O Restaurante no Fim do Universo
Malakor Nobu Dasomon e Raniva-Sur saíram de braços dados pelo imponente saguão do bloco C das Torres Nova Deuteria, cujo 81º andar havia sido inteiramente reservado para ele e sua equipe. O porteiro fez menção de chamar o veículo-robô oficial, mas o jovem declinou a oferta.
- Obrigado, nós vamos aproveitar a noite para fazer uma caminhada.
Raniva-Sur aconchegou-se mais à ele, como uma gata dengosa.
- Nem vamos andar tanto assim. É na próxima quadra - sussurrou.
- E nós vamos andar devagar? - Perguntou ele com ar divertido.
- Em câmera lenta - respondeu ela. - Para que a sensação que estou sentindo dure o máximo possível!
- Grande Galáxia, Raniva-Sur! - Riu-se ele. - Quem nos visse agora jamais imaginaria que trabalhamos juntos todos os dias!
- Mas eu nunca estive assim tão perto de você, Malakor Nobu - defendeu-se ela. - Permita-me saborear esse momento pelo que ele tem de único.
Desceram as escadarias de granito polido e seguiram vagarosamente pela ampla calçada junto aos prédios, onde havia um razoável fluxo de pedestres. À esquerda, ao longo da praia iluminada por potentes holofotes, palmeiras roxas de tronco escamoso destacavam-se em intervalos regulares, as palmas brilhantes agitando-se no vento que soprava do mar.
- Baixa estação - comentou Raniva-Sur. - Normalmente, isso aqui estaria bem mais cheio.
- Não estou sentindo falta de movimento - disse o jovem. - Aliás, qualquer lugar sem Pergunte-me Como parece estar bem mais vazio!
Ambos riram, já que a Mente conhecida como Pergunte-me Como era praticamente onipresente.
- É ali - disse ela, apontando para um prédio baixo e longo na esquina seguinte, cercado por palmeiras escamosas. Um letreiro de neon azul, piscando convidativamente, flutuava sobre a estrutura.
- "Restaurante no Fim do Universo"? Não pensei que tivéssemos andado tanto!
- Propaganda enganosa! - Riu-se ela. - Mas o sintetizador molecular é de primeira linha. Poderá formular qualquer um desses pratos exóticos da Terra, que você tanto gosta.
- Você sabe como chegar ao coração de um homem! - Aprovou Malakor Nobu.
Atravessaram a rua. Ao vê-los, um robô-porteiro abriu-lhes as portas do salão principal, moderadamente ocupado. Um outro robô, um discoide branco flutuante de meio metro de diâmetro aproximou-se deles e lhes deu as boas vindas.
- Mesa para dois, vista para o mar, menu customizado - disse Malakor Nobu.
- Alguma região em particular para o menu? - Indagou o robô flutuante.
- Padrão do Braço de Órion, sistema Sol, terceiro planeta.
- Alguma época específica?
Malakor Nobu pensou por alguns instantes, antes de responder:
- Século XXII, Era Comum.
- Muito bem. Sigam os indicativos luminosos no piso - informou o robô.
Uma linha azul luminosa surgiu no piso à frente deles, indicando o caminho que os levou até a mesa solicitada.
O jovem puxou uma cadeira e fez uma vênia para que Raniva-Sur se sentasse:
- Por gentileza!
- É uma honra - respondeu ela, sorrindo.
Sentados agora frente à frente, ela olhou-o dentro dos olhos e disse, muito séria:
- Não era eu quem deveria estar aqui hoje, não é?
- Por que diz isso? - Perguntou ele, com ar surpreso.
- Seja franco comigo: se Zorava-Hava já tivesse saído do isolamento, nós estaríamos jantando essa noite?
Ele balançou a cabeça lentamente, como quem não acredita no que está ouvindo.
- Você não é Zorava-Hava; estou aqui pelo que você é. Não penso em você como uma substituta!
Ela esboçou um sorriso triste.
- Dia virá, Malakor Nobu Dasomon, em que você não pensará em mim sequer como uma substituta.
Sem saber o que responder, o jovem decidiu que era melhor fazer alguma coisa.
Dedo indicador e médio juntos, ele fez um gesto como se fosse dispensar uma bênção sobre a mesinha redonda do restaurante. Uma tela translúcida povoada por caracteres brilhantes surgiu no ar, pairando sobre a toalha branca. Ela apenas olhou para o cardápio, sem dar-lhe muita atenção.
[18-11-2013]