Mesmo restaurante... outro planeta

Dedo indicador e médio juntos, ele fez um gesto como se fosse dispensar uma bênção sobre a mesinha redonda do restaurante. Uma tela translúcida povoada por caracteres brilhantes surgiu no ar, pairando sobre a toalha branca. Ela apenas olhou para o cardápio, sem dar-lhe muita atenção.

- Enfim, o que vai querer? - Perguntou ele, fazendo o indicador deslizar sobre as colunas que piscavam.

- Comida... sempre achei isso tão engraçado.

- Engraçado?

- Como alguns humanos faziam do ato de comer um ritual. Eu realmente não entendia...

E depois de uma ligeira pausa:

- Havia muita coisa que eu não entendia.

- E agora você entende? - Inquiriu ele, pousando ambas as mãos sobre a mesa.

- E agora eu entendo... alguma coisa. - Ela abriu um sorriso.

- A vida é um aprendizado - ponderou ele. - E, mais do que combustível para o corpo, comida pode ser um prazer.

- Prazer? Sim... é isso! Prazer. Como poderia eu saber?

- Não poderia - sentenciou ele. - Não sem experimentar primeiro. Já provou um "steak au poivre"?

- Eu... não.

- Vai excitar as suas papilas gustativas - prosseguiu ele. - Depois dessa experiência gastronômica, você provavelmente nunca mais será a mesma.

- Isso é sério? - Riu-se ela. - Vou ser abduzida por um bife?

- E, para acompanhar, um bom tinto; jovem e moderadamente ácido - continuou ele, lendo o cardápio. - Ah, temos aqui um Carmenère que acho que vai servir.

Tocou num ícone vermelho no rodapé do menu luminoso e a tela desapareceu.

- Certa vez eu estive num planeta onde haviam pessoas que serviam às mesas nos restaurantes...

- Que exótico!

- "Garçons", era como os chamavam.

- Garçom... - repetiu ela.

Ele ergueu-se da mesa, e colocando-se ao lado direito dela, perguntou:

- Já fez seu pedido minha senhora?

[01-06-2013]