Sobreviverei à isso

- Entre!

Com ar decidido, a operadora do turno do dia entrou na Sala da Supervisão. Apoiou a mão direita na mesa do supervisor, que estava sentado, e inclinou o corpo sobre ele, como se fosse confidenciar-lhe alguma coisa ao pé do ouvido. Mas a frase foi dita enquanto ela o encarava nos olhos:

- Eu tenho que fazer alguma coisa pela Amanda.

O supervisor ergueu os sobrolhos e recostou-se na cadeira giratória.

- Por favor, não faça nada de que irá se arrepender depois. Todos nós adoramos a Amanda, mas sabemos perfeitamente o quanto ela é irredutível.

- Preciso da sua ajuda - disse a operadora, inclinando-se mais sobre ele.

- Temia ouvir essa frase.

- Preciso de um passe para a Antecâmara.

O supervisor balançou negativamente a cabeça.

- A Antecâmara é área restrita, você sabe disso. Operadores de turno não tem acesso à ela.

- Por isso preciso da sua ajuda. Invente alguma coisa, temos que ajudar a Amanda!

O supervisor suspirou e cruzou as mãos sobre a barriga.

- Você entrou aqui falando no singular. Agora já passou para o plural!

Finalmente, indagou cautelosamente:

- Que tal um teste de dissociação?

- Não vai lhe causar problemas?

O supervisor descruzou as mãos da barriga e encarou a operadora.

- Provavelmente terei que explicar ao Superintendente porque escolhi alguém da supervisão, e não da equipe de campo. Mas penso que sobreviverei à isso...

A operadora inclinou-se rapidamente e beijou a bochecha do supervisor.

- Sabia que podia contar com você!

O supervisor sorriu e antes que ela saísse, completou:

- Não conte comigo quando Amanda for tirar satisfações com você!

- Sobreviverei à isso! - Respondeu a operadora.

E saiu da sala com um imenso sorriso no rosto.

[18-11-2013]