Unguentum Sabbati
Amanda prendeu os cabelos no alto da cabeça e colocou sobre eles uma touca plástica. Depois, despiu-se, pendurou as roupas num armário e jogou a calcinha num cesto. Gastou alguns minutos admirando-se no espelho de corpo inteiro, satisfeita com o que via:
- Quarenta anos e tudo em cima!
Finalmente, saiu do vestiário e encontrou as três integrantes da equipe do Controle de Fase aguardando-a na antessala, algumas com expressão entediada.
- Amanda, - disse Sônia, a chefe da equipe - você deve ser a única mulher que eu conheço que demora mais para tirar a roupa do que para se vestir!
Sorridente, Amanda fez um gesto indicando seu corpo inteiro:
- Sem celulite! Não é uma maravilha, meninas?
As técnicas entreolharam-se.
- Sabia que você é bem narcisista, Amanda? - Retrucou Olívia, uma técnica gordinha.
- Espere só até ter filhos... - comentou Ivete, uma magricela.
Amanda ergueu uma sobrancelha.
- Não estraguem a minha alegria, meninas. Esse dia parece que vai ser bem complicado.
- Ao trabalho! - Comandou Sônia batendo palmas. - O Demiurgo não gosta de esperar!
A porta da sala da Câmara de Imersão estava aberta. Ao lado da dita cuja, que mais parecia um grande sarcófago de plástico branco, Regina, a enfermeira, aguardava com uma seringa na mão.
- Olá Rê! - Saudou Amanda.
- Olá Amanda! - Respondeu a enfermeira. E com um sorriso malicioso:
- Pronta para voar?
- Deusas! Creio que sim!
Amanda ergueu os braços enquanto Olívia e Ivete revoluteavam ao redor dela, fixando eletrodos por todo o seu corpo.
- Pode baixar os braços - informou Olívia.
- Relaxe - solicitou a enfermeira, pressionando o êmbolo da seringa. Um líquido dourado espirrou da agulha.
Amanda deixou os braços pender ao longo do corpo e fechou os olhos.
- Medrosa! - Provocou Regina.
Amanda sentiu um algodão embebido em álcool ser esfregado no seu braço e depois a picada da agulha. Um calor agradável começou a subir por todo o seu corpo.
- Contando! - Exclamou Sônia, sentada em frente a um terminal de controle.
- Trinta! - Respondeu Amanda, erguendo em câmera lenta um pé e pisando no interior da Câmara de Imersão, preenchido por um líquido perfumado, escuro e tépido, com a consistência de mel. Colocou o outro pé e depois sentou-se dentro do sarcófago, sentindo que o mundo ao seu redor começava a girar.
- Vinte! - Ouviu-se dizer, como que de uma grande distância.
Deitou-se no sarcófago de plástico, seu corpo parecendo perder os contornos e desfazer-se no líquido viscoso que a envolvia.
- Dez... - murmurou.
Seus olhos se fecharam, assim como a tampa da Câmara de Imersão sobre ela.
[25-08-2013]