Mensageiro - Parte 4

Embora muito importante para decodificar o restante da mensagem, aquela seria a única frase em latim encontrada em meio a todos os demais textos armazenados nas memórias daquele mensageiro robótico. E embora em parte compreensível, foi uma surpresa encontrar um texto escrito naquele verdadeiro babel de línguas humanas. Os alienigenas usavam livremente vocábulos em inglês, em espanhol, português, francês, mandarim, italiano, japonês... Estariam tentando ser cordiais, se utilizando de todas as línguas humanas que conheciam para deixar claro que não dedicavam preferência especial a nenhuma delas? Que consideravam todas igualmente? Ou tentavam encontrar, entre tantas palavras possíveis em tantas línguas para se expressar alguma ideia, aquela que mais se parecia com a palavra correspondente em sua própria lingua alienígena? Uma análise de frequência das línguas utilizadas para formar as frases não deixou dúvida: correspondia mais ou menos à distribuição das línguas nas informações transmitidas pelo planeta Terra a pouco mais de um século em suas comunicações internas, invariavelmente enviadas ao espaço ao seu redor. Os alienígenas provavelmente tiveram dificuldade para separar cada uma das línguas terrestres que haviam captado ao longo deste tempo todo, e entenderam que o melhor seria utilizar os vocábulos naquela distribuição de frequências observada.

Mas além desta confusão de palavras, a sintaxe da língua que eles haviam criado combinando a maior parte das línguas humanas era uma incógnita ainda maior! Neste caso sim os linguistas supunham que eles se esforçavam para adaptar a sintaxe de sua própria língua alienígena nesta língua nova pan-humana que haviam inventado. Como explicar, por exemplo, a enigmática afirmação de que "corrido amarelos em faixas por como transparentes após garotas entre nada rarefeito..." Sim, haviam descoberto como decodificar e ler a mensagem. Mas aparentemente isto ainda não ajudava muito.

- Por que eles não escreveram tudo em latim? Isto facilitaria muito nosso trabalho.

- Provavelmente porque eles não entendiam latim...

- Quê você está dizendo? Eles não escreveram aquela frase?

- Na verdade não. Eles só codificaram uma outra frase nossa. Podem ter deduzido a intenção dela, supunham que seria alguma mensagem de paz, e nos repetiram como forma de dizer olá. Mas duvido que a tenham compreendido seu significado...

Mas ainda era intrigante ver numa mensagem alienígena algo gravado numa sonda que havíamos enviado no século passado. Teria sido interceptada? Improvável. Perdida atualmente em meio a tantos pedaços de rocha e gelo da Nuvem de Ort, seria muito mais difícil que encontrar uma agulha no palheiro. Seria pior que procurar um elétron num reticulado cristalino...

- Espera aí. Mesmo na remota hipótese de terem encontrado alguma das nossas Voyagers, uma coisa não se encaixa.

- O quê?

- Eles ESCREVERAM a mensagem em latim, não é? Inclusive com a grafia da época, onde o U e o V eram a mesma letra.

- De fato. Onde quer chegar?

- Nas Voyagers, estas mensagens não estão escritas. Elas estão gravadas em seus discos dourados, na forma de áudio...

- Não é que você tem razão!

- Duvido que eles saberiam como escrever em latim uma frase que ouvissem em tal língua. Muito menos com a grafia original das palavras.

*** continua ***