A TRAMA

A TRAMA

Miguel Carqueija & Maria Santino

Capítulo I- O Treinamento

As irmãs Ginger e Myrna completavam com louvor seu primeiro dia de treinamento no setor IV, dar cabo em um Mecanix * não era tarefa difícil, visto que tal artefato era usado em treinamento nível
intermediário. No entanto, não havia registros ainda de garotas de 15
e 17 anos conseguindo tal proeza e dessa forma, as irmãs foram vistas
como prodígios.
Não muito longe, (avaliando a utilização da velocidade equiparada à da luz, algo tido como absurdo até o século XXI), os pais das jovens sentavam à mesa para o jantar. O racionamento de recursos era uma forte preocupação, portanto o uso de similares de proteínas era consumido pelos habitantes do planeta Koop II, há algum tempo. As meninas faziam falta ao casal que tentava suprir a ausência com os
robotrix (similares a robôs), mas estes nunca iriam ocupar tal espaço.
Ambos sabiam que haviam feito o certo em mandá-las para o treinamento de cadetes de segurança interestelar, pois o minúsculo planeta Koop II estava fadado a sumir no espaço assim como o primeiro, visto que as explosões solares eram frequentes naquele sistema.
O pai, que sempre estivera ligado à astronáutica, convivia melhor com a ausência, pois estava mais acostumado com aquela rotina de viagens e missões, no entanto, Helena, a mãe, jamais havia se afastado das filhas e por isso, esta mostrava maior insatisfação com a sua falta.
A ruiva Ginger já estava deitava sobre a plataforma com seus fones para receber lições durante o sono. Logo abaixo a loira Myrna
observava as lições por mensagem holográfica. Em poucos minutos ambas jaziam adormecidas, cientes do que enfrentariam no dia seguinte.

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O Ministério de Relações Interestelares ainda tinha sede no planeta chamado Terra. Algo que não era bem visto por todas as raças existentes, por diversos fatores: clima, localização, recursos naturais... O general Frazão Morthimer ascendeu ao cargo rápido e agora comandava com mãos de ferro o setor de segurança. Ele gostava muito da forma de julgamento e punição dada aos alienígenas que desintegrava aqueles acusados de traição, mas em se tratando dos humanos, os trâmites ainda abriam lacunas diversas e quando havia uma condenação, sentenças arcaicas como fuzilamento ainda eram usadas. No entanto, já havia memorandos em julgamento e não demoraria muito para o ministério ser governado por Frazão ao seu modo. Para tanto, mantinha uma equipe secreta de guardiãs para os diversos assuntos e interesses que possuía.

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As irmãs Foster, foram acordadas pelo soar da sirene as horas terrenas das cinco da manhã e após um breve desjejum, já se dirigiam para um novo desafio em nível elevado, (algo que fora votado pelos superiores e ganhara por uma diferença de um voto apenas). A permissão de pessoas tão jovens era algo novo e arriscado naquele setor.
Ginger era criteriosa, seguia sempre as regras impostas enquanto que Myrna optava pelo improviso, gostava de surpreender e não dispensava o combate corpo a corpo. Treinamentos das artes de combate e defesa pessoal foram uma constante em suas vidas desde muito cedo, visto que o pai, um ex-piloto da astronáutica, conhecia bem os benefícios e proveitos possíveis.
O robô de mais de dois metros de altura ainda estava desligado
quando as garotas foram postas no setor de combate. Ginger segurava a leve pistola de plasma vestida em seu uniforme à prova de fogo. O
capacete era desconfortável, mas a segurança era prioridade. Myrna,
sempre ousada deixava a pistola no coldre e fingia não se importar se
o capacete não estava ajustado da maneira adequada.
- Myrna! Myrna! Olha esse capacete! Logo começará o treinamento, segure a pistola! Myrna?
Ginger chamava a irmã incessantemente, do outro quadrante ao passo que esta fingia não está ouvindo. Logo as luzes foram apagadas, e ainda que a ruivinha fosse mais jovem que Myrna a preocupação com sua irmã mais velha acabara por comprometer sua atenção na atividade. Ao longe se ouviam os passos mecânicos do robô, e os primeiros tiros foram escutados.
- Atacar e se esconder! Atacar e se esconder! São as regras de
combate entre humanos e máquinas.
A ruiva repetia para si baixinho, tentando não pensar na irmã. Pelo canto do olho Ginger pôde ver Myrna correr rapidamente e rolar por sobre um balcão inox não muito longe. O movimento fora bem claro e a menina observava estarrecida a cascata loira da irmã dançar no ímpeto do movimento, o que a fez entrar em desespero ao perceber que a irmã havia retirado o capacete.
- Myrna! O que você pensa que está fazendo? O capacet... Sem que a jovem percebesse o monstro de ferro já investia contra ela.
Em um movimento rápido a ruiva rolou para o lado e atirou. A preocupação com a irmã mais velha não lhe deixava concentrar-se no ato e ela errava o tiro sendo lançada há alguns metros adiante em seguida, por mais que o capacete estivesse em sua cabeça, Ginger sentiu muita dor quando seu corpo tocou o solo. Mais um tiro errado. O robô andava lentamente a menina não conseguia se por em pé.
De ímpeto Myrna , avançou sobre o autômato, e com as mãos nuas, puxou rápida e de maneira precisa os fios que estavam na parte detrás dele. O ser de aço rapidamente deu uma rajada de balas antes de cair para trás.
As luzes foram acesas, Ginger mal acreditava no que havia presenciado. Tudo fora rápido demais. A menina colocou-se de pé e escutou um gemido abafado da irmã. Logo, a visualizou com a perna torcida embaixo daquele monte de ferro. A irmã mais jovem, assustada, tentava prestar auxilio, o ferro do braço do robô feria a perna de Myrna sobre o solo e o sangue escorria,formando uma grande poça no chão. Em desespero, Ginger pediu auxilio.

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Os dias de treinamento para jovens cadetes continuava para Ginger Foster, que estagnara no nível intermediário após o incidente, e por mais que ela perguntasse e pedisse para ver a irmã seus superiores negavam suas súplicas alegando que a mesma estava bem e não corria risco de perder a vida.
Quando as duas se reencontraram, tempos depois,Ginger percebeu que havia algo de diferente com a irmã e com aquele procedimento feito. Foram muitos dias de reclusão no hospital por um incidente aparentemente não tão grave. Mas ainda assim, as duas irmãs deram um forte e terno abraço.
- O que houve a você? O que aconteceu?
A irmã aflita perguntava à outra, e a resposta lhe causou maior espanto e desconfiança.
- Fui aceita para uma missão interestelar contra os invasores que desejam penetrar em nossa fortaleza.
A menina ruiva ficou pasma. Como alguém tão jovem como a irmã fora aceito em uma missão com aquele nível de complexidade? Mas, calada, Ginger permaneceu, sentindo as lágrimas chegarem na certeza do perigo iminente devido aos modos impetuosos e pouco prudentes da irmã aliado à saudade que sentiria com sua ausência.
- Fique tranquila, ficarei bem e, soube que o capitão da missão, o
competente Capitão Herbert chefiará tudo, você sabe, papai o conhecia
e falava muito bem dele.
As duas terminam o abraço. Myrna devia seguir para o setor oito
imediatamente. Enquanto a irmã mais jovem a observava se afastando,
sentia um aperto no peito, devido certeza de que aquela não era a irmã que cresceu junto a ela e possivelmente aquela seria a última vez que
ambas se viam.
Próximo, Ginger observava também a chegada de mais jovens para o treinamento de cadetes, enquanto a amiga de lindos traços orientais de nome Sakura, lhe questionava retirando-a do estado absorto em que se encontrava.
- O que foi? Não temos um treinamento agora?

Caoítulo II - O sacrifício

Horas depois, próximo a grande fortaleza...

- A carga explosiva desta nave será bastante para destruir a
fortaleza orbital dos invasores – Dizia o Capitão Herbert – Como
expliquei, a Argos penetrará numa dobra e emergirá no espaço normal a pouca distancia da fortaleza. Já está tudo programado. Entretanto, um de nós deve permanecer a bordo e aceitar o sacrifício, enquanto os
demais se afastarão nas naves auxiliares. No último momento é
necessário que haja uma pessoa a bordo para direcionar a espaçonave e evitar qualquer desvio da rota de colisão.
Diante dos olhares tensos, pigarreou e prosseguiu:
- Dada a natureza do assunto, eu busco um voluntário. Alguém se oferece para morrer? Se não surgir ninguém, procederei a um sorteio.
Para espanto geral, a jovem que ainda não havia completado 18
anos, deu um passo à frente – única pessoa a fazê-lo. Até o capitão
ficou espantado:
- Você, Myrna? Mas você é a pessoa mais jovem a bordo, com uma vida inteira pela frente...
- Morre-se por uma boa causa em qualquer idade, Comandante. Não me importo. Não há ninguém me esperando – mentiu a jovem.
Os colegas ficaram chocados, mas a decisão da garota foi respeitada.
Ela se despediu de todos, com beijos e lágrimas, e permaneceu a bordo.
Foram todos embora. Myrna Foster dirigiu-se para o casulo de estase, onde se manteria durante a passagem pela dobra.
Mas antes tratou de desativar a programação dos explosivos. Como havia sido instruída.
Havia roubado uma excelente nave de combate e deixara a fortaleza orbital a mercê dos invasores para culpar o líder da missão conforme os planos de Frazão Morthimer. A caminho do grande planeta Zayon III ela rumava esboçando um lindo sorriso lembrando-se de todas as promessas que lhe haviam sido feitas no setor secreto cuja existência poucos sabiam.



Capitulo III - O Congresso

Dias após o incidente, o ministério de segurança interestelar mostrava-se perplexo frente ao fracasso da missão comandada pelo experiente Herbert Dorneles. Frazão Morthimer já havia assinado a petição para o fuzilamento daquele capitão e tentava convencer a todos que a integridade da fortaleza interestelar corria um grande perigo, sem mostrar nenhum remorso já que tal incidente fora elaborado por ele mesmo.
O Congresso de Aliança entre raças estava próximo de ocorrer e dentre outros assuntos, haveria uma pauta para falar a cerca da segurança. Vitorioso por manter as aparências de imparcial e guardião da lei e ordem, o general Frazão dirigia-se para o hangar de embarque enquanto recebia uma mensagem visual através do microchip secreto instalado em seus óculos. Com um sorriso discreto, ele via um resumo dos feitos da jovem Myrna e sua chegada em segurança ao planeta distante e escondido. Após a mensagem o general ordenou ao seu assistente, quando este veio ao seu encontro:
- Professor Gustav Olati, Mande um memorando, reúna “O grupo”, teremos uma audiência imediatamente em Zayon III.

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Ginger e Sakura observavam uma confusão na fila do refeitório para cadetes, devido a um grupo de garotas derrubarem propositalmente a bandeja de uma jovem muito alta. Um pouco distantes sentadas em uma mesa elas dialogavam olhando a cena.
- Eu sei quem ela é – Disse a jovem Sakura enquanto tomava seu chá de ervas.
- Sim, eu também sei, o nome dela é Iolanda Rodrigues, ela vem da América do Sul, não é? – Dizia Ginger sem retirar o canudo da boca e voltando a sugar sua água com gelo ao término da frase. As duas olharam para a jovem que tinha modos desengonçados, Sakura a chamou para junto delas enquanto dizia rindo:
- Há Há! Nem todos vêm de um planeta distante cheio de explosões solares, minha cara.
Iolanda se aproximou, Sakura lhe puxou uma cadeira e as três conversaram amigavelmente.

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Horas depois Frazão Morthimer e seu atarracado assistente Gustav Olati, adentravam em uma sala onde diversas pessoas o esperavam, no distante planeta de céu acobreado, Zayon III . Ele convidou todos a sentar e buscou com os olhos a jovem prodígio que roubara uma nave Argos e sabotara a missão do capitão Herbert Dorneles como ele havia ordenado. Quando enfim seus olhos encontraram os de Myrna, Frazão deu um largo sorriso e bradou:
- Parabéns, minha cara! Assim que pus os olhos em você, soube que se destacaria dos demais!
Tais palavras não foram bem aceitas por todos, e causaram certo desconforto, no entanto Myrna sentia-se recompensada. Logo, Frazão voltou a falar agora direcionando a todos:
-Preparem-se! Nosso dia está chegando, brevemente atacaremos e roubaremos informações de um grupo de cientistas que partirá em uma missão científica no grande Tau Ceti V. – O general se pôs de pé e perguntou baixinho ao seu assistente – As portas estão fechadas? – Após a afirmativa dada ele prosseguiu enchendo os pulmões: - Vamos fazer uma cilada e culpar os alienígenas com suas ridículas naves combs, e logo, cada um de vocês terá seu “quinhão”. Juntos tomaremos o universo! E então? Quem deseja ser servo no paraíso quando se pode governar o inferno? **
A oratória surtia efeito, todos com certo hipnotismo, batiam palmas para Morthimer que, excitado, recebia mais uma mensagem via chip.

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As conversas desencontradas deixavam Ginger apreensiva, havia rumores de que a missão comandada pelo capitão Herbert fracassara e devido a noticias ainda não terem sido divulgadas e todo o corre-corre do congresso que se realizaria, a garota não conseguia uma resposta concreta sobre o destino de sua irmã.
- Meninas! Você já sabem? Faremos a segurança do congresso que irá se realizar. – Sakura exclamava dando pulinhos próxima a Ginger e Iolanda, que estudavam no quarto línguas alienígenas, mas a ruiva não conseguia prestar atenção em nada.
- O que? Isso é oficial? – Iolanda fechou o lúmen do transmissor holográfico que usavam para estudar e se aproximou da jovem oriental.
- Ainda não, mas soube a “boca pequena”... Boatos – As moças riram alegres, satisfeitas em servir em uma causa grande. Mas, assim que puseram os olhos na ruiva que segurava o queixo pensativa, ficaram preocupadas e foram dar-lhe algum alento.
- Calma não fique assim, tenho certeza que sua irmã está bem. – Sakura falava enquanto retirava a franja de Ginger, que insistia em ficar sobre os olhos.
- Você não disse que o capitão que comandava tudo era experiente? Então, confia. Vamos voltar a estudar? Como se diz BEM-VINDO no idioma vesuviano? - Iolanda tentava animar a garota que se enrolava toda com as pronuncias daquelas palavras.

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Em seu transporte particular, Frazão exclamava tendo seu assistente ao lado:
- Quantos microchips ainda vou perder com esses fantoches? E quanto ao vírus e antídoto? Alguma resposta?
- Eu já disse, é tudo relativo, relativo... Relativo entendeu? – Dizia o professor Olati com certo entorpecimento.
- Hunf! Acho que não preciso lembrá-lo do que acontecerá a suas pesquisas secretas com sua esposinha, caso não me dê resultados concretos. Talvez deva implantar um chip em você também como é preciso fazer com alguns desses cobaias que insistem em manter a mente impenetrável, então possivelmente você possa me dar resultados e não essas justificativas banais! O que acha?
Olati voltara toda sua atenção para Frazão após ouvir aquelas palavras e receber o dedo ameaçador do general em sua fronte. Logo, falou rápido após um longo pigarro.
- A lobotomia em alguns é permanente como você já comprovou, e para alguns certos flashs de memória podem vir à tona, mas garanto que não haverá danos a seus planos, esses chips de comando implantado em alguns é tecnologia de ponta e, suas palavras são recebidas como verdades absolutas, não há porque se preocupar. Quanto ao vírus? Já iniciamos os testes do antídoto.
Frazão respirava satisfeito ao ouvir aquelas palavras crente que seus planos estavam próximos de serem concretizados, de tudo o que mais queria, era o poder bélico que os alienígenas possuíam. Pensativo ele afagava seu bigode cinza. Sentado ao lado do general, naquele transporte, o professor Olati lembrava de sua doce Constancia, a esposa amada que morrera a nove anos vítima de câncer e que ele vinha tentando trazer de volta à vida realizando experiências sigilosas recebendo cobertura de Frazão em troca de ajudá-lo em seu planos diabólicos de domínio e opressão.

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Dias depois o grande congresso dava inicio, e uma jovem morena de olhos verdes discursava acerca de projetos de purificadores e instalação das usinas de água. Depois, a mesma jovem que tinha um cargo importante (delegada das Nações Unidas), falava sobre negociações com o império dos alienígenas causando certo furor ao lançar propostas de livre trânsito entre os planetas.
Frazão não a via com bons olhos, mas de certa forma, tal idéia abriria espaço para seus planos e portanto, também a apoiou. No fim um tratado fora assinado por ambas as partes. Logo humanos e alienígenas tinham livre acesso entre os planetas, desde que, suas intenções de viagens fossem estritamente expressas.
Muito fora ainda discutido, Frazão ganhara status de guardião-mor da segurança interestelar e o incidente com o Capitão Herbert fora visto como alta traição, o que culminou em fuzilamento e mais poder para Frazão. Que agora teria de dar pouquíssimas explicações sobre suas ordens, bem como ser contratado acerca de qualquer missão espacial, sob pretexto de dar assistência caso necessário.
Muitos viam Frazão como símbolo de integridade e justiça, outros o tinham como tirano, exigente... Agora ele se preparava para discursar.

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Vestidas com seus uniformes e artefatos que levavam o símbolo do setor de segurança as jovens cadetes Ginger, Iolanda, Sakura e muitos outros jovens prestavam serviço às raças inteligentes que se encontravam naquele congresso. As moças mantinham-se próximas à porta para escutar o pronunciamento do General Frazão que certamente falaria sobre o incidente com a missão chefiada por Herbert Dorneles e daria alguma resposta a Ginger que ainda se mantinha apreensiva.
- É agora! Ele vai falar! Ele vai falar! - A ruiva, que ficava muito bem naquele uniforme azul, exclamava para as outras amigas quando alguém se dirigiu a ela:
- Olá minha querida, será que você poderia me indicar onde fica o setor de astronáutica? Desejo rever um amigo.
A jovem oriental foi quem tentou dar alguma resposta àquela pergunta vinda da moça que, a pouco, discursava sobre igualdade de raças. Sem saber como fazê-lo, simplesmente disse em tom seco:
- Desculpe senhora, essa informação é sigilosa.
A morena fez uma expressão de magoada e insistiu fazendo traquejos com as mãos e cabeça:
- Como? Não estou querendo declarar nenhuma guerra, só quero rever um amigo, um piloto de nome Alipio Pollice, a propósito me chamo Tatiana, e você como bem vejo em seu uniforme é a senhorita, Sakura Masayuki. Que lindinha!
As três moças entreolharam-se, de certa forma era engraçada a maneira que aquela mulher falava. Doce, apelativa, meio infantil... Mas logo algo chamou a atenção de todos, Ginger que não tirava os olhos de Frazão exclamou alto.
- Não é possível! Myrna! Não é possível! Não! Não!
A moça já ensaiava sair correndo quando foi impedida por Tatiana e as outras amigas.
- Calma querida, o que foi? – Era a morena de voz doce quem perguntava.
- Minha irmã! Minha irmã estava na missão... A missão que fracassou e...
Ginger tinha a voz embargada pelas lágrimas e logo foi conduzida a um lugar diferente, o transporte que pertencia à delegada das nações unidas Tatiana.

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Capitulo Final- A cilada, o ataque dos combs

- Professor Olati! Traga-me os nomes dos escolhidos para a missão em Tau Cet V.
Olati atendia imediatamente aquela solicitação, enquanto Frazão Morthimer observava em uma pequena tela a movimentação de seu grupo secreto de fantoches que faria a cilada para aquela equipe quando estes retornassem da missão.
- Sachiro Tsuburaya, bióloga, Hiroshi Hirata, astronavegador, Gene Burbank Mills, co-piloto, Peter Blavatsky, intérprete, Telmo Resnais, comandante e Alípio Pollice, piloto. Hum... Boa equipe. Não planejo que haja sobreviventes, a não ser a bióloga e seus dados é claro.

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A viagem fora calma, os dados colhidos mostravam que a hipótese dos biólogos estava certa e tal revelação causaria furor nos estudiosos da liga interestelar, bem como a população em geral, Tau Cet V possuía um novo elemento químico que nas mãos certas poderia servir de fonte alternativa de energia, mas como a maioria dos elementos quimicos, nas mãos erradas, seria uma arma em potencial.
Morthimer queria por as mãos naqueles dados para, junto de seu fiel “escudeiro” ( Olati), dar seguimento em seus planos funestos.
Dos tripulantes, Millis, Resnais e Alipio eram os mais experientes em viagens espaciais e riam dos reclames de seus companheiros dos possíveis enjôos que tinham ainda sob efeito da pastilha antiperistal.
- Calma, agora basta seguirmos em retorno e chegaremos à grande sentinela onde cada um de vocês partirá para o seu setor. – Dizia o comandante Telmo Resnais.
No entanto, assim que estavam a uma distancia relativa de Tau Cet V, foram atacados por naves alienígenas, pequeninas que recebiam o nome de combs.
- Que trepidação é essa, piloto Pollice? – Perguntava o comandante.
- Estamos sendo atacados, senhor.
O pânico se instalou na bióloga, que se dirigiu para o banheiro ficando lá, de porta trancada. O piloto Alipio Pollice, tentava manobrar a nave enquanto dizia assustado:
- Pensei que os ânimos entre nossas raças estivessem amainados.
- Eu também senhor, mas parece que pensamos errados. – Enquanto o co-piloto falava o comandante certificava-se da perda de um dos motores.
- Alipio, estamos cercados! Pare! E vamos ver o que eles desejam.
A nave foi parada (tanto como se pode fazer no espaço, onde tudo tem de seguir alguma órbita), e uma plataforma coberta para evitar o vácuo foi inserida. Logo, uma bomba de gás fora lançada dentro da nave e todos caíram adormecidos. Em seguida Myrna munida de sua arma de plasma e uma máscara antigás adentrou seguida de outros do grupo secreto de Frazão a fim de roubar as informações importantes colhidas em Tau Cet V. A bióloga Sachiro Tsuburaya, que estava no banheiro ao perceber a relativa calmaria saiu e se dirigiu à frente da nave quando foi interpelada por alguém do grupo, que disse:
- Deve ser essa a amarela que procuramos, vamos levá-la! – Um capuz negro foi colocado na cabeça da bióloga que em último ato disse assustada:
- Mas vocês são humanos, humanos dirigindo combs e...
Myrna deu uma forte coronhada na cientista e quando ia por fogo em toda a nave como lhe fora indicada, todos pararam ao som da voz de Frazão que lhes falava via chip.
- Não! Ejetem o piloto em uma pequena cabina e depois explodam a nave, assim poderei acusá-lo de traição e o relato dele chamará atenção à ameaça alienígena. Façam o que mando agora! É uma ordem!

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Quando Ginger despertou após ter sido sedada por Tatiana, sentia-se tonta, a morena de olhos verdes a observava e dizia após certificar que a outra estava desperta.
- Oi querida. Como está? Você falou muito enquanto dormia, de seus pais naquele planeta quente, de como eram bonitas as explosões solares e os males que faziam, de sua irmã e...
-Myrna! – A menina exclamou assustada, já se pondo de pé.
- Calma! Vamos conversar! Talvez eu possa te ajudar se você confiar em mim. – Ginger a observava, poderia perder o cargo que ocupava por ter se afastado daquela forma, mas a irmã era mais importante para ela.
- Eu farei o que você quiser se me ajudar a encontrar minha irmã, senhora.
- Esqueça o “senhora”, me chame de Tati, querida, veja! – ela apontou uma bandeja repleta de alimentos e prosseguiu – Coma alguma coisa e conte-me tudo.

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— Você não deve continuar confiando nesse homem — explicou Tatiana à jovem soldada. — E está na hora certa para se afastar. Como cadete ainda não prestou juramento e não pode ser acusada de traição.
— Mas o que eu vou fazer da minha vida se...
— Vamos com calma. Eu tenho as minhas fontes de informação e, enquanto você estava sedada, fiquei sabendo o que realmente aconteceu com Alipio Pollice. Você não chegou a conhecê-lo?
— Não, Tatiana. Conheci pouca gente ainda...
Tati contou-lhe em resumo o que acontecera com a nave destruída e como se estava preparando contra Alípio uma acusação de alta traição que resultaria no seu fuzilamento.
— Desculpe perguntar, mas por que você se preocupa tanto por esse homem?
— Você saberá. Aquelas suas amiguinhas... preciso aliciá-las também. Antes que completem a lavagem cerebral nelas, como fizeram com Myrna sem dúvida.
— Eu preciso recuperar a minha irmã...
— Acho que vai ser um pouco difícil. Vamos ter que estudar como fazer. Eu sei que você é uma comanda bem treinada, mas diga, está disposta a me servir? Não a usarei para crueldades de qualquer espécie.
— O que me resta... você sempre trata tão bem as pessoas?
— Mais do que você imagina, se me forem fiéis.
— Mas sobre Frazão... se esse bandido fez isso com Myrna... e se planeja realmente dominar a galáxia... o que você poderá contra ele?
— Não me subestime, querida. Frazão pode ser um ditador mas ainda permanece na área militar, não estendeu seu domínio sobre a sociedade civil. E eu tenho os meus poderes também, e amizades muito valiosas no governo. Enquanto você dormia já providenciei um habeas-corpus para libertar Alípio e assim que chegarmos ao hospital onde ele se encontra, se tudo der certo vamos levá-lo embora.
— Levá-lo para onde?
— Ué, para a minha cobertura em Nova York, que pergunta ingênua! Só me preocupa o fato dele estar em estado de coma, que poderá levar meses para reverter. Mas estou disposta a esperar.
Havia outras pessoas, é claro, naquela nave. Todo mundo parecia atender Tatiana com grande deferência. O estranho poder daquela jovem original começava a se tornar claro para Ginger.
— Por favor... será que você podia mandar sequestrar Iolanda e Sakura, como fez comigo? Sabe como é, eu já me acostumei à companhia delas e quero tirá-las da sinuca em que se meteram sem saber.
— Faremos isso oportunamente. Você mesma pode servir de isca, elas confiam em você, evidentemente. Diga, você sabe dar bons nós?
— Ah, sim... – e Ginger sorriu, alcançando o pensamento da outra. — Aprendi isso quando era bandeirante.
— Esse tipo de habilidade poderá ser muito útil daqui para a frente. Inclusive para ajudar pessoas que talvez não queiram ser ajudadas por não entenderem a situação.
— Está bem, Tati. Vou fazer o possível para ajudar, agora que já sei o mal que está sendo feito.
— Agora vou te apresentar aos meus amigos aqui da nave. Vá se preparando psicologicamente, pois nós vamos começar a salvar o universo!



Nota: esta narrativa é uma prequela do conto "Resgate" publicado nesta escrivaninha em 10 de janeiro e que abre o universo da Diáspora, com a expansão da humanidade pelo espaço e o contato com outras raças, surgindo o conflito entre pacifistas e belicistas.
* homenagem á banda Megadeth
* *paráfrase da frase "É melhor reinar no Inferno que servir no Céu" (John Milton, "O Paraíso Perdido")
imagem do google
Miguel Carqueija e Maria Santino
Enviado por Miguel Carqueija em 14/01/2014
Reeditado em 18/01/2014
Código do texto: T4648793
Classificação de conteúdo: seguro
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