A AVENTURA CONTINUA...
A aventura continua.
No segundo dia de viagem, Iara fizera grandes progressos. Já conhecia a nave o suficiente como para realizar tarefas rotineiras e liberar a carga de Alan, que tivera que fazer tudo na sua viagem solitária de quase dois meses desde Saturno.
Entre eles também tinham feito progressos. Já não usavam tanta formalidade ao conversar. Alan estava agradecido ao brigadeiro Zenkner por enviar sua própria filha na missão. Era uma prova de confiança nele e também para dar-lhe alguém em quem podia confiar plenamente. Na hora do almoço ela tinha terminado suas tarefas e ainda preparara uma comida quente para ambos.
–Tem alguma idéia do que nos espera por lá, Alan?
–Uma vaga idéia. Veja no sistema os dados que Valerión recolheu dos tigres xawareks sobre Vênus. Ele acha que as nuvens que cobrem todo o planeta são tão impenetráveis, que só por isso ele sempre as achou suspeitas.
–Descarta a idéia de que em Vênus tenha acontecido o mesmo que na Terra?
–Uma guerra nuclear? Descarto.
–Então pode ser que os moradores não queiram ser vistos por uns seres tão belicosos como nós e tenham criado essa cortina de nuvens para se ocultar.
–É uma possibilidade, Valerión sugeriu isso. Meu pai costumava dizer que nós somos uma das raças mais letais do universo.
–E somos?
–Há piores, os dominions, os kholems, os alakranos que nunca vi, mas deles tive assustadoras referências... Valerión disse que estes podem estar em Vênus...
De repente o computador avisou:
–Cinco naves classe Skywar-U. Quatro milhões de quilômetros à proa.
–Tome os controles, Iara. Assumo as armas... Computador! Alerta de combate! Levantar escudos! Carregar lasers! Armar torpedos!
*******.
–É uma navezinha bem pequena; senhor Takashi. Não conheço o tipo – disse o capitão da USS Enterprise – mas está vindo a quase um milhão de kms por hora...!
–Isso é impossível, capitão! – disse o piloto George Takashi.
–É uma patrulheira marciana – interveio o imediato – nave inimiga.
–Obrigado, senhor Williams. Senhor Doohan, recolher velas, senhor Takashi, alerta de combate, senhor Koenig, carregar torpedos, tenente King, abra um canal.
–Canal aberto, senhor – disse a radiooperadora Michelle King.
–I am captain Eugene T. Rodden, of the spacecraft USS Enterprise of the space fleet of United States of America. Who are you?
–I am colonel Alan Claude Sarrazin, captain of the spacecraft of patrol of the Antarctic fleet C1H2 Henna, coming from Saturn – respondeu Alan.
–De Saturno? Essa é boa! Desative as armas e prepare-se para abordagem!
–Não vou parar, capitão. Tenho uma missão a cumprir e você está no meu caminho. Devo lembrar-lhe que a guerra terminou no ano passado.
–Não tenho conhecimento disso.
–Não tem? Bom, isso não interessa. Pior para você. Saia da frente!
–Último aviso! – disse o capitão da Enterprise.
–Aviso de quê?... Não sabe com quem se meteu, capitão Rodden!
*******.
A USS Eisenhower explodiu ao ser atingida na engenharia.
A USS Reagan tentou manobras evasivas, mas foi atingida pelo canhão marciano e desapareceu num clarão branco. A USS George Washington deu mais trabalho, disparou um torpedo, imediatamente destruído pelo canhão da patrulheira, que respondeu, destruindo-a em seguida. A USS Forrestal e a USS Enterprise dispararam ao mesmo tempo, mas seus torpedos foram destruídos pelo canhão marciano.
–Ele continua vindo, capitão! – disse o piloto Takashi.
–Recuar! Retirada! – ordenou o capitão Rodden – levantar velas!
As naves terrestres viraram em redondo, acelerando em direção ao sol e em seguida levantaram enormes velas solares.
–Do you escape from the fight, Enterprise? – radiou Alan.
–Não responda Michelle!
–Sim senhor... Digo, não senhor.
–Senhor Doohan! Não podemos ir mais rápido? Eles estão chegando perto!
–Se acelerarmos mais, as velas vão se partir, capitão! – disse o engenheiro.
–Senhor Koenig! Qual é o ponto fraco dessa navezinha?
–Navezinha, senhor...? Ela não tem pontos fracos – disse o oficial táctico.
–Eu disse que não devíamos continuar desafiando esses sujeitos, Gene! – disse o médico Horace Kelley – Vamos nos render, a guerra terminou, droga!
–Não para mim, Ace.
–Devemos parar antes que seja tarde demais! – insistiu o médico – Você viu o que esse sujeito fez. Havia 21 homens naquelas naves!
–Serão vingados; doutor – disse o imediato Leonard Williams – embora eu não saiba como. Essa nave parece invencível.
–Ainda bem que concorda comigo em algo, senhor Williams! Não podemos derrotar esse coronel... Como é o nome?
–Sarrazin – disse o capitão – não me é estranho, vi um relatório...
–Alan Claude Sarrazin – disse o imediato – esse deve ser o filho do criminoso procurado Martin Juan Sarrazin, terrorista e sabotador que seqüestrou a USS Atlantis no espaço; dois submarinos nucleares no Atlântico Sul; destruiu o Vale do Silício; invadiu a Área 51 em Nevada, onde matou 865 homens e 149 alienígenas cinzentos...
–Chega Lee – disse o capitão – esse relatório é secreto.
–E para quem vamos contar, Gene? – disse o médico – Estamos encerrados há mais de quatro anos dentro desta lata velha de museu!
–Lata velha de museu doutor? – interveio o engenheiro irado – Esta “lata velha de museu” tem conservado o senhor vivo e respirando todo esse tempo!
–Sim, senhor Doohan! – replicou Kelley – Nos escondendo como ratos! Não sei como ainda não estamos mortos...! Mas pelo jeito isso não vai demorar...!
–Parem de discutir! – disse o capitão – Senhor Koenig, posição do inimigo?
–Ainda em nossa cola, senhor. Não sei como não atiraram até agora.
–Opinião, senhor Williams?
–Querem saber onde nos escondemos, capitão. E vão saber, já que os levamos direto, estamos sem opção. Nunca pensamos que eles viriam algum dia em direção ao sol que nos tem ocultado e energizado.
–Há uma opção. Virar e atacar – disse Takashi.
–Isso significa nossa morte – disse Williams – e a de mil e duzentas pessoas.
–Solaris... – e o rosto do capitão Rodden ficou lívido – não podemos morrer...
*******.
Solaris.
–As velas deles são enormes, Alan. Para onde vão?
–Direto ao sol. Suspeito que eles tem uma base estacionaria em frente. Um esconderijo que a luz não permite ver. Ótima idéia.
–Deve ser Solaris – disse a jovem.
–Solaris? O que é isso?
–Uma estação a meio caminho entre a Terra e Vênus; que transmitiria energia solar que substituísse o petróleo. Foi projetada para quinze mil habitantes. Alguns operariam o sistema de acumuladores e outros fariam pesquisas diversas. Mas os cientistas nunca chegaram a ser embarcados em sua totalidade. Sabe-se que uma grande quantidade de gente foi para lá, os cientistas principais e muitos trabalhadores com suas famílias para terminar a construção. Mas a guerra não permitiu prosseguir.
–A quem pertence? Aos americanos?
–Bom... Isso hoje é controverso, Alan. Foi iniciada por russos e alemães há seis anos; em colaboração com os americanos. De terminar-se, retransmitiria energia para três espelhos em órbita da Terra... Que nunca chegaram a construir-se.
–Mas parece que agora está ocupada pelo inimigo...
–Veja à frente, Alan!
*******.
Solaris era uma enorme cidade espacial em forma de eixo com quatro rodas concêntricas, a maior com três mil metros de diâmetro na borda exterior, girando sobre si mesmas para produzir gravidade.
A meio caminho, as Skywars-U foram alcançadas por umas naves maiores providas de velas coletoras de energia solar, que ficaram ao redor da USS Enterprise em atitude protetora. A USS Forrestal fez meia volta para enfrentar a nave de Marte.
–Alerta Alan! – disse Iara.
–Já vi. Mantenha o rumo.
De repente ouviu-se no rádio uma voz em inglês com sotaque russo:
–Forrestal! Enterprise! Suspendam o ataque! Nos rendemos!
–Se for um truque... – disse Alan.
–Não é truque. Há interesses em jogo! – disse a voz.
–Quem é você?
–Capitão Anatoly Bondarchuk, da Potemkim. Não estamos armados e o capitão Rodden não vai atirar em vocês.
–De onde você saiu?
–Sou o comandante da Estação Solaris. Suspendam as hostilidades!
–Está dando cobertura a Rodden e seus capangas. Vou destruir vocês todos e sua maldita estação!
–Por favor, há famílias em Solaris! – interveio Rodden.
–Devia ter pensado nisso antes de pretender me interceptar!
–Rodden, volte para Solaris, eu vou falar com o forasteiro.
A Enterprise e a Forrestal aceleraram rumo à estação, e a Potemkim radiou:
–Quem é você?
–Sou o coronel Alan Claude Sarrazin, e esta é a patrulheira C1H2 Henna, da frota antártica, procedente de Saturno.
–Seja bem vindo a Solaris.
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O capitão da Enterprise.
Solaris era bonita, limpa, bem iluminada e quente. Nela moravam quinhentos cientistas e trabalhadores com suas famílias, umas mil e duzentas pessoas, contando as crianças nascidas ali. Havia espaço livre e energia de sobra; jardins hidropônicos e usinas de fermento que produziam comida e oxigênio. Havia laboratórios de pesquisa, vários médicos e um hospital completo. Ao ficar isolados pela guerra criaram as velas solares para mover suas naves de cabotagem, que não podiam descer em planetas, mas podiam chegar até perto da Terra.
–E adaptaram o sistema para as Skywars-U.
–Sim, coronel. O capitão Rodden continuou trazendo gente e material. Ele tem nos ajudado a sobreviver – disse o capitão Bondarchuk.
–Atacando nossas naves.
–Foi preciso. As naves dele não podiam descer na Terra. E ainda que pudessem seriam atacadas por vocês. Eu gostaria de acabar com esta situação.
–A guerra acabou o ano passado – disse Alan – mas ele não se rendeu.
–Não podia, isso significaria nossa morte. Mas agora já estamos equilibrados e auto-suficientes. Os hidropônicos produzem e a usina de fermento está em operação... Não precisamos mais que Rodden nos abasteça, mas o que ainda falta é material para acabar a construção.
–Talvez não a terminem.
–Esse é o nosso temor. Como está a Terra?
–Para pessoas como nós, está inabitável, Bondarchuk. Se quiser meu conselho, fiquem onde estão e prosperem por si mesmos até Antártica mandar...
–Você é um carniceiro! – gritou Rodden, entrando no hangar com seus seis tripulantes – Matou 21 bons homens! Eles eram meus amigos!...
–Só? Já matei muito mais do que isso em menos tempo! Fique feliz, Rodden; esses homens morreram bem...! Morreram com honra! E você, quantos já matou?
*******.
–Coronel Sarrazin – interveio Bondarchuk, conciliador – esta é a tripulação da USS Enterprise; capitão Eugene T. Rodden; imediato Leonard Lee Williams; oficial médico, doutor Horace Ace Kelley; piloto George Takashi; a tenente de comunicações Michelle King; artilheiro Andrew Koenig e o engenheiro William Will Doohan.
–Não digo que é um prazer – disse o tigre xawarek dentro de Alan – vocês têm dado muito trabalho à frota antártica.
–Se for elogio, muito obrigado, mas era preciso. Não podíamos deixar Solaris desamparada. Estamos a mão, Sarrazin!
Alan ficou em silêncio por um momento. Olhou para aqueles seres valentes, de trajes espaciais gastos e remendados e lembrou dos xawareks. Depois disse:
–Há honra em lutar pelos mais fracos, Rodden... Mas a guerra que seus mestres aliens provocaram, acaba aqui. Você e eu somos guerreiros; estamos por cima dessa mesquinharia. É admirável o que você fez por esta gente; russos e alemães, que inclusive são do lado vencedor... O que estou dizendo? Ninguém venceu, capitão! Todos perdemos. O mundo perdeu! Você não viu o horror que eu vi há dias na Terra! Seu país está devastado! O mundo todo está devastado! A Terra é um planeta de mendigos! Os traidores da raça humana que armaram você; não têm o que pilhar!
*******.
Os habitantes de Solaris eram pessoas capacitadas, inteligentes e engenhosas, que digeriram as péssimas notícias sem se alterarem.
–Permaneçam aqui. Nenhuma ajuda virá de fora até que eu informe da situação ao governo antártico. Acredito que ficarão bem e prosperarão, como nós em Rhea. Vocês estão em melhor situação, têm energia de sobra e de graça.
–Então é verdade que vocês vêm de Saturno – disse Rodden.
–Chegamos lá em dezembro de 2014, na Hércules.
–Na Hércules? – perguntou Bondarchuk – Então conhece meus camaradas Ivan Kowalsky, Tom Cikutovitch, Basil Muslimov e Vladimir Chekov... Consta-me que estavam em Marte em 2013.
–Conheci todos em Marte. Chekov e Muslimov morreram em 2014.
Um silêncio invadiu o hangar.
–Como? – perguntou Michelle King.
–Chekov morreu nos asteróides num acidente provocado por um monstro alien que invadiu a Hércules e matou mais três. Muslimov morreu em batalha em Júpiter ao serem atacados por piratas. Morreram ao todo cinco tripulantes na primeira viagem da Hércules. Por isso entrei na tripulação pouco antes de partirmos para Saturno.
–E os corpos? – perguntou Bondarchuk – foram lançados ao espaço?
–Benítez, Mendes, Paz e Chekov; foram sepultados em Pomona.
–Pomona?
–Um asteróide onde temos uma base de abastecimento e uma antena de rádio farol. Muslimov foi enterrado em Io, onde temos uma base chamada Acampamento Muslimov. Ele morreu com honra. Salvou a nave e a tripulação. Foi um herói.
O médico da Enterprise interveio:
–Há todo um maravilhoso universo de aventuras lá fora, Gene, e nós ficamos neste buraco espacial, como idiotas, lutando uma guerra perdida!
–Tínhamos nossos motivos, doutor – disse o imediato.
–Poderíamos estar em paz há um ano! Poderíamos fazer mais, se tivéssemos sido sensatos e parássemos de lutar inutilmente, senhor Williams! – gritou o médico.
–Inutilmente, doutor?...
–Lee, Ace! Parem de discutir! – disse Rodden – Coronel, há uma forma de que nós participemos disso? Talvez se nos integrarmos a sua frota...
–De repente virou a casaca e passou para nosso lado?
–Você disse que ambos lados perderam. Concordo com Ace, isto aqui não nos leva a lugar nenhum. Não quero ficar para sempre aqui, sem saber o que há lá fora.
Alan pensou nos xawareks, condenados a permanecer por milênios enterrados em Japeto se não fosse pelos terrestres.
–Vocês estão aqui há seis anos – interveio Iara após a pausa – Esperem uns meses até que nós voltemos da nossa missão em Vênus.
–Vênus?... Podemos esperar, mas invejo vocês – disse Rodden – Bondarchuk, você bem que poderia oferecer um jantar para que eles nos contem como é lá fora...
–Quem sou eu para discordar do capitão da Enterprise?... – disse o russo.
–Talvez um dia vocês possam participar de nossa jornada – disse Iara.
–Isso se vocês pararem de piratear, Rodden – acrescentou Alan – você viu que eu não estou aqui para brincar. Tenho um sistema solar para consertar.
–Quem sou eu para discordar do capitão da C1H2 Henna? – disse Rodden.
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Alan e Iara ficaram vinte e quatro horas em Solaris, abrindo os olhos dos habitantes com os relatos gravados das aventuras em Júpiter e Saturno, que não foram conhecidas por causa da guerra e do controle perverso da ditadura.
Agora sabiam a realidade do que existia lá fora, dos seres inteligentes, amigos e inimigos; do terror que se aproximava desde Bellatrix; dos kholems que dominaram a Terra; do desaparecido Império Raniano; do Imperador Tao, o Impiedoso; das rígidas leis de honra xawarek; dos piratas, dos troianos, dos milkaros e do príncipe Angztlán; acordado de um sono de milênios e sabiam do décimo terceiro conselheiro Zvar Zyszhak e dos perversos seres conhecidos como dominions.
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Vênus.
20 de maio de 2019 (190520).
Acordaram com o alarme de proximidade. Alan pulou do beliche e foi para a cabine, sentando na poltrona de pilotagem. Iara logo esteve ao seu lado.
–Coloque o cinto que vamos frear.
A patrulheira diminuiu a enorme velocidade, aproveitando a gravidade do planeta prateado, e após dar uma volta ao redor, estabilizou-se em uma órbita alta.
–Não consigo ver nada. Esse brilho não deixa! – protestou Iara.
–Por isso era chamado de Estrela da Manhã. As nuvens são altas e acho que poderíamos atravessá-las com cuidado. Veja os sensores. Campo magnético?
–Zero ponto oito da Terra – disse a jovem.
–Pesado, mas não muito. Altura das nuvens?
–Vinte mil metros da superfície. São densas demais para serem vapor de água, deve haver pó em suspensão.
–Vou dar umas voltas antes de descer. Quero gravar todos os dados possíveis.
–De acordo. Continuo a análise... Parece haver espaço sem nuvens debaixo da camada superior... Talvez oito ou nove mil metros.
–Imaginava algo assim.
–Logo depois há outra camada... Mas não é continua, parecem nuvens de verdade! Vapor de água!
–Veja quanta luz atravessa a camada externa, Iara.
–Parece ser de 25 por cento... O resto volta para fora. O calor que recebemos dele é alto, mas a lógica indica que embaixo deve ser mais frio.
–Veremos isso ao atravessar. Veja se há carbono.
–Há, sim. Como se houvesse vida... Vegetação!
–Isto está ficando interessante, Iara.
–Concordo. Em algumas partes não há. E há setores de baixa temperatura, veja na tela, estou confeccionando um mapa infravermelho.
–Água? Poderiam ser lagos ou mares?
–Não há precisão nesta altura, Alan. Mas parece haver nitrogênio e oxigênio.
–Em que proporção?
–Não dá para saber, ainda.
–Veja o espectrômetro quando passarmos pelo lado noturno.
–De acordo. Aqui já não há como ver mais nada.
Desceram a dez mil metros, entre a apertada camada superior de nuvens e a rala camada inferior, comprovadamente de vapor de água. Já haviam feito cinco voltas ao redor do planeta, fazendo um levantamento detalhado da superfície para incluir no sistema, tal qual tinham feito na Terra antes de partir.
Enquanto Iara atendia os sensores, Alan pilotava pelas áreas que o sistema indicava como não pesquisadas.
–Computador! Calcular rotação do planeta!
–24 horas, 16 minutos, 16,8916666 segundos padrão.
–A ditadura afirma que a rotação de Vênus é igual á translação – disse ela.
–Hoje vamos desvendar muitas mentiras da ditadura – disse Alan.
–Mal posso esperar, Alan. Estou sumamente curiosa.
–Vamos com calma. Radiação?
–Menor que na Terra. O eixo planetário é inclinado 32 graus, equador com terra seca e uma temperatura de 70 graus... Nos pólos há terra mais fria; 40 graus. A temperatura superficial media parece ser entre 55 e 65 graus. Poderíamos agüentar, se agüentamos uma sauna...
–Já temos dados da atmosfera?
–Nitrogênio 75 por cento e oxigênio 22 por cento. Podemos respirar aí apesar de que os outros gases podem deixar a atmosfera pesada e malcheirosa. A gravitação é menor que na Terra. Talvez ao nível do solo seja um pouco mais fresco, o ar quente é ascendente. Em alguns setores parece que está chovendo.
–Isso pode significar vida vegetal abundante.
–Há vida vegetal em alguns setores, se este sensor não estiver errado.
–Não está, não, Iara. Isto é tecnologia alienígena. Veja se há vida animal.
–Há pontos quentes em vários setores. Em alguns há grandes concentrações.
–Aldeias, cidades...?
–Não me faça uma pergunta dessas, Alan.
–Se você soubesse tudo o que eu sei, e visto tudo o que eu vi por aí, não ficaria me olhando com essa cara, moça.
–Desculpe minha incredulidade – disse ela, constrangida – você deve ter razão, eu ainda penso como provinciana. Não cheguei a ter contato com os aliens marcianos, apesar de que participei da guerra...
–Não se ofenda comigo, Iara. Sou um tanto grosseiro às vezes. Ainda penso como um tigre xawarek. Desculpe esse meu lado negro.
–Não se preocupe, Alan, não estou ofendida – disse a jovem com um sorriso encantador – Veja!... No lado noturno há luzes!
–Eu não disse? Pergunto de novo, Iara; aldeias...? Cidades...?
–Cidades. Parecem simétricas demais para serem aldeias.
–Veja se há atividade industrial, siderúrgicas, fogo, energia atômica...
–Confirmado, há pontos muito quentes e pontos com muita radiação. Isso só pode significar uma civilização... Uma civilização industrial.
–Ótimo, muito bem! Agora que domina bem a aparelhagem de detecção e sondagem, começou a pensar como eu, tenente Iara.
–Tenho um excelente professor, coronel.
A patrulheira sulcou o céu de Vênus a 5 mach com estrondoso barulho dos manobradores atmosféricos, deixando uma nuvem de fumaça atrás de si.
Embaixo, formas agitaram-se. Algumas pularam na água e outras saíram dela; outras subiram nas arvores e outras desceram delas.
No fundo da mata, aonde a luz não chega, mas chega o barulho dos motores da patrulheira, outras formas respondem aos gritos...
Gritos de fúria...!
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Segue em: A AVENTURA CONTINUA II - UM NOVO MUNDO
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O conto A AVENTURA CONTINUA... forma parte integrante da saga inédita
Mundos Paralelos ® – Fase 2 - Volume IV, Capítulo 30 Páginas 45 a 51;
e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados, sarracena.blogspot.com
O volume 1 da saga pode ser comprado em:
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