O que está em cima é como o que está embaixo

- E como chegaremos lá? - perguntou calmamente Amanda.

- Este sempre foi o ponto, não é? - Respondeu Pai Waldemar com um sorriso maroto, dando uma baforada no charuto. - Oficialmente não há como ir "lá". Não pessoalmente.

- Mas acredito que Pai Waldemar deve conhecer um atalho, não é? - Inquiriu Benjamin.

- Amanda! - Entusiasmou-se Pai Waldemar. - Esse garoto é muito inteligente; eu acho que você deveria adotá-lo!

- Mas Pai Waldemar... - começou a protestar Amanda.

- Ele me lembra muito eu mesmo quando tinha a idade dele! - Exclamou Pai Waldemar, batendo com o charuto no cinzeiro.

- Obrigado, senhor - respondeu Benjamin, olhando para Amanda com ar de riso e movendo os lábios sem som para formar a palavra "mamãe".

Amanda fuzilou-o com o olhar.

- Pulando essa parte da adoção, Pai Waldemar - prosseguiu Amanda - para a qual não me sinto ainda psicologicamente preparada, o que temos é um consenso na comunidade científica de que não há como acessar o Subverso sem ascender até a sexta dimensão, na qual, por razões óbvias, não podemos permanecer, muito menos subsistir.

- Eu conheço esse conceito; é uma balela - desdenhou Pai Waldemar. - Há milênios que nos empurram essa ideia de que somente máquinas podem operar no Subverso. Na verdade, precisamos de máquinas para nos levar até lá. Ou, mais especificamente, um tipo de máquina, que funcione como um portal. Uma vez lá, contudo, o Subverso é exatamente igual ao que temos aqui.

- Exatamente... igual?! - Perguntou Amanda, estupefata.

- Isso vai contra tudo o que você aprendeu na escola, não é, Amanda? - Disse o velho Projetista com um sorriso feroz. - Sim, é igual. Igualzinho. A diferença fundamental está na escala. Aqui, as coisas são muitas ordens de grandeza maiores do que no Subverso. Contudo, indo lá para lá através de um portal corretamente parametrizado, nossos corpos físicos serão devidamente reduzidos às dimensões corretas. Em suma, tudo nos parecerá tão normal como se estivéssemos nos deslocando neste mundo.

- Então o Subverso não é somente um campo de energia, como diz o Dogma? - Perguntou Benjamin.

- Isso é o que querem que acreditemos - retrucou Waldemar. - Qual seria a reação do nosso povo se houvessem dito: "ei, temos esse universo cheio de seres inteligentes e vamos queimá-lo para resolver o nosso problema de calefação"?

- O senhor é um... juvenalista! - Exclamou Amanda atarantada.

- Com muita honra, Amanda. Com muita honra! - Retrucou o Projetista.

E batendo com o charuto no cinzeiro, expeliu uma longa baforada.

[02-10-2013]