Colombo não tinha seis refeições diárias
- Buranek! Ei, Buranek!
Buranek estava sentado sozinho, num canto do grande salão de recreação, já praticamente vazio àquela hora. Ergueu os olhos para ver quem o chamava.
- Oi Radinovich!
- O que foi, Buranek? Parece triste!
O garoto louro sentou-se ao lado do gorducho de bochechas vermelhas. Buranek não estava triste, apenas pensativo.
- Radinovich, eu fiz uma descoberta hoje...
- Nada a ver com a professora de exobiologia, eu espero.
- O que tem a professora de exobiologia? - Perguntou Buranek intrigado.
- Ela é casada?
- Bolas, Radinovich! Eu aqui querendo falar de uma coisa séria e você vem me falar da professora de exobiologia!
- Esse assunto, para mim, é muito sério - informou candidamente Radinovich.
- Esquece a professora de exobiologia, seu tarado! Acha que ela vai dar atenção pra você, moleque?
- Hoje não, mas daqui a uns quatro anos, quando eu terminar a Academia...
- Sonhar é grátis - Buranek deu uma risadinha.
Uma campainha estridente interrompeu a conversa.
- Quinze minutos para as luzes se apagarem. É bom irmos andando - disse Buranek.
- Você não disse o que descobriu... - relembrou Radinovich.
- Ah, sim! Eu não nasci pra enfrentar o mar, Radinovich.
- Como é que é?
- Ouvi isso uma vez, acho que era uma música que meu pai cantava... enfim, decidi ser faroleiro.
- Hein?! Ficou maluco, Buranek? Faroleiro onde? Numa ilha?
- Em sentido figurado, seu burro! Estou querendo dizer que não vou sair daqui quando me formar. Não vou para o mar aberto... o espaço... entendeu?
- Quer dizer que aqui é o seu farol?
- É. Mais ou menos isso - respondeu, com ar determinado.
- Mas nada acontece aqui! - Retrucou incrédulo Radinovich.
- Pelo contrário: tudo acontece aqui! - Exclamou Buranek, entusiasmado. - Aqui foi onde tudo começou. Depois que o grande Gagarin pisou na Lua, o Universo se abriu para nós!
- Sim, e é por isso que nos alistamos nos Jovens Pioneiros! Para desbravar os caminhos abertos por Gagarin! - Proclamou Radinovich.
- Boa! Se não conseguir ser um Pioneiro, você já tem vaga no Komsomol - aprovou Buranek com ar irônico.
A campainha estridente soou de novo no recinto vazio.
- Dez minutos! Melhor ir agora, senão vai ter encrenca... - disse Buranek, erguendo-se. Radinovich acompanhou-o.
- Então você quer ficar porque aqui poderá aprender mais sobre como abrir caminhos para os outros? - Ponderou Radinovich.
- Isso, Radinovich! - Exultou Buranek. - Isso! O começo do caminho... de todos os caminhos... é aqui! Para que ir para qualquer outro lugar se posso fazer todas as descobertas aqui mesmo - e com seis refeições diárias?
- Eu sabia que esse era o ponto! - Retrucou Radinovich.
Os garotos passaram em frente à grande janela de observação da sala de recreação. Pararam um instante para apreciar a paisagem lá fora.
- E essa vista, Radinovich! - Exclamou Buranek. - Em qual outro lugar do Universo há uma vista como essa?
Além da vidraça blindada, erguiam-se as paredes da cratera onde fora construída a Base Lunar IV. E mais acima, flutuava a Terra em quarto crescente, contra um céu negro onde as estrelas não cintilavam.
[27-08-2013]