FAZER O QUÊ, NÉ?

Diante de um ecrã que ocupava quase metade da extensão da Sala, o Comandante, irritado, manda chamar seu Imediato. Olhando para a tela, analisa os dados disponibilizados pelo computador-mestre. No seu posto de comando, visualizava, imagens e linhas tracejadas ligando, entre si, vários corpos cósmicos, inclusive a Terra. Precisava reunir a tripulação para difundir orientação de emergência vinda diretamente de Zardz.

Já fazia mais de um ano que a Estação Orbital enviara uma expedição ao planeta, com o objetivo de prospecção mineral. Apesar do tempo transcorrido, a missão não obtivera o sucesso desejado em razão do surgimento de dissensões entre os componentes das equipes que vieram do planeta Zardz,

Esse era um planeta da oitava esfera do Sistema de Virks, quinto sol do Universo Mondurdz, Área Theta do Quadrante Toltk, no Super Universo XG-480, situado a 250.000 anos-luz do Universo Central de Lornia.

O Comandante Xerrg tinha como missão, a prospecção de ouro monoatômico, mineral em rarefação em seu planeta, responsável pela filtragem dos raios ultra-violeta que já ameaçavam extinguir toda a vida sobre a superfície. As instalações e cidades subterrâneas, construídas como alternativa, também estavam em sério risco devido ao vertiginoso aumento da temperatura pelos raios solares.

Os levantamentos e as informações dadas pelos espectrômetros óptico-magnéticos davam conta de que esse mineral era disponível na Terra e que seria viável a exploração, extração e o envio para Zardz através de um processo avançadíssimo ao que os cientistas davam o nome de “transmigração molecular”.

Qualquer substância poderia ser remetida interplanetariamente pela ação de equipamentos atuados pela energia do campo magnético terrestre, provocando a desintegração na mina e o envio através da teleportação. Em Zardz, o inverso seria procedido e o ouro estaria disponível para utilização, na atmosfera, como obstáculo a certas frequências dos raios da estrela do sistema.

A Estação Orbital, teleportada através de um sistema semelhante, abrigava laboratórios e todos os recursos necessários à missão, bem como às requeridas pelos cinco mil componentes do efetivo.

Todos os estudos foram feitos com a devida antecedência e atendendo todas as exigências dos protocolos para esse tipo de missão, ainda não executada por nenhuma tripulação zardzana. Assim, quase todo o efetivo era composto por cientistas de capacidade comprovada, cada qual no âmbito de uma ciência relacionada com o projeto.

Apesar de todo o cuidado com os detalhes, os projetistas não atentaram para um tópico que poderia trazer sérias dificuldades ou, até mesmo, comprometer a missão e deixar Zardz entregue à própria sorte.

O trabalho na prospecção e mineração era por demais árduo para seres daquela linhagem, de compleição biológica completamente diferente daqueles que aqui encontraram. Tão logo chegaram depararam com alguns tipos de seres que, hoje, seriam os australopitecos, por eles, identificados como “criaturas simiescas”.

Além dessa espécie de primatas havia, também, uma outra que era formada por criaturas de tamanho extraordinário. Era o que se costuma chamar de “gigantes”. Deviam ser mantidos à distância, pois eram tidos como desajeitados, por demais vorazes e até mesmo, canibais. Todavia, de cérebro ínfimo, arredios e toscos. Deviam ser evitados pelos zardzanos.

Estabelecendo seus acampamentos em locais em que tais seres não eram habituais, trataram de implementar seu trabalho e dedicaram-se à lida da mineração.

Durante algum tempo, esse trabalho produziu os frutos programados porém, os membros da equipe, diretamente envolvidos com o trabalho “in loco”, todos cientistas de alto nível”, entenderam que sua compleição física não era compatível com o esforço que despendiam, diante da dureza nas minas.

Com essa inicial indisposição, alguns líderes passaram a fomentar uma dissidência que, com o tempo acabou por se transformar em revolta. Os membros da equipe, nas minas, não aceitavam mais o tipo de atuação e iniciaram as pressões sobre o comando, na Estação Orbital.

Percebendo as dificuldades que iria encontrar pela frente, o Comandante Xerrg acionou o knob azul, estabelecendo contato direto com o rei de seu planeta expondo-lhe a situação, ao mesmo tempo em que pedia instruções. Encerraria a missão retornando com o pessoal ou teria autorização para dar partida à “Alternativa Y2”?

O Rei Grozz, de imediato respondeu afirmativamente quanto ao plano seguinte, pois estava certo de que, se a Missão-Terra falhasse, toda a sua espécie estaria com os dias contados. Assim, determinou que toda a prioridade ficasse a cargo da “Engenharia-Genética”, com o projeto na pasta “Alternativa Y2” do computador de comando.

Dois dias após, na sala de “brieffing”, Xerrg, reunido com todos os cientistas e tripulantes envolvidos, transmitiu-lhes as novas orientações e os procedimentos a seguir, bem como sobre a responsabilidade que cabia a cada um. A vida do nosso planeta com toda a nossa espécie está em vossas mãos... Zardz depende dos senhores, os cientistas da Engenharia-Genética da nossa tripulação.

Atentem para os objetivos:

1 – Captura de espécimes do sexo feminino, dos primatas aborígenes para as experiências iniciais, observação e tabulação dos resultados. Aqui será examinado todo o aspecto biológico desses seres e estudo acurado do DNA.

2 – Seleção de membros masculinos da equipe para a extração de sêmen para obtenção de espermatozódes absolutamente sadios que serão introduzidos nas fêmeas primatas para inseminação e prenhez.

3 – Em primeira instância, os fetos serão estudados e observada a compatibilidade ou não dessa hibridização para verificação da predominância entre os DNAs.

4 – Ao longo dos ensaios, as possíveis anomalias deverão ser observadas e estudadas para posterior correção.

5 – Alguns machos da espécie também devem ter sêmen extraído para infiltração em fêmeas da nossa raça a fim de que possamos decidir sobre qual dos tipos deveremos produzir em série...

6 – Os senhores e senhoras terão acesso às publicações e manuais referentes a esse fundamental programa e todos, desde o Rei até ao mais novo habitante de Zardz estamos em vossas mãos! Boa Sorte!

Alguns anos mais tarde, o planeta Terra estava salvando a população de Zardz. Os trabalhos da Engenharia-Genética foram levados a cabo e produziram os efeitos que desejavam os líderes do planeta em risco de extinção.

Os geneticistas de Zardz conseguiram com a alta tecnologia e o conhecimento de que dispunham, criar uma raça híbrida, inteligente o suficiente para trabalhar nas minas, como dotada de resistência ao esforço e ao clima com suas intempéries. Já não mais tinham feições simiescas, pois tinham uma imagem e semelhança compatível com seus criadores.

Zardz foi salvo, a atmosfera voltou a ser compatível com a vida e os zardzanos abandonaram o planeta Terra, deixando alguns dos seus que preferiram ficar por aqui. Esses continuaram, agora, a estabelecer descendência com as fêmeas que, novamente manipuladas, já podiam ser matrizes, inseminadas por relações com os zardzanos remanescentes.

Como a inteligência na nova estirpe ainda não tinha como discernir e a evolução cerebral era incipiente, acabaram por se dividir, em grupos, cada qual associado a um dos cientistas remanescentes, tendo-os como divindades vindas dos céus, seus deuses criadores.

Alguns desses filhos primordiais, ao longo do tempo foram se impondo como lideranças e nomeados por seus pais, como reis, dando início ao que na Terra chamam de dinastias.

Um pouco mais tarde, outros desses primeiros filhos foram se colocando como intermediários entre os deuses e os da nova raça, surgindo a estirpe a que deram o nome de “sacerdotes”.

Os sacerdotes se encarregaram de estabelecer leis, normas, rituais, dogmas e induziram a construção de templos onde seriam oferecidos sacrifícios aos deuses criadores.

O povo de Zardz viveu feliz pelo resto dos tempos, ensinando, nas escolas, todo o empenho dos seus cientistas famosos. No carnaval, costumavam se fantasiar de primatas terrestres e desfilar em carros alegóricos que retratavam toda essa saga incrível... Havia muitas fantasias evocativas desse período. Uns fantasiavam-se de primatas, outros de homens, mais uns de deuses, outros de reis e muitos de sacerdotes. Os carros alegóricos evocavam templos das mais diversas correntes confessionais.

Aqui na Terra, aquelas tendências nunca entraram em acordo e durante todo esse tempo se mantiveram divididas, cada qual na sua crença, cada qual com o seu deus, cada qual desmerecendo a crença e o deus alheio...

O Rei Grozz, no camarote real, comentava ao pé do ouvido do Comandante Xerrg: “Aquele pessoal não tem jeito mesmo! Ainda bem que vocês deixaram aquilo lá! É uma raça perdidamente autofágica”! O DNA deles prevaleceu! Fazer o quê, né?

Anunnak - 21/11/2013 - 20:05Hs

Amelius
Enviado por Amelius em 21/11/2013
Reeditado em 21/11/2013
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