Chá no Pleistoceno

O Avô introduziu seus visitantes na sala de estar do chalé. Uma das janelas estava voltada para a floresta próxima, onde uma barreira escura de carvalhos centenários erguiam seus ramos nodosos para o céu azul da tarde. Os Narts olhavam ao redor, tentando entender o que significavam os elementos da decoração do ambiente. O Avô apontou para uma das paredes onde via-se uma sequência de fotografias em preto e branco, emolduradas:

- Fotografias. Representações bidimensionais de uma cena em três dimensões.

- Entendo - disse o oficial de ciências. - Mas o que representam?

- Este sou eu - disse o Avô, apontando para uma foto onde aparecia vestido a caráter como gaiteiro das Guardas Escocesas. - Dublin, 1891. A foto do meio é da minha filha e meu neto. Na última, estamos os três em Londres, 1940.

- Dublin, Londres, são lugares neste planeta? - Questionou o oficial de ciências.

- É... bom, serão. Num futuro distante.

- Você vem do futuro? - Perguntou a técnica Nart, surpresa.

- Sim e não - respondeu o Avô. - Mas, aceitam um chá? São quase cinco horas...

- Chá?

O Avô apontou para uma mesinha redonda, coberta com uma toalha de linho, onde fora colocado um serviço de chá de prata, bandejas de salgadinhos, doces e um tradicional bolo inglês.

- Chá. É... vai ser... uma tradicional refeição britânica.

Os Narts entreolharam-se intrigados.

- Informação demais - suspirou o Avô. - Sentem-se, melhor mostrar.

Os Narts sentaram-se de frente para a janela voltada para a floresta, e o Avô ocupou a cadeira oposta. Em seguida, ele pegou um bule e encheu as xícaras dos visitantes e a sua com chá preto.

- Zoé fez uma varredura completa em vocês e concluiu que o chá e o açúcar não lhes causarão qualquer problema de saúde. O mesmo não se pode dizer do leite, portanto não vou lhes oferecer...

Pingou uma gota de leite na própria xícara, levou-a aos lábios e sorveu um grande gole.

- Quer que bebamos isso? - Disse o oficial de ciências, apontando para a xícara.

- Não os trouxe para cá para envenená-los - sorriu o Avô.

- Mas quem é Zoé? - Continuou o oficial de ciências.

- É o computador. Não é senciente, mas engana bem - completou, com uma piscadela marota.

- De onde você vem, os computadores são sencientes? - Perguntou a técnica.

- De onde eu venho... hummmm... - ponderou o Avô. - Digamos assim, um dia eles se tornarão sencientes...

E tomou outro gole de chá.

[13-12-2013]