O TUNEL DO TEMPO cap 2

Paulo Sergio Larios

EM ALGUM LUGAR DO PLANETA...

Martina olhava desanimada pela janela do seu apartamento. Não haviam esperanças. A vida se tornara insuportável. Ela reconhecia nela, raízes de amargura, crescendo e tomando forma. A sua vontade era só caminhar, sem rumo, indo, pra onde seus pés a levassem. Era madrugada e Sandy ligara, depois de cinco dias – cinco dias! – para ela ir até o metrô e se encontrar com ele, às escondidas, pois ele iria finalmente mostrar no que ele trabalhava. Era secretíssimo, dissera ele, um projeto louco onde as pessoas poderiam viajar no tempo, indo e voltando – se bem que não voltara ninguém, até agora.

É lógico que era mentira. Sandy casara-se com Martina e ela imaginara que ele era um marinheiro, pois vivia viajando e ficava longos períodos longe de casa. Mas com dois anos, ela já não achava mais graça em ficar sozinha, olhando para as paredes bonitas e bem pintadas. O seu marido ganhava bem, disso não haviam duvidas, mas e ele, onde estava?

Martina começou a cobrar dele mais aproximação e Sandy começou a leva-la para mais perto de si. Começou assim um martírio onde uma possível esperança de reatar bem, iniciou. Martina passou a ir de hotel em hotel, no que ele disse, para mais perto de si, do seu trabalho. Foi um ano assim. Não eram hotéis baratos, apesar que não eram cinco estrelas também. No inicio era até interessante, mas com o tempo, as paredes eram as mesmas, o quarto grande demais e a ausência de alguém para conversar era gritante. Sandy a colocava em algum lugar e sumia, durante dias e até meses. O hotel era pago regiamente, ela não poderia reclamar disso, mas e ele, onde estava? O que é que Sandy fazia, afinal?

Em uma semana, Martina vira Sandy por menos do que vinte minutos. A três dias atrás ele lhe dissera que estavam no complexo do Túnel – fosse isso lá o que fosse! Mas escondidos. Ninguém poderia saber que ele era casado e nem que a sua esposa estava clandestinamente tão próximo ao projeto mais secreto do mundo.

É lógico que Martina não acreditava em nada disso. A sua vontade era simplesmente sair andando; pra qualquer lado, sem rumo. Pra chegar aqui eles pegaram cinco aviões, foram cinco escalas, em locais que ela não se localizava. Ela não sabia nem onde estava.

A hora estava chegando. Na mesinha havia um crachá, falso, onde dizia que ela era funcionária do Túnel do Tempo. Ao lado da foto havia uma ampulheta. Ela olhou para o relógio que mostrava ser de madrugada.

Sandy dissera que ela entraria no Túnel, o veria e sairia em seguida. É isso!

Ela gostava muito dele. Se conheceram numa corrida de carros, onde ela era a menina que segurava a bandeira e ele era um dos corredores. Ele tinha um sorrisso tão bonito e um beijo tão macio, que ela se apaixonou por ele. Com um mês estavam casados e Sandy começou a arrasta-la mundo afora.

Martina queria um filho, e queria se separar do marido também. Ela não agüentava a solidão, apesar de sentir no fundo da sua alma, no profundo do seu espírito, que nasceram um para o outro. O único problema era o trabalho secreto e enigmático de Sandy.

Martina olhava pela janela e sentia saudades de sua família. Seu pai assinou a autorização de casamento contrariado. O abraço que sua mãe lhe dera, quando ela foi para a lua-de-mel era triste, melancólico, de despedida. Sua irmã, que era a sua maior confidente do mundo, só levantou o braço e sorriu meio amarelo. Martina estava agora mais velha, com seus vinte anos; quase três, solitários.

Do lado esquerdo ela via o metrô, com quase ninguém. O trem funcionava, independente de ter ou não alguém, pelo período de vinte e quatro horas, de quinze em quinze minutos. O trem entrava literalmente numa montanha e voltava até ali, onde era o seu ponto final. Martina não sabia reconhecer o lugar. Era frio e nevava, montanhas de um lado e uma estrada escura do outro levavam a uma longínqua cidade. Ela olhava para além do final da linha, para a estrada que sumia naquele deserto e que a levaria, talvez, a algum lugar.

O rádio despertador tocou estridente na noite fria, o que a assustou. Ajeitando o cabelo, aquela era a hora em que ela teria que se decidir em ir embora, da vida de Sandy, ou tentar continuar. Havia, quase nada, mas havia no fundo do peito a curiosidade de saber, afinal, o que é que o Sandy fazia, pois essa história maluca de viajar no tempo, era mentira, é lógico.

Ela vestiu o casaco sem pressa e pegou o elevador que a levou diretamente para a estação, que era em frente. Um soldado armado com um rifle, parado junto à porta, olhou para ela. Ela colocou o crachá no peito, como Sandy indicara e rumou, meio a contragosto para o vagão do metrô. Um funcionário, com uma bela roupa preta e amarelo a desejou boa viagem. Sandy lhe dissera que ela levaria uns dez minutos, em velocidade máxima, até onde o trem pararia e ele a estaria aguardando. Essa era uma das entradas do Túnel, ele dissera a ela, haviam outras, uma delas era pelo deserto além das montanhas e outra era pelo vulcão. Martina riu disso, quando ele lhe dissera, dizendo que sua imaginação era muito fértil. No inicio ela pensara que ele tinha outra mulher, mas logo viu que não era isso, mas o que seria então? Será que ela estava prestes a descobrir nesse tal de Túnel?

O trem do metrô era muito rápido. Ela notou que num movimento imperceptível uma câmera estava focada nela, a olhando, talvez comparando o rosto com o crachá. E de repente o trem foi parando, com certeza ela estava no meio da montanha, com toneladas e mais toneladas de terra e pedras acima da sua cabeça. Sandy a esperava na estação. Caminhando quietos por entre muitas portas e alguns elevadores, Sandy lhe dissera que o complexo tinha oitocentos andares, onde doze mil pessoas trabalhavam. Àquela hora não haviam muitas pessoas trafegando por entre os corredores e as pontes e chegaram afinal a um enorme portão com o símbolo do crachá, bem grande, desenhado: uma enorme ampulheta estilizada. Sandy parou por um instante, antes de entrar. Aquilo deu a impressão a Martina que estavam entrando num templo.

AS LUZES VOLTAM A PISCAR

Quando entraram na Sala do Tunel, com uma meia-luz acesa, quase na penumbra, ainda assim dava para ver os computadores e seus vários artefatos estranhos e desconhecidos, assim bem como também o Tunel do Tempo, propriamente dito.

Martina parou em frente à boca do Tunel e ficou olhando para dentro dele.

- O Tunel – disse eufórico Sandy – é uma máquina muito antiga, descoberta no Himalaia, mas há indícios de que existiu um outro Tunel, similar a esse no Egito Antigo, dos Faraós. O Tunel, que você está vendo, o buraco do Tunel, com seus arcos preto e branco, que se revezam nas paredes, segundo as nossas medições, parece estender-se durante milhares de milhares de quilômetros. Mas sabemos que quando transportado ele mede três quilômetros. Martina, é melhor a gente ir embora, agora que você já o viu.

Martina o interrompeu, brava.

- Você quer mesmo me dizer que esse... túnel de metro, é uma máquina do tempo? Você quer que eu acredite nisso? Tenho vivido com você, quer dizer... mais ou menos, nesses quase três anos de casados, onde quase não o vejo e você me diz que trabalha aqui, nesse lugar e que isso é uma máquina do tempo? E pior, depois de tanto tempo, ficamos um, dois minutos? E já vamos embora. Eu nem sei o que dizer. Acho que vou desmaiar de alegria agora que já vi de perto o lendário “Tunel do Tempo”. Você acha que eu sou uma idiota, é isso? Eu amo você Sandy. Adoro o seu sorriso bonito, o seu jeito alegre, mas eu quero me separar de você. – Martina disse isso enquanto tirava com raiva a aliança do dedo.

Temerosamente, ela entrou no Tunel. Lentamente algumas luzes começaram a se acenderem em praticamente todas as salas dos oitocentos andares do complexo. Algumas máquinas atrás de si começaram a fazer o barulho característico de que estavam sendo ligadas.

- Martina, saia daí, não entre no Tunel. – disse o jovem, entrando também, para tentar tirar Martina de lá.

- Tome a sua aliança de volta, eu não a quero mais. Eu quero ir embora daqui, estou cansada de suas brincadeiras e projetos secretos. Eu não acredito que rodei o mundo por causa de uma idéia louca da sua cabeça. Seus olhos lindos me enganaram. Tome sua aliança de volta, eu quero o divórcio.

Dito isso Martina jogou a aliança na direção de Sandy, que estava mais próximo a saída do Tunel do que ela. Nervosa ela foi andando em direção ao fundo do Tunel que começou a ser totalmente ligado e a brilhar, com suas muitas luzes e a gerar barulhos como se algo estivesse explodindo. O barulho foi ficando insuportável. A aliança de Martina que foi jogada contra o seu marido, Sandy, bateu no crachá dele e voou por sobre a cabeça dela, indo mais fundo ainda no Tunel, que agora estava ligado em todo o seu poder. Todas as pessoas do projeto foram acordadas, pois buzinas estridentes tocavam avisando que o Tunel estava ativo. A alinaça de Martina passou por ela, aprofundando-se mais no fundo do Tunel e num impulso ela correu em direção ao anel, para pegá-lo e Sandy prevendo o pior, correu atrás dela. Ele ainda conseguiu olhara para trás e escutar que muitas pessoas estavam gritando para que eles saíssem dali, pois era muito perigoso, mas Sandy viu primeiro a aliança sumir no ar, por entre o barulho e a fumaça que subia das paredes, e logo depois pareceu que na sua corrida, em busca da aliança, Martina dava um salto para o vácuo, sumindo em seguida. Da mesma maneira, de repente, o rapaz sumiu, definitivamente, no labirinto do tempo.

CHILE, 15 HORAS DA TARDE, 2025

X estava cansado. Foi esse o seu primeiro pensamento. Ele estava cansado e velho agora. Imaginava que nada iria mais acontecer até o fim da sua vida. Apesar de que sempre existiu a esperança e ele rodou o mundo, à procura da máquina. Quando ele tinha um ano de idade a máquina havia sido ligada e alguém entrou nela. Isso, segundo os guardiões, após milhares de anos desligada. O trabalho dele, incumbido de pai para filho, era encontrar a máquina e reportar aos seus líderes, que ele nem sabia direito quem eram. A única certeza era uma boa quantidade de dinheiro que chegava à sua conta mensalmente. Dinheiro esse que proporcionava condições para ele andar de avião, helicóptero e até de submarino, se fosse necessário, como ocorreu uma certa vez, há muitos anos, onde seguindo uma trilha, teve que ir até o fundo do mar. X estava com sessenta e cinco anos. Seus cabelos brancos atestavam a sua idade. Ele era o ultimo dos guardiões, nunca se casara e portanto não haviam sucessores.

X trabalhava como exportador, o que dava-lhe crédito para andar por todo o mundo, sem chamar a atenção, mais do que o necessário. Era uma tarde sossegada, logo após o almoço e por rotina, ele foi checar no seu quarto de hotel, se havia alguma alteração no comando, que era como um controle remoto. O comando era um artefato retangular, pouco maior do que a sua mão, com alguns botões e que segundo lhe disseram a mais de quarenta anos atrás, se a máquina do tempo fosse ligada, o comando avisaria onde ele estava, através do rastreamento da radiação.

A principio X ficou olhando estupefato para o artefato à sua frente, que estava guardado no cofre da parede no seu quarto. Nunca ele vira o comando ligado antes, apesar de saber reconhecer o que fazer e que direção seguir, com o objeto na sua mão. Um misto de medo e estranheza passava-lhe pelo corpo, fazendo-o tremer um pouco. Se necessário X poderia acionar um exército para ajudá-lo, foi o que lhe garantiram, através de seu pai, pois na verdade ele nunca vira quem eram os originários guardiões. Ele estava com o guardião robô e sabia que se fosse necessário havia um armamento impensado a ser usado para defender a máquina.

Não demorou mais do que duas horas para que ele pudesse se desvencilhar de seus afazeres comuns, do dia a dia e fosse em direção para o que fora destinado a sua vida toda. X encontraria a máquina e a devolveria aos seus legítimos donos, contra todo e qualquer país, que estivesse com a máquina, ou morreria tentando.

ALÉM DAS ESTRELAS...

O soldado correu com a noticia em direção às grandes salas do Diretório Mundial, onde conseguiu autorização para falar com o Governador. Ele não estava só e um velho estava com ele. Entrando na sala chique, da pessoa mais importante do planeta, o soldado estendeu o seu braço, com uma mensagem na mão. A pessoa sentada na cadeira alta, á sua frente leu quieto o bilhete, amassando-o em seguida. O soldado disse o que não havia necessidade, pois seu líder acabara de ler:

- Governador, um dos portais acabou de ser acionado num dos planetas distantes, o que significa que poderemos invadir esse planeta.

- Eu sei o que significa general. – interrompeu grosseiro o Governador. Virando-se para o velho cientista ele perguntou:

- Vocês sabem de onde está vindo o sinal?

- Sim senhor, está vindo de um planeta que fora visitado por nós a milhares de anos atrás, na época que eles mesmos denominaram de grandes faraós. O sinal vem do planeta Terra.

O Governador olhou pela janela para o seu mundo que estava morrendo. Um outro planeta, era a esperança de perpetuação de seu povo e da vida. Para que seu povo vivesse, todos na Terra teriam que morrer. Olhou pensativo para além da janela hermeticamente fechada, pensando na invasão.

Continua...

pslarios
Enviado por pslarios em 11/09/2013
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