A melhor hora do dia
Trício, o sol de Deuteria, pusera-se à pouco no mar e o tom azul-arroxeado do céu gradualmente tornava-se mais carregado, nuvens tingidas de lilás esgarçando-se nas alturas tangidas pelo vento. De pé junto às amplas janelas panorâmicas do seu escritório, mãos cruzadas nas costas, Malakor Nobu Dasomon repassava mentalmente a rotina do dia seguinte. Havia delegado a maior parte das atividades corriqueiras para a sua equipe, mas mesmo assim teria que dar a palavra final em vários assuntos. E ainda concordara em conceder meia dúzia de entrevistas coletivas para diversos órgãos da mídia galática. Era a parte que menos gostava no seu trabalho, embora, devesse reconhecer, fosse uma das mais importantes.
Mergulhado em seus pensamentos, só percebeu que Raniva-Sur havia entrado no aposento quando ela tocou delicadamente em seu braço.
- Você não vai pra casa?
- Engraçado você vir me falar em "casa" - disse ele, esboçando um sorriso. - Casa, para mim, está a meia galáxia de distância.
- Mas você tem uma casa aqui - respondeu ela.
- Um quarto de hotel, você quer dizer...
- É tão ruim assim?
- Não, longe de mim reclamar. É um excelente hotel, todos são muito gentis e atenciosos. Talvez apenas eu esteja me sentindo muito isolado aqui.
- Sem alguém que te espere quando chegar?
- Eu não tinha ninguém me esperando em casa. Mas meus amigos estão distantes. As pessoas que conheço...
- Zorava-Hava está aqui - ponderou ela.
- Zorava-Hava... sim, mas não agora. E pelo visto, vai demorar até que eu volte a vê-la, não? E quando eu a vir... bem, não será exatamente ela, não é?
Raniva-Sur desviou os olhos dele, como se estivesse escolhendo a menos pior entre diversas opções desagradáveis. Finalmente respondeu, olhando para um ponto qualquer no oceano centenas de metros abaixo deles:
- Alguns meses, pelo menos; o aprendizado é lento e doloroso. Eu sei por experiência própria.
Ele também tinha os olhos fixos na vastidão verde-escura, onde luzes de embarcações acendiam-se aqui e ali com a chegada da noite. Depois de um curto silêncio, virou-se para ela e perguntou:
- Está com fome?
Ela encarou-o, surpresa.
- Estou.
- Quer ir jantar comigo?
O rosto dela iluminou-se.
- Pensei que nunca fosse me convidar.
- Para jantar?
- Para sair.
[11-11-2013]