Impressões em papel termossensível

Um ruído às suas costas fez com que girasse na cadeira de rodízios: uma folha de papel emergia lentamente do velho aparelho de fax.

- Isso ainda funciona? - Perguntou-se surpreso.

- Claro que funciona - respondeu Amanda, sem levantar os olhos do último relatório trimestral.

- Alguém ainda não sabe que inventaram o e-mail? - Insistiu.

- Eu diria que alguém não está com pressa - retrucou Amanda. E erguendo os olhos do relatório:

- Mas é bom ver do que se trata.

Ele suspirou e moveu os pés, fazendo a cadeira deslizar até a mesa do fax. Um "bipe" indicou que a transmissão havia sido concluída. Arrancou a página pendente e leu-a cuidadosamente.

- É do Controle de Fase. O supervisor está pedindo para rodar o autoteste na Estação 42.

Amanda tirou os óculos de leitura e colocou-os sobre o relatório aberto.

- Isso é sério?

- Parece bem sério - respondeu ele, balançando a folha de papel térmico.

- Mas a troco de quê?

- Uma flutuação numa leitura, hoje de madrugada. Um pico de 283 nanossegundos, é o que diz aqui.

Amanda recolocou os óculos e estendeu a mão para pegar a folha. Olhou o papel de cima a baixo, resmungando.

- Eles sabem que vai descompensar se rodarmos o autoteste agora na 42... não posso reprogramar a estação 41 para tapar o buraco.

- Pode ser feito só na 42? - Perguntou ele, curioso.

Foi a vez de Amanda suspirar.

- Pode. Claro que pode. E depois vamos ter que recolocar a porcaria toda em fase novamente.

- O meu medo era esse. Estamos falando de quantas estações, exatamente?

- Todas as 18 do Nodo Inferior.

Ele assoviou.

- Uau!

- Uau mesmo. Agora entendi a razão do fax; ele sabia o efeito que essa notícia iria causar, e procurou restringir ao máximo a quantidade de pessoas que tomariam conhecimento dela.

- Sempre podemos reenviar... - ponderou ele.

- Esquece - respondeu Amanda. - Cópia de cópia não costuma ficar muito legível.

[17-05-2013]