Levo você comigo

- Eu não posso levá-la comigo - disse ele finalmente. - Vai contra todas as regras.

- Não pode quebrar as regras só uma vez na vida? - Inquiriu ela.

- Não quando isso pode significar a sua morte. Sério! Eu não estou saindo para um passeio no parque! Nunca parou para se perguntar porque somos chamados de "Pioneiros"?

- Você já me contou essa parte - disse ela exasperada. - Vocês vão na frente, fazem o reconhecimento do terreno, preparam o caminho para os que virão depois.

- E muitas vezes não voltamos - acrescentou ele secamente. - Porque é um trabalho de alto risco, onde não existem garantias; mas quem quer se tornar um Progressor, tem que começar como Pioneiro.

- E se tornar um Progressor é tudo o que você mais quer - replicou ela com amargura. - Não posso me interpor entre você e sua carreira.

- Não coloque as coisas nesses termos; nunca lhe escondi quem eu era e o que fazia.

- Seria impossível não saber quem você era - ela tentou sorrir. - Vestido com o uniforme dos Pioneiros na Champs-Élysées, num 14 de julho!

Ele riu.

- O mesmo sobre você, Filha da Revolução!

E depois, voltando à ficar sério:

- Então sabíamos muito bem quem éramos.

- Uma Filha da Revolução encontra um Pioneiro na Champs-Élysées num 14 de julho... - disse ela. - Realmente, não havia como esconder o que éramos.

- Somos desbravadores! - Ele bradou, erguendo um punho cerrado para o alto.

- Avante, a Revolução! - Ela respondeu no mesmo tom.

E então ficaram em silêncio, absortos um na presença do outro como se a hora do adeus houvesse chegada, e aquela fosse a última imagem que quisessem conservar nas retinas.

[15-07-2013]