Mensageiro - Parte 5

Era uma língua estranha, mas as mensagens técnicas eram mais inteligíveis. Falavam de cordas, e tranças, e de entrelaçamentos... mas no conjunto, era possível entendê-la. Como diria Arthur Clarke alguns séculos atrás: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.” E aquilo, muito bem descrito, parecia sim mágica, por não ser compreendida!

Logo de princípio, era difícil entender a necesidade de massas em movimento. Alguma analogia ao magnetismo, gerado pela movimentação de cargas elétricas? Aparentemente sim! Parece que girar "cargas gravitacionais", ou "massas", como eram mais comumente chamadas, gerava o equivalente a um "campo magnético gravitacional", uma força perpendicular às quatro dimensões conhecidas do espaço-tempo! Aparentemente era o que gerava os microscópicos buracos de minhoca no espaço-tempo.

E, por incrível que pareça, era NESTE ponto que acabava a compreensão científica do fenômeno. Era onde começava a "mágica". Embora difíceis de explicar, entendiam a formação dos micro-buracos de minhoca atravessando o espaço-tempo. Como aumentá-los? Estava claro que havia um algoritmo matemático de entrelaçamento! Que tais fios poderiam ser recombinados em cordões, que estes cordões se recombinavam em cordas, que várias cordas juntas formavam ductos macroscópicos... até que finalmente tínhamos um portal através do espaço-tempo capaz de conduzir uma nave através dele!

Ninguém sabia se funcionaria. Que nome dar a isto? Fé? Sim, era uma explicação bem aceitável! Os procedimentos todos não passavam de rituais mágicos! Algoritmos que a máquina seguiria sem entender as razões. Algum dia talvez todo o procedimento se tornaria claro. Todo o ritual matemático de entrelaçamento dos microportais fariam sentido. MAS COMO SABER SEM TENTAR?

------------

- Sei de onde veio aquela mensagem em latim!

O velho de quase 200 anos se ergueu sobre suas próteses robóticas, melhores ainda que suas pernas originais. Ele havia participado do projeto! Sabia por que os alienígenas sabiam da grafia daquela frase em latim antigo. Nós mesmos havíamos escrito a eles!

- A mensagem sempre esteve aqui! Nós mandamos a eles!

- Do que está falando?

- Esta é a mesma sonda que mandamos antes! Eles codificaram nossa própria mensagem em latim! Como uma pedra de roseta! Uma mensagem já conhecida, ela própria codificada. Duvido que alguma vez a tenham compreendido, mas era a única maneira de mostrar como codificaram suas informações: codificando algo que nós mesmos enviamos!

- Que está falando, meu caro?

- Que nos copiamos! Fizemos uma cópia de uma máquina que nós mesmos mandamos para o futuro, e que nos voltou no passado. Uma espécie de moto-contínuo, meu caro, que eu próprio não compreendo!

- Mandamos para o futuro uma tecnologia que nos motivou a desenvolvê-la no passado, e que foi a causa dela ser desenvolvida, e que... quer dizer, o efeito originou a causa... e a causa faz ocorrer o efeito, que é a causa, e o efeito, e a causa... e isso ad infinitum. É isto?

- Ainda não compreendi bem por completo, mas acho que sim!

----------------

A percepção deste contínuo aumentava ainda mais a "fé" dos voluntários daquela aventura em se lançarem ao desconhecido.Estava clara a data, o entrelaçamento, o ponto exato no espaço... tudo! Poderiam ser enviados a qualquer lugar do universo! Poderiam de desintegrar dentro do portal. Poderiam sair num universo totalmente diferente. Nada era certo! Mas confiavam nas instruções alienígenas! Tinham "fé"! Sabiam, sem conseguir explicar o porque, que teriam apoio qualquer que fosse seu destino.

Foram muito bem selecionados os 40 aventureiros! Poderiam passar muito tempo fora. Poderiam NUNCA voltar, se algo desse errado. Poderiam não sobreviver, e talvez esta fosse até a melhor alternativa de todas! Mas, sobrevivendo, precisariam conviver, cooperar entre si. Tudo isto foi muito bem pensado...

A data se aproximava. Sim, tinha de ser uma data específica! Neste caso particular de criação de um portal dimensional artificial, a posição dos astros do sistema solar era muito importante! Não funcionaria em outra época, nem em outro lugar.

- Lembro bem do incidente da perseguição do OVNI. Aparentemente ele podia abrir um portal onde bem quisesse...

- Tecnologia mais avançada! Talvez algum dia sejamos capazes de fazer o mesmo, mas por hora parece que tentaram nos simplificar o máximo possível! Nos mostrando onde, quando e como funcionaria. Entenderemos um dia, mas por hora precisamos aceitar as instruções como passes mágicos, como operações que precisamos seguir à risca.

- Tem idéia do por quê nos dirigimos para o nada, para um ponto afastado da terra e da Lua onde nada existe?

- Não questiono as instruções, apenas confio nelas...

---------------------

Se aproximavam daquele ponto misterioso no espaço. Um ponto equidistante da terra e de sua lua. Era um dos dois pontos que formavam um triângulo equilátero com dois vértices nos centros dos dois corpos. Alguns corpos celestes orbitavam este centro de gravidade virtual.

- Sei que ponto é este! É um dos pontos lagrangianos estáveis do sistema Terra-Lua!

- Ponto o quê????

- Um ponto em que as atrações gravitacionais do sistema Terra-Lua se igualam! E em torno dos quais surge uma atração ilusória, que se comporta como se existisse um corpo real neste local! Fenômeno semelhante acontece no ponto equivalente do sistema Sol-Júpiter, formando a órbita estável dos asteroides troianos.

- Mas... por que aqui?

A cientista cósmica logo surgiu defendendo a descoberta:

- É um ponto de espaço tempo plano onde não existe corpo real! Talvez seja importante para a formação e entrelaçamento do portal!

Eles ativaram o mecanismo assim que a nave se aproximou do ponto lagrangiano L4 do sistema Terra-Lua. O anel púrpura começou a se formar. Alguns rezaram, mas na verdade ninguém sabia o que esperar ao atravessas aqueles fios de buracos de minhoca entrelaçados em um portal maior. Mesmo os ateus gritaram, enquanto o portal os atraía:

- Seja o que Deus quiser!

*** continua ***