Partida
Era manhã de domingo, acordei indisposto como sempre. Lá de longe eu ouvia os latidos do cachorro do vizinho e já tinha me adaptado a aquele despertador. Só era falta de costume a ausência da Ane, até aquele momento não me conformava com a perda dela. Não me encaixava na cabeça ou no meu coração porque ela deveria ir. Será a vontade de Deus? Por que ele escolheria me causar tanta dor?
Naquela manhã nem o silêncio me trazia algum sossego. Casa vazia. Me incomodava saber que a partir daquele dia eu não ouviria o som do rádio ao acordar, o som das panelas da cozinha, o som da voz dela chamando meu nome. Desespero. Não conseguia levantar da cama e nem abrir os olhos. Minha única função no momento era pensar na minha dor. Pensar em como seria minha vida desde então. Pensar no quanto Ane me faria falta. Seu jeito, seus cabelos avermelhado, seu rosto rosado sorrindo para mim, o carinho que me cuidava... Faria muita falta.
Não consegui me conter e dei um pulo da cama, sai daquela escuridão dos meus pensamentos e decidi ver a claridade do dia. Hospital. Hospital? Eu estava sonhando? Como vim parar neste lugar? Abismado fiquei sentado na cama reparando o pequeno quarto branco. E de repente, ao meu lado, ouvi-la chorar. Ane? Ela me olhava triste, com os olhos inchados:
– Meu amor... – Disse gaguejando.
– Sim, Ane. Estou aqui.
– Volta pra mim, meu amor. – Pediu-me.
– Eu estou aqui. – Falei sem entender.
– Por que isso tinha que acontecer? Por quê?! – Berrou.
– O que houve Ane? O que está acontecendo?
A enfermeira se aproximava, ordenou que ela saísse do quarto. Ela abaixou a cabeça, e antes de ir me deu um último olhar triste:
– Desculpe amor. Queria ao menos me despedir.
– Ane? Não vá. Espere! Enfermeira peça para ela voltar, preciso falar com ela, preciso saber o que está acontecendo aqui! – Exclamei.
Ninguém me ouviu.
Não conseguia mais falar, me mexer, me controlar! Ane fora embora, e fiquei sem entender.
Repentinamente uma luz escura invadia o lugar, meus olhos se tornaram escuridão e quando tentei pedir socorro, de repente, evaporei. E assim eu fui.