Tenho pena de quem chora

Amanda apoiou os cotovelos na mesa, cobriu o rosto com as mãos e deixou que as lágrimas fluíssem. Um choro convulsivo veio brotando do seu interior, como se uma antiga fonte represada houvesse finalmente encontrado o seu caminho de volta para a superfície, e não havia como detê-la, nem fazer com que parasse.

- Ela está bem? - Perguntou o supervisor.

- Não - respondeu a operadora do turno da manhã. - Ela OBVIAMENTE não está bem.

- Eu quero dizer... há algo que possamos ou devamos fazer?

- Vamos dar um tempo, para ver se ela volta à si sozinha. Mas se quer ajudar, vá pegar uma caixa de lenços de papel.

O supervisor saiu porta afora. A operadora do turno do dia sentou-se do outro lado da mesa onde estava Amanda, olhando-a com um ar de infinita pena. As duas eram mais ou menos da mesma idade, mas naquele instante, a operadora sentiu que Amanda estava pelo menos um milhão de anos mais velha do que ela.

- Amanda...? - Indagou baixinho.

Um arquejo veio do fundo do peito de Amanda. Não respondeu, nem descobriu o rosto. As lágrimas corriam entre os dedos, pingavam na mesa. O corpo dela tremia a intervalos irregulares. Era devastador de se ver. Sentindo que seus olhos também iam se nublando, a operadora ergueu-se e virou as costas para a colega. Ficou ali, parada, até que o supervisor voltasse com a caixa de lenços de papel.

- Acha que devo entregar para ela ou só coloco na mesa e...?

- Coloque na mesa. Apenas isso. Olhe, vá pegar um copo d'água...

- Com açúcar?

- É. Acho que seria bom.

O supervisor ia se virando para sair novamente, quando a operadora o chamou:

- Espere!

- O que foi?

- Traga dois!

E baixando a cabeça, começou também a chorar baixinho.

[04-11-2013]