A OMISSÃO DE D. ZORAIDE E O ET DE VARGINHA.

A OMISSÃO DE D. ZORAIDE E O ET DE VARGINHA.

Encontrou-se em terras remostas no interior de Minas Gerais, um indivíduo trajando roupas que mais parecia ser de outra galáxia, e um agricultor. O ser um pouco arisco e de olhos fundos, tinha em sua expressão um semblante que mais lembrava um peixe pré-histórico. Na ocasião, o senhor simples de hábitos interiorano, caminhava calmamente palitando os dentes com um raminho de mato, quando a cena lhe chamou a atenção. Com certa dificuldade nas passadas, aquela criatura esbarrou no sitiante que quase desmaiou do susto. Espere, por favor, não me faça mal, pois não tenho nada aqui comigo, apenas minhas roupas. A criatura não entendeu o que o senhor estava dizendo, e saiu em disparada em direção à mata. O homem ainda muito assustado retornou para casa sem entender o que tinha acontecido. Ao chegar à sua residência chamou imediatamente sua mulher dizendo: Zoraide, tu não sabe o que me aconteceu agora: vinha voltando para casa, e um esquisito quase me derrubou, tentei me defender do que achei que ia acontecer, mas o cara nada fez, e simplesmente desapareceu no campo. Ninguém nada entendeu. Nem a mulher, nem o homem nem muito menos o ser estranho. Contudo, o que causou todo frisson, foi à aparência daquela criatura que também ficou assustado com a reação do “matuto”. D. Zoraide, uma mulher sem nenhum estudo, mas muito esperta, começou a investigar o que estava acontecendo. Espera, espera, espera: Vamos recapitular, me conte tudo do começo José. Tá bom: eu estava descansando em baixo do juazeiro com meu galhinho de mato na boca, quando começou a cair à noite e resolvi voltar para casa, nesse momento vinha caminhando e encontrei um cara verde com uma barriga enorme e quadrada, as pernas bem fininhas, um andar muito estranho, e ainda tinha um tipo de disco voador seguindo ele bem em cima de sua cabeça... blá, blá, blá..., e foi assim que tudo ocorreu. D. Zoraide como no seriado “C.S.I.” foi até o pé de juá onde seu marido disse que estava. Lá chegando, foi averiguar pelo chão os vestígios que pudesse ter. Olhando bem devagar encontrou uma espécie de cogumelo bem fininho, e já bem mastigadinho que provavelmente seu marido havia deixado. O caso começa a ter algum sentido. Aquele cogumelo bem estranho poderia ter-lhe causado algumas alucinações. Recolheu o material e foi voltando para casa. No caminho encontrou João, um rapaz da vizinhança ligeiramente bêbado falando sozinho e com uma cueca verde limão no rosto que lhe cobria toda a face, deixando apenas os olhos e as bochechas aparentes. O vizinho não falava nada com nada, tinha uma voz bonita, porém, enrolada, parecendo que sua língua estava mais grossa e não cabia dentro da boca. Havia no chão uma vasilha grande cheia de frutas que ele acabara de colher e precisava levar para casa. Como chovia um pouco, e para não molhar, João que adorava música, levava por baixo da camisa também verde, um rádio com toca-fitas, daqueles com quatro pilhas das grandes, já bem fraquinhas, de modo que o som saía bem arrastado que não se entendia nada da música. Oxente homem, pra que é esta cueca aí? Perguntou D. Zoraide. É que a bacia está muito pesada e machucando minha cabeça, aí eu resolvi tirar a cueca, colocar um pouco de mato dentro, e fazer tipo uma rodilha para não ferir meu quengo. Realmente, a cena era muito estranha, aquele sujeito todo de verde com uma cueca na cara, um volume quadrado na barriga e uma bacia de alumínio equilibrando na cabeça. Estava tudo explicado. José estava um pouco alucinado pelo efeito da planta, e confundiu aquela pessoa com um ET. O João que achava que não ia encontrar com ninguém pelo caminho, ficou com vergonha da cueca na cabeça e saiu correndo e cambaleando quando encontrou o José. Tarde demais, Quando D. Zoraide voltou para casa, já estava toda vizinhança armada em diligência para capturar o ET visto por seu marido, tinha até reporte da rádio local, dando toda cobertura ao acontecimento. D. Zoraide, disse o repórter, todas as mulheres devem se trancar em casa que tem um extraterrestre a solta, e não queremos nenhum incidente aqui. Não, não, foi tudo um mal entendido. A população enfurecida não deu ouvidos a ela, e saíram à caça. Algum tempo depois, aproveitando-se da ocasião, o suposto ”ET” na verdade o João, ainda embriagado, afirmou que viu um objeto não identificado levantando vou ali perto. Confirmava-se assim a visita de óvni na pequena cidade de Varginha. Para não tirar o mito dessas criaturas naquela região, D. Zoraide resolveu não contar nada a ninguém, e alimentar a visitação turística naqueles campos pacatos, tendo como testemunha seu marido, um vizinho, e agora ela própria. “Depois do evento, surgiram vários depoimentos de pessoas que não podiam enxergar nem vagalume que atribuía aos “ETS”“. Foram várias aparições, até chegar a capital e enfim a mídia nacional. O prefeito da cidade mandou construir uma estátua do tal “ET” na pracinha, lanchonetes colocaram nomes relacionados aos fatos nos lanches, lojas vendendo souvenir do tema, onde até hoje lhes rendem lucros com o turismo “espacial”. Até hoje se fala com convicção na aparição de ETS em Varginha. E, para surpresa de todos, este acontecimento arrumou a vida dos diretamente envolvidos: O João e o José, que assumiu o nome artístico de Marciano, e se consolidou nacionalmente em uma dupla sertaneja de muito sucesso chamada: JOÃO MINEIRO E MARCIANO.

M. C. MEIRA 12/07/2013.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 12/07/2013
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T4383732
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