Ausência tua

Amanda pôs-se de joelhos no gramado ensolarado e estendeu as mãos. Agatha correu em sua direção e instantes depois enganchou os bracinhos curtos em torno do pescoço dela, fazendo com que perdesse o equilíbrio.

- Assim você machuca a mamãe! - Gritou Amanda, às gargalhadas, caída no gramado.

Deitada de costas no gramado, olhou para a filha deitada ao lado, também sorridente.

- Eu te amo, mamãe - disse Agatha.

Ela ia responder "a mamãe também te ama" quanto notou que tudo estava ficando estranhamente escuro à sua volta. Olhou para cima e viu que o céu estava negro; uma única estrela, imensamente brilhante, luzia bem alto no firmamento. Engoliu em seco.

- Agatha...

Virou a cabeça para o lado e viu que Agatha não estava mais lá.

Acordou gritando, lançando os lençóis para longe de si.

- Mamãe! Socorro!

A mãe já estava sentada ao lado dela na cama, e apertou-a contra o peito.

- Psiu! Calma! Foi só um pesadelo.

Amanda tremia, cabeça apoiada no ombro da mãe.

- Foi tão real! Era como se ela estivesse viva; eu a segurei nos braços, senti aquele perfume de bebê...

- Vai ficar tudo bem - disse a mãe, embalando-a e acariciando-lhe os cabelos. - Você precisa descansar.

Amanda foi acalmando-se aos poucos. Finalmente, conseguiu sentar-se ereta na cama, ao lado da mãe.

- Isso não pode continuar, mãe. Como posso descansar se continuo tendo esses pesadelos?

- Você deveria ter aceito a medicação que o médico receitou...

- Aquela porcaria não fazia efeito - exasperou-se Amanda. - A única coisa que senti foi sono durante o dia!

- Talvez ele possa aumentar a dosagem, trocar o remédio... - ponderou a mãe.

Amanda balançou a cabeça, contrariada.

- Não, mãe! Decididamente isso não funciona comigo. Sei exatamente do que preciso: trabalho de campo. Isso vai manter a minha mente ocupada, e à noite vou estar tão cansada que provavelmente dormirei como uma pedra.

A mãe hesitou.

- Mas... acha que deixarão que volte ao trabalho nessas condições? Talvez fosse melhor fazer uma longa viagem...

Amanda estava determinada em seu propósito.

- Não há viagem melhor do que o trabalho de campo, mamãe. Assim que amanhecer, vou ligar para o Escritório do Demiurgo. Provavelmente, vão querer que eu assuma alguma tarefa técnica, de programação de estações. Por mim, tudo bem, desde que eu tenha a possibilidade de ir para o campo.

A mãe puxou a cabeça dela para o peito e a beijou.

- Faça o que achar melhor, filha. Só quero que você seja feliz.

Amanda estava de olhos fechados quando respondeu:

- Eu nunca mais serei feliz novamente, mãe.

[20-11-2013]