Olho de Cronos

Seus olhos não conseguiam focar em nada. O teto da sala estava turvo, e a cada piscada pareciam se passar longos minutos. A sua percepção enfoca na música de fundo, que crescia e se tornava mais evidente, e no ventilador peculiar que girava com lentidão. Air on the G string, de Bach, abria sua mente como um prólogo do desconhecido, e ao mesmo tempo, paradoxalmente nostálgico.

- Você acredita em Deus?

- Não... Mas eu acredito em você.

A música cessa, e um longo e negro silêncio se forma. Ao abrir os olhos sua cabeça começara a latejar demasiadamente. Tenta alcançar com sua mão direita à fonte da dor enquanto apoiava com sua esquerda para a sustentação. Enquanto levantava, sentia uma pequena parte de trás de sua cabeça úmida e quente. Já não estava mais em alguma sala; John deixara para trás a floresta sombria. Entrava agora em uma pequena cidade que lhe parecia abandonada. Assim como a floresta de outrora, só havia o barulho constante do vento como companhia; não era nem forte, mas também não tão fraco – era perfeito para climatizar o misterioso. Felizmente havia uma estrada asfaltada que o guiara.

Havia uma entrada ampla, mas toda a cidade era percorrida por uma espécie de cerca alta de madeira envelhecida; parecia estar lá desde seus primórdios. Algumas das casas eram feitas com tijolos escuros. Clássicas, porém bem antigas - elas cercavam a praça em que estava. Pensava consigo o que era aquele lugar, mas ao mesmo tempo sentia aquela sensação de Déjà vu. A luz dos três postes solitários agora piscava intermitentemente, lhe chamando a atenção. John revista seus bolsos e encontra um maço de cigarros, um pedaço de couro danificado, um lápis rosa, uma folha dobrada, um pano preto, uma tesoura e duas balas de revolver. Indagava-se onde havia conseguido tais itens, e mais importante, para que lhe serviriam. Teriam algum sentido? Isso ele não poderia responder, mas tinha a sensação de que estavam em sua posse por alguma razão.

Decidiu entrar em o que parecia uma loja abandonada; ela estava bem de frente à entrada. Assim poderia achar pistas, ou até alguma pessoa que o informasse onde estava. Antes de entrar, John repara em alguns panfletos velhos grudados na janela. Era difícil de ler, mas tinha certeza de que em um deles constavam informações sobre membros humanos ou órgãos.

Dentro da loja o barulho do vento era ínfimo, mas ainda presente. Seus passos ecoavam pelo pequeno espaço. Do balcão se podia ver que as prateleiras estavam completamente reviradas e pútridas. Alguns fragmentos no chão tinham caído do teto há tanto tempo que pareciam fazer parte do mesmo; elas juntaram uma grande quantidade de poeira. John Alcança um jornal que estava no chão. A data era de treze de junho de dois mil e vinte e três. A principal notícia, ao menos a notícia da capa, era algo sobre escassez de comida e água potável e uma tabela de preços. Logo abaixo constava uma lista de pessoas desaparecidas da semana e um artigo. John coloca o jornal em cima do balcão e olha pela janela dos fundos da loja, onde podia ver algumas árvores muito velhas e uma série de caminhos confusos contornados por muros altos de tijolo.

Já ao lado de fora da loja, John escuta bem distante o barulho de disparos de alguma arma automática. Não sabia exatamente a direção, mas não parecia estar perto; para seu alívio e preocupação. Aquele era definitivamente o sinal de que não estava sozinho. Ao seu lado direito, referente à posição em que saíra da loja, havia um caminho não muito estreito por entre as casas. O local não era tão mal cuidado, contrastando o asfalto esburacado da breve estrada que percorrera; bem à sua frente havia uma pequena guarita e um homem completamente coberto por um manto marrom bem escuro e sujo. Parecia não chover faz tempo, mas a extremidade inferior da vestimenta estava visivelmente úmida. Com certo receio, John fala com o estranho.

- Ei... Tudo bem? Poderia dizer onde estou?

O homem parecia o encarar por alguns segundos, mas logo começa a falar.

- Deveria tomar cuidado em perambular por aí... – Ele da uma pequena pausa para analisar melhor - Assim.

- “Assim”? Não entendi.

- De toda a forma, é melhor entrar antes que passem por aqui.

- Quem vai passar?

- Como assim “quem vai passar”? Os Lichs, logicamente. Aqueles... Seres malditos – o homem demonstrava tanto repulsa quanto medo – Não se engane pela falta de visão; seus outros sentidos são tão aguçados quanto à de um super-humano com paixão gananciosa.

John parecia se arrepender da pergunta, mas mesmo assim a curiosidade de saber o que caçavam foi maior. O homem encapuzado lhe diz que caçam pedaços de corpos humanos não decompostos. Podia-se dizer que era a única moeda de valor, juntamente de cigarros e outras drogas sintéticas. A revelação o intriga e assusta; afinal estava um pouco suado e sujo, mas poderia se gabar de ser bem valioso, levando em conta o mercado. Como se já soubesse o que deveria fazer, entrega um cigarro como pedágio, e segue seu caminho adentrando o que agora parecia uma vila de fato. Ao menos havia pessoas na rua.

A primeira impressão que tivera era de uma vila suja, mas ia muito além. As pessoas não eram exatamente o que se pode chamar de uma vizinhança acolhedora. Grande parte andava com vestimentas similares ao porteiro; todos mal encarados ou esbanjados de tristeza e sofrimento no olhar. Havia também alguns sentados ao chão – apesar de parecer mais largados do que sentados. Aparentemente, todos ali tinham algo a esconder. Dos poucos que não estavam cobertos podia-se ver algo que agredia os olhos. Membros faltando, pedaços do corpo se decompondo enquanto ainda vivos. Uma mulher em particular chamava a atenção. Ela não tinha ambos os olhos – havia um espaço vazio no lugar dos olhos, como se de uma hora para a outra tivessem derretido ou pulado fora de sua cabeça. Em alguns casos a decomposição estava tão avançada que seria compreensível questionar se a pessoa ainda estava viva. Quase sem exceção, todos fumavam ou pareciam dopados – isso inclui crianças; eram raras, mas ainda havia algumas vagando pela cidade.

Podiam-se ver algumas casas, um grande hospital velho e alguns veículos mais podres e abandonados que as próprias pessoas; pareciam não ser usados há muito, muito tempo. Enquanto caminhava, sem perceber, acabara passando em frente da mulher sem os olhos.

- Senhor, senhora? Por favor...

John fita a mulher por alguns segundos sem falar, horrorizado, mas logo a responde.

- Ahn... Sim?

- Poderia me ajudar? Por acaso teria algo para tapar meus ferimentos?

- Por que não vai até o hospital? Eu posso te ajudar se quiser.

- Você é novo aqui, não é? Senhor...

- John.

- Senhor John. Meu nome é Susan. – Mesmo hesitante, ele responde ao cumprimento com um aperto de mãos – O Hospital só aceita clientes. E como clientes, eu quero dizer aqueles que pagam. Se você quer olhos, deve se pagar o valor equivalente em cigarros, pedaços de seu corpo ou... Do corpo de outros.

- Do corpo de outros? Que diabo de hospital é esse? Não há outro jeito?

- Infelizmente não.

Buscava em seus bolsos algo que possa lhe oferecer como ajuda. O couro não parecia o melhor, mais o pano deveria servir. Ele enfaixa a cabeça de Susan para cobrir seus olhos.

- Mais apresentável assim, aposto – Ela da uma pequena risada – Muito obrigada. Quem saiba eu consiga olhos novos, né?

Ambos sabiam que não era possível transplantar um olho inteiro. Quando o nervo ótico é destruído, não há jeito de reconstruí-lo. Mesmo assim, concorda com Susan; talvez fosse o melhor a se fazer. Esperança sempre ajudava. John senta a seu lado, na calçada quebrada, e aproveita o momento para ser bem direto e lhe fazer algumas perguntas.

- Susan, eu não lembro como cheguei e nem o que vim fazer aqui, mas preciso de algumas respostas. Eu lembro vagamente algo sobre uma guerra. O que me pode dizer sobre isso?

- Você diz a Terceira Guerra Mundial? Começou em 2014... Ou será que foi em 2016? Nunca fui muito boa com datas. Acabou há alguns anos.

- E quem ganhou?

- Oh... Vitória? Não houve vencedores. Pode-se dizer que o mundo quase foi destruído por completo. Outros dizem que foi, e estamos no purgatório. Mas a verdade é que a radiação causou uma mutação em algumas bactérias. O que não foi destruído pela explosão, foi condenado a uma vida de sofrimento sendo decomposto aos poucos, de fora para dentro. Os órgãos vitais são os últimos afetados. Essa doença é conhecida como “Putrefação”.

- Você parece saber bastante para uma... Com o perdão do termo, mendiga.

- Mendiga – Ela ri enquanto ajeita o pano que lhe cobria os olhos – Pode-se dizer que quase todos aqui somos. Não só aqui, como provavelmente em todo o mundo. A última informação transmitida pela mídia, antes de ser completamente destruída por vândalos ou por escassez de energia e manutenção, era que a doença era presente em quase todo o mundo. Ou o que restou dele.

- Com o que você trabalhava antes disso tudo acontecer?

- Eu ainda trabalhava há alguns meses, mas fui forçada a parar quando a Putrefação começou a me afetar. Eu sou... Era uma cientista. Trabalhava em um jeito de... – Ela parece em dúvida em como falar – Reverter tudo isso.

- Reverter a Doença? Uma cura?

- Não... Uma solução mais drástica. “Os miseráveis não tem outro remédio, a não ser a esperança”. Desculpe o trocadilho, mas Shakespeare me pareceu bem apropriado para o momento. Se tiver interesse, vá até a casa com telhado rosa; talvez seja seu... Como posso dizer... Destino. Infelizmente no meu estado, não vou conseguir te dizer como chegar lá.

John se despedira de Susan, que lhe entrega um livreto. Ela recomenda tentar conseguir informações no hospital, mas que deveria tomar cuidado. Estava intrigado pela tal casa de telhado rosado, o qual a descrição parecia-lhe familiar, e o lápis que encontrara em seu bolso outrora; seria coincidência?

Enquanto passava pelas portas do hospital, ouvia uma criança de aparentes dez anos questionar à sua mãe quando conseguiria uma perna nova. A carne da perna da menina estava em avançado estado de decomposição, aparecendo até o osso em algumas partes. Ao vê-lo, a enfermeira logo trata de lhe abordar com muito respeito e atenção. “Um homem inteiro como você deve ser muito rico”. Dizia-lhe enquanto o servia água.

- Estou aqui apenas por informações. Pago dez cigarros para me dizer onde poderia encontrar uma casa de telhado rosado.

Após algumas descrições detalhadas por onde deveria passar, John paga à enfermeira e segue seu caminho. Parecia ter que sair da falsa segurança da cidade para chegar até a casa, mas valeria a pena. Afinal, o que estivesse lá poderia responder suas perguntas. Ao sair do Hospital, ele se depara com um alvoroço que começara há alguns momentos. Os que podiam, corriam, outros tentavam se esconder ou parecer o mais enfermo possível – o que não deveria ser muito difícil, na verdade. Quatro homens cobertos por um manto negro e uma aura assustadora entram na vila; o porteiro os deixa entrar, e sem nem dizer uma palavra, abaixa a cabeça e se encolhe no canto da guarita.

Susan lhe joga um manto velho e diz para se sentar ao seu lado. John se cobre e se encolhe ao lado dela. Agora bem perto, ambos conversam com o máximo de cuidado para não chamar atenção, enquanto os homens capturam algumas pessoas na rua e os levam a um grande veículo parado na praça da entrada de outrora.

- O que eles vão fazer com essas pessoas?

- Eles não vão mata-los, mas antes fosse... Os Lichs irão apenas pegar as partes que os interessam. O que acontece com o “gado” depois, não lhes interessa. Uns monstros! Tão longe de serem humanos que não são capazes de sentir nada. Nem compaixão, nem culpa. Eles são temidos, mas ainda assim recebem uma grande colaboração do Hospital... Eles não costumam vir aqui, mas se vieram só pode significar uma coisa. O Hospital não cumpriu com sua parte no acordo.

Um deles vinha em sua direção esticando um de seus braços; John, astutamente, pega o couro de porco velho e maltratado. À medida que aproximava podiam-se ver as mãos brancas que talvez nunca tivessem entrado em contato com a luz do sol; eram quase transparentes, mas bem sujas ao mesmo tempo. O cheiro e a textura do couro enganam o Lich, que segue seu caminho em direção a outras pessoas que tentavam se esgueirar.

- Como conseguiu engana-lo?

- Eu não sei exatamente... Eu tinha esse pedaço de couro em meu bolso. Acho que foi pura sorte.

- Sorte... – Susan parecia bem série e pensativa – Não sei se deve chamar isso de sorte. De toda forma, você não pode mais ficar aqui. O couro não irá os enganar para sempre.

- Eu também tenho cigarros em meu bolso, mesmo não sendo fumante. Cigarros, o couro e esse lápis rosa... Não deve ser coincidência. Acho que de algum jeito eu devia te encontrar, e mais importante, chegar à casa de telhado rosa. Obrigado Susan – ele diz enquanto se levanta – Adeus.

Após uma longa caminhada, John se depara com a casa. Estava envelhecida e desgastada; a única coisa que diferia ela de outras, era de fato seu telhado incomum. Apesar de toda a poeira, o rosa ainda se destacava. A porta estava lacrada por algum tipo de polímero branco, como algemas de plásticos. Pareciam ser impossíveis de quebrar com as mãos nuas; a tesoura o servira bem, como já era de se esperar. Ao adentrar na casa escura e mofada, logo se via pequenos indícios de que alguém havia passado por ali recentemente. O sofá estava empoeirado em somente um lado; no chão havia quase uma trilha de madeira que se destacavam dentre toda a poeira e tralhas. A trilha seguia do sofá às escadarias que o levaram a uma porta trancada no segundo andar. Falhou na tentativa de abri-la, e percebeu que precisaria da chave ou da força que não desfrutava após uma longa caminhada. Ouvira então passos vindos da sala trancada.

- Oi! Alguém aí?

Uma voz surge abafada pela acústica da sala fechada.

- Se você conhecesse alguém exatamente igual ao que você era, ou ao que vai ser, iria odiar ou amar essa pessoa? Passou pelos mesmos erros, e que vai cometer outros que você já perpetrou.

Aproximava-se com receio da porta. Colocara o ouvido contra a mesma, e fazia o máximo de silêncio que sua respiração meio ofegante permitia - tomou um pequeno susto com o barulho do destrancar da porta. Ela se abre lentamente; como um típico clichê de filme de terror. A associação de terror da ficção ao mistério que encarava em sua frente definitivamente não era encorajador, porém uma voz tranquila o chamava. O homem, ainda de costas, começa um discurso, como se já tivesse antecipado a onde a conversa levaria.

- Podemos começar com um ponto no espaço. Um ponto não tem dimensões. É somente uma ideia imaginária que indica uma posição em determinado espaço, ou sistema. Adicionando um segundo ponto, se cria uma posição diferente. Ambos são de tamanho indeterminado. Isso nos leva agora ao que interessa. Ao adicionar uma linha que una os dois pontos, criamos a primeira dimensão. Um objeto, nessa dimensão, só tem comprimento. Se cruzarmos outro par de pontos unidos por uma linha entre os de outrora, teremos a segunda dimensão. Esse objeto, agora, tem comprimento e largura. Uma forma fácil de entender é imaginar um objeto desenhado em uma folha de papel. Ele tem somente duas dimensões, mesmo adicionando a ilusão de profundidade. Por não ter uma profundidade calculável na realidade, o desenho é somente um objeto “2D”.

O homem se senta em uma cadeira na gigantesca sala. Havia computadores, máquinas complexas, muitos e muitos fios conectados por todo o local e um ventilador peculiar. Ao lado da cadeira, havia uma máquina singular. Parecia uma enorme cápsula, até havia um assento dentro.

- Imaginar a terceira dimensão é o mais fácil. Estamos dentro disso agora. Um objeto 3D tem comprimento, profundidade e largura. Preciso que mantenha isso em mente: A dimensão superior é o que permite você a pular de um ponto a outro na dimensão abaixo. Imagine um desenho 2D caminhando em uma superfície 2D – Ele da uma pausa enquanto acende o cigarro – Se essa superfície for dobrada ao meio, criamos uma maneira do desenho desaparecer de um ponto do espaço em seu mundo bidimensional e instantaneamente aparecer em outro. Está entendendo? Bom, acho que você ainda não chegou ao nível de entendimento que eu estou. Eu não... Você não pode demorar mais treze anos para descobrir isso.

- Descobrir o que?

O homem parece ignorar sua pergunta, e continua a explicar.

- Imagine as três dimensões dessa forma – Ele se ajeita na cadeira e gesticula enquanto fala – Comprimento, largura e profundidade. Mas isso não define toda a realidade. Para a duração, temos a quarta dimensão. A diferença é que a linha, na quarta dimensão, é o tempo; os pontos, o objeto. Ou até mesmo, nós. Imagine você há uma hora, e você agora. Você antes e o você agora são ambos os pontos, e a duração de uma hora é a linha que une os dois pontos. O problema de estar na dimensão abaixo, é que você não sabe o seu movimento na dimensão acima. O bom de estar na dimensão acima, é que você sabe o movimento que você fez ou que vai fazer.

O homem era muito parecido com John, de certa forma poderia dizer que eram idênticos se não fosse pela diferença de idade e o que isso acarretava.

- O termo “viagem no tempo” é muitas vezes confundido... Até porque você estaria viajando entre universos, e não períodos de tempo no mesmo universo. Um jeito de pensar em linhas de tempo paralelas é visualiza-las como ecos. Como por exemplo, eu posso saber que virão dois Lichs aqui.

- O que? Eles virão !?

- Sim, eles virão atrás de você. Inclusive já devem estar quase aqui.

- Temos que fugir! Esconder, sei lá.

- Não. Você não conseguirá se esconder deles. Em seu bolso há um presente que eu deixei. Ou melhor... Dois – Ele joga uma arma nas mãos de John – Quando eles vierem, acerte um tiro em cada um. Eles são assustadores, mas também são tão frágeis quanto humanos normais. Siga minhas instruções, e acabaremos com isso facilmente.

- Por que você não o faz?

- Eu não posso fazer esse tipo de intervenção. Só você pode.

O barulho que faziam ao entrar na casa era horrendo. Colocaria até o mais corajoso dos homens para correr. John olha para o homem, que demonstrava pura confiança. Guiado por suas palavras, ele carrega a arma a tempo do primeiro Lich abrir a porta estrondosamente. O barulho do disparo assusta John, e ecoa por toda a casa. O projétil acerta perfeitamente a cabeça de seu inimigo, que sem vida, cai ao chão. O segundo Lich chega rápido e silencioso como o vento.

A mão trêmula de John o atrapalha a mirar. O suor escorre por sua testa, e embaça sua vista. Seu coração palpita forte – O barulho do segundo disparo parece abafado, mas não menos devastador. O sangue vermelho espirra na parede, e pinta o ambiente que antes era tomado por tons pastéis e cinza. John parecia estar em transe enquanto olhava para a fumaça que saia do cano da arma.

- Eu me lembro de tudo agora. Da guerra... Do sofrimento – John deixa a arma cair, e coloca a mão em sua boca – Como eu esqueci?

- Precisava ser feito. Você precisava ter esquecido para entrar na cidade e reparar em Susan. Desculpe-me por isso.

- Você quem causou o ferimento em minha cabeça?

- Agora eu já devo ter lhe fornecido provas o suficiente de que falo sério.

- Acho que sim – Diz John, ofegante – Mas o que quer comigo?

- Digamos que eu preciso que faça algo que não fui capaz de fazer – Ele da uma longa pausa enquanto encontra o melhor jeito de explicar-lhe – Eu não posso mudar o futuro com isso que eu fiz, acredite, eu já tentei. Para isso precisamos da uma coisa diferente.

- Susan?

- Perfeitamente. Agora que você a conheceu, ela deve ter lhe dado às instruções para terminar sua máquina do tempo. Sabe a folha de papel em seu bolso? Você irá voltar para o ano dois mil, e divulgar as informações em local público, mas mantendo seu anonimato. Não informe seu nome verdadeiro, isso irá causar um paradoxo.

- Isso é demais. Viajar no tempo? Como vou me preparar pra isso?

- Viajar através de ecos para moldar o futuro é uma viagem que permite influenciar uma linha temporal possível, o que não causa o paradoxo. Porém meus atos só influenciam detalhes ínfimos em aplicação direta. Por isso precisei moldar meu passado de forma a encontrar Susan, terminar o seu projeto, e usar de fato algo mais drástico... E perigoso.

- Perigoso? Quão perigoso?

- Não se preocupe, tome todos os cuidados que foram descritos, que tudo dará certo.

- Como você sabe que tudo dará certo?

- Eu acredito em mim.

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Esse conto é inspirado no fenômeno conhecido como John Titor.