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- Mãe, onde está meu pai?
Apanhada de surpresa, Rebecca pousou a xícara de café sobre o pires antes de responder. A menina a encarava muito séria do outro lado da mesa da cozinha.
- Por quê essa pergunta agora, Amanda? Nós já não conversamos sobre isso?
Amanda mordeu o lábio inferior.
- Eu ouvi uma conversa... na escola...
Rebecca apoiou os antebraços na mesa e sustentou o olhar da filha.
- Uma conversa de quem, Amanda? Já lhe disse para não dar ouvidos à fofocas!
- Mãe, eram duas professoras. Não me viram na biblioteca, eu estava atrás de uma estante, e as ouvi falando que...
Rebecca já imaginava o que iria ouvir, mas precisava confirmar:
- Sim, Amanda?
- Que o meu pai... o meu pai foi preso... por ser um juvenalista.
Rebecca sentiu o desânimo abater-se sobre sua cabeça. Aquela maldita história de novo! Mas não podia demonstrar isso para a filha, só iria tornar as coisas ainda piores.
- Amanda, isso é uma mentira. O seu pai não está preso...
Reformulou rapidamente a frase:
- Isto é, que eu saiba! E mesmo se estiver, não é por ser um juvenalista. Seu pai trabalhava para o governo, era um pesquisador importante.
- Mas ele pode estar preso?
Rebecca sentiu que não poderia continuar por muito tempo com aquela conversa, ou iria explodir. As palavras saíram rápidas de sua boca, num tom veemente:
- Amanda, seu pai está vivo, em algum lugar! Tenho quase certeza disso. Eu SINTO isso!
E respirou fundo antes de concluir:
- Mas ele não pode comunicar-se conosco. Pense nisso como uma espécie de prisão - mas não porque ele foi condenado por juvenalismo!
Com uma expressão menos tensa, Amanda aguardou que a mãe tomasse um gole de café e fez uma observação:
- Sabe, mãe, eu não deveria dizer isso, mas quase prefiro ouvir dizer que o meu pai está preso por ser um juvenalista.
Rebecca estendeu o braço sobre a mesa e pegou na mão da filha. Sentiu-a fria e apertou-a suavemente.
- Era pior antes, não era, Amanda?
- Sim, mamãe.
E abaixando a cabeça, num sussurro quase inaudível:
- Era muito pior quando diziam que ele havia lhe deixado por outra mulher.
[19-01-2014]