Ponto de Não Retorno

- Eu sou...

- Eu sei quem você é - retrucou a técnica Ivete, prancheta na mão. - A operadora do turno do dia.

- Então já sabe porque vim.

- Naturalmente. A equipe da Antecâmara te aguarda. Sabe como funcionam as coisas aqui?

- Em tese... é a primeira vez que venho.

- Vamos entrar. Eu te mostro - respondeu Ivete, virando-se e abrindo a porta atrás dela.

As duas mulheres saíram do corredor frio, iluminado por lâmpadas fluorescentes branco-azuladas e entraram numa pequena antessala onde havia uma escrivaninha com uma cadeira de rodízios e um banco comprido estofado. Uma foto do Demiurgo Tlaloc, com a toga da Academia, ornamentava a parede por trás da escrivaninha. Na parede oposta à entrada, havia uma outra porta com uma placa onde lia-se "ACESSO RESTRITO - SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO". Ivete abriu a porta e viram-se numa sala maior, que parecia o consultório de um clínico geral. Um biombo isolava o aposento de duas outras portas, uma na parede oposta à entrada, encimada pela placa de "VESTIÁRIO" e outra à direita, com uma placa onde lia-se "CÂMARA DE IMERSÃO".

- Você vai entrar no vestiário, - explicou Ivete - vai se despir e remover brincos, anéis, pulseiras etc. Há um armário com gavetas para guardar suas roupas, sapatos e pertences, e um cesto para a roupa de baixo. Quando estiver pronta, entre na sala da Câmara de Imersão. O restante da equipe está lá dentro.

- Vocês são quantas?

- Somos quatro. Eu, Olívia, Sônia, que é a chefe, e Regina, a enfermeira.

- Tá. Eu vou pro vestiário...

- Estarei na Câmara de Imersão - respondeu Ivete, entrando na sala adjacente.

Agora sozinha, a operadora sentiu um calafrio na boca do estômago. Será que estava fazendo a coisa certa? Depois, lembrou-se do choro convulsivo de Amanda e balançou afirmativamente a cabeça.

- Coragem! - Exclamou.

E abriu a porta do vestiário.

[30-11-2013]