medida que nos aproximávamos, mais energia da nave era gasta. O pulsar não brilhava muito, não como antes, quando era uma estrela viva e ativa. Na verdade estávamos envoltos quase que na mais repleta escuridão.

Em algumas semanas iríamos chegar a Aph 126443-15365: primeiro planeta em órbita de um pulsar em que pousaríamos. Nenhum de nós naquela nave conseguia sorrir com esta ideia.

Era apenas mais um mundo vazio e frio que vaga errante neste universo depressivo e solitário.