Uma conversa

Uma conversa

Heraldito andava de cabeça baixa. Em seu braço direito estavam comportadas três pastas, cada qual de cor diferente, e em duas delas uma quantidade considerável de folhas e documentos. Em sua face esboçava-se não mais que seriedade: estar sério, além de necessário, era quase uma obrigação daquele momento. Ele havia percorrido um longo corredor, dividido em três extensas pernas, e estava agora parado em frente a uma porta metalizada, que refletia sua silhueta enquanto uma inflamada luz avermelhada se projetava sobre seu corpo.

Passadas alguns segundos, a porta se abria: primeiro, uma folha, a mesma do reflexo, e uma segunda depois, mais grossa e azulada. Ele sabia que tinha que entrar, e foi o que fez. O espaço era uma grande sala, ampla e alta, com um tipo de piso espelhado e liso de tons escuros. Conforme avançava ficava mais perceptível uma porta-balcão de vidro, e do outro lado um homem sentado numa mesa de madeira, solitário em sua escrita. Ao chegar ao meio do salão à porta de vidro se abria automaticamente, um tipo de ordem metafórica para ele avançar. Quando estava quase na barreira da porta de vidro o homem sentado gesticulou com a mão pedindo que sentasse numa cadeira próxima a ele.

O coração de Heraldito batia mais forte. Era seu grande momento.

- Olá Heraldito. Falaram-me que você, descobriu?

O olhar do homem trazia ao mesmo tempo curiosidade, indiferença, autoridade e mais que isso tudo, experiência, sendo desviado depois para as pastas que Heraldito repousava no colo.

- Sim. Gostaria que o senhor examinasse esses relatórios. Não temos certeza se é ou não o planeta 9C.

O homem abria as pastas e folha por folha olhava os relatórios: em algumas se atentava mais, e em outras menos. Outras vezes colocava duas folhas lado a lado, parecendo comparar informações. Heraldito apenas olhava, não conseguindo disfarçar o nervosismo, mesmo ao desviar o olhar pros lados.

Passados alguns minutos, o homem que havia recebido Heraldito fechava as três pastas. Uma das mãos dele ia ao queixo. A outra na cintura. Seu pensamento ia longe.

- Heraldito.

- Pois não?

- Você que esteve à frente de tudo. O que acha?

- Bom, é difícil ter certeza...

- Esteja à vontade para responder. Fique realmente à vontade.

- Olha...

- Sim?

- Isso já faz dez anos. Muito tempo atrás. Não sei se o 9C é mesmo o que achamos que seja. Esses relatórios foram vistos e revistos, escritos e reescritos, discutidos e lidos, muitas vezes. Quando olho as fotos procuro...

- Muito bom. O que temos é isso. Como você disse foi a melhor possibilidade em dez anos. Queria apenas te pedir para não perdê-la. Só em chegar nisso vocês tem todo o mérito. Talvez o que tenhamos não seja o que esperávamos, mas segurem o que temos. Combinado, Heraldito?

- Combinado!