Seleção Natural - Parte 5

Silêncio.

No meu quarto não havia relógio, mas deduzi que eram meio dia e alguns quebrados. Fiquei de pé e caminhei até a janela. Na rua, nada se movia. As casas pareciam ter sido abandonadas. Me perguntei onde as pessoas daquele quarteirão estavam, o que faziam ou se estavam vivas.

Me deitei novamente na cama. Sentia meu corpo pesado e uma falta de ânimo para tudo. Era melhor morrer do que passar o resto dos meus dias daquele jeito. Triste fim; queria fazer tantas coisas.

Quando acordei já era noite. O cheiro podre de esgoto ainda estava ali como uma companhia agourenta.

“Desça”.

Nem me preocupei em vestir algo. Desci as escadas sentindo um leve vento em minhas partes. Na cozinha, Roy estava sentado em uma cadeira. Seus cotovelos apoiados na mesa e suas mãos em seu rosto. Eu sabia, ele também estava esgotado.

Roy sentiu minha presença. Ele virou-se para mim e pude que também estava nu.

- James! – Roy levantou-se. – É tão bom te ver fora daquele cilindro!

É. Sempre soube que o cilindro do meio era para mim.

- Digo o mesmo – falei.

Entre a pia e a mesa não havia mais os três cilindros, mas apenas um com Claire em seu interior.

- Eles me fizeram transar com ela – disse Roy quando me viu olhando para o cilindro.

- Fizeram o mesmo comigo – eu disse.

- O que será que eles querem?

De tudo eu não sabia, mas algo estava bem claro.

- Nos observar. Querem saber como interagimos uns com os outros, principalmente em relação à reprodução. Deve ser isso.

O que eu não conseguia entender era por que Claire havia voltado para o cilindro. Minha mente trabalhava na tentativa de achar alguma resposta, mas nada se encaixava em lógica alguma.

Lógica. Como se eu devesse levá-la em consideração.

- Roy, o que você fez quando chegou em casa? – Perguntei.

- Fui dormir. Acordei em sua cama.

- Na minha cama?

- Isso. Comecei a te chamar e nada. Quando fui à cozinha, vi três cilindros, com você e Claire em dois deles. Foi então que escutei aquela voz me pedindo para voltar para o seu quarto. E eu voltei. Ela disse que se eu não fosse, mataria vocês dois. Só fui descobrir por que me mandaram tirar as roupas quando a voz me disse para transar com a Claire.

- Que merda cara.

- Sabe o que achei mais estranho? A Claire. Ela parecia uma va... caralho James, olha isso!

Roy apontava para o cilindro. Eu olhei. Não conseguia acreditar no que via. Não imaginava que aquilo seria possível: a barriga de Claire crescia rapidamente – parecia um balão se enchendo de ar. Achei que iria explodir, mas quando parecia que cabiam duas bolas de basquete lá dentro, a barriga parou.

Roy e eu não tivemos reação alguma. Vimos algo que não pertencia a nossa realidade – não sabíamos como lidar com aquilo.

“Retirem-se”. Escutamos em nossa mente.

Saímos da cozinha e fomos para o meu quarto. Não conseguimos dizer palavra alguma como se estivéssemos desprovidos da habilidade de falar. Roy sentou-se em minha poltrona azul velha e eu me sentei na beirada da cama.

Esperávamos a próxima ordem assim como esperávamos que fosse a última.

Mas não seria. É claro que não.