Mensageiro - Parte 2

Estavam perdidos. Eles erraram muito seu alvo. Viajar por buracos de minhoca, estes incríveis atalhos no espaço tempo, tinha seu preço. E era alto!

Mas foram preparados para isto. Era uma possibilidade real, levaram recursos suficientes para encararem de frente o problema. Uma galáxia distante? O vazio interestelar? Ou mesmo o oposto: um berçário estelar com fontes de luz e calor vindas de todas as direções para as quais olhassem? Desde que saíssem em algum lugar DESTE universo, com a familiar constante gravitacional, o mesmo limite imposto pela velocidade da luz e a mesma predominância da matéria sobre a antimatéria, estaria tudo bem!

Saíram próximos de um sistema estelar. Um sistema magnífico, com duas estrelas menores orbitando uma estrela central. Sorte? Não foi bem assim. A antiga Lei de Murphy aprontou mais uma das suas...

Muitos era os sistemas planetários que apresentavam planetas rochosos orbitando suas estrelas centrais. A maior parte deles, na verdade! Parece regra se formarem primeiro os gigantes gasosos, acumulando gases leves mas sem atingir massa suficiente para se acenderem como estrelas companheiras da principal. Campo preparado para a segunda etapa, que é a formação de planetas rochosos mais internos, densos e sólidos. Esta era a regra, e a chance de se cair num sistema que seguia esta regra era muito grande. Mas, embora poucas, haviam as exceções. E eles caíram num destes sistemas que era exceção...

Os gigantes gasosos deste sistema cresceram demais, estavam muito perto da estrela central, e acumularam massa suficiente para iniciarem suas próprias reações termonucleares de fusão em seus núcleos. Elas se acenderam como novas estrelas! Consumiram toda a massa em volta, todos os pequenos protoplanetas que encontraram foram engolidos por suas vorazes forças gravitacionais. Não restou matéria nem espaço para a formação de planetas rochosos naquele sistema. Apenas um protoplaneta ou outro, nenhum com mais de 50 quilômetros de diâmetro, insistia em orbitar de forma arriscada a estrela central, sujeito a serem a qualquer momento apanhados pela imensa força de atração de uma de suas irmãs mais novas. Foi este o sistema inóspito que os pioneiros encontraram na outra ponta de seu salto cego...

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Eles estavam preparados para quase tudo que pudessem encontrar. Em seu sistema de origem já haviam domado com sucesso infernos quentes e outros gelados. Só não esperavam mesmo parar em algum lugar onde, literalmente, não houvesse chão infernal algum para se pisar.

Não reconheciam as constelações em volta, o que indicava que deveriam estar mesmo bem longe de casa! Se tivessem se deslocado centenas ou mesmo milhares de anos luz da origem, ao menos alguns padrões estelares eles seriam capazes de reconhecer, numa versão bem mais evoluída de como se orientavam os antigos navegantes dos mares de seu planeta natal. Mas nada! Nenhuma configuração familiar. Eles estavam longe. Longe? Nem o conceito de distância era confiável onde se encontravam. Esqueçam a distância euclideana que leva em conta três coordenadas de espaço. Eles poderiam inclusive estar bem perto espacialmente de sua casa, mas bem longe quando considerada a grandeza escalar tempo... Seria aquela estrela amarela brilhante sua estrela de origem? Difícil saber! Sua estrela original poderia ser muito bem aquela outra brilhante gigante vermelha na direção oposta! Ou já poderia ter explodido, deixado de existir. Ou, quem sabe, ainda pior: sua estrela poderia nem ter começado a existir ainda!

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Sim, foi uma loucura este salto no vazio. Mas os pioneiros não se queixavam. Todos sabiam dos riscos! Precisavam agora sobreviver. Esperar um resgate? Sim, eles tinham esperanças! Talvez a técnica fosse dominada. Talvez os descendentes que ficaram conseguissem localizá-los, buscá-los de volta. Precisavam se manter enquanto esperavam. Mas... precisavam de terra firme! Alguma terra firme!

Aquele planetoide foi um achado! Era bastante esférico mesmo! Surpreendente para um pedaço de rocha de 10 kilômetros de diâmetro. Uma coincidência notável, já que sua irrisória gravidade de forma alguma poderia explicar o seu formato geométrico, como acontecia com planetas rochosos maiores. De qualquer forma, era um chão, um lugar no qual poderiam pisar!

Colonizar sua superfície? Lógico que não! Gravidade insignificante e ausência de atmosfera são apenas dois motivos que podem ser citados para abandonar esta idéia maluca! Mas poderiam escavá-lo, colonizar seu interior. Hélio-3 parecia abundante naquele sistema, e eles poderiam instalar ejetores de plasma ao longo de seu equador para aumentar sua rotação. Com o tempo haveria força centrífuga o suficiente para viverem confortáveis, sob uma pseudo-gravidade agradável, os futuros habitantes das calotas subterrâneas escavadas naquele proto-planeta! Sim, eles poderiam viver mais ou menos bem enquanto esperavam seus salvadores...

*** CONTINUA ***