Longe de casa

Os homens estavam sentados ao redor de uma fogueira, enrolados em suas mantas, vendo as chamas alaranjadas subirem e converterem-se em fumaça que se perdia na escuridão acima.

- É alguma coisa com a qual eu nunca me acostumei de verdade - disse Dmitry Alekseev. - Depois de tanto tempo, ainda me pego olhando para o céu à noite, procurando...

- Para a maioria de nós, é uma experiência nova - comentou Pavel Kirillov, segurando uma caneca entre as mãos. - Creio que só o Professor Pak Jae-Sun havia ido tão longe, não é Professor?

O Professor, um homenzinho de aparência triste, ajeitou os óculos sobre o nariz antes de falar.

- O meu recorde foram pouco mais de 200 anos-luz certa vez, durante uma expedição arqueológica. Mas isso aqui é inimaginavelmente longe... decididamente, território fora dos limites.

- Território que o camarada Dmitry Alekseev conhece melhor do que nós - observou confiante Pavel Kirillov.

- Apenas porque cheguei aqui antes - atalhou Dmitry Alekseev modestamente. - Mas não quer dizer que toda essa região espacial tenha sido realmente explorada. Aliás, seria impossível, com apenas um homem e uma cosmonave.

- Não se sente solitário, Dmitry Alekseev? - Perguntou Oleg Malinin Guryev, um homem grande, de barba por fazer. - Somos 98 na "Ekaterina A. Kupchenko", e mesmo assim, muitas vezes para mim a distância de casa me faz parecer que sou o último homem do Universo!

- Olya fala por si mesmo, Dmitry Alekseev - assegurou Ulian Mikhailov Kamaraukas, o piloto do módulo de desembarque. - Eu penso que estou convivendo por tempo demais com gente demais, numa lata de sardinha apinhada! Que alívio poder pisar em terra firme e respirar ar puro!

Dmitry Alekseev sorriu.

- Eu não sei... há tanta coisa para fazer que não tenho tempo sequer para me sentir solitário. E depois que iniciei os contatos com os Mowthumi, seria impossível me sentir sozinho. Mesmo sendo um alienígena, fui praticamente adotado por eles. Eu, "o Gumir", como me chamam...

Olhou longamente para o céu escuro acima das cabeças do grupo, onde as estrelas desenhavam constelações desconhecidas para o Homem.

- E mesmo assim, entendo o que dizem sobre solidão. Quando eu olho para o céu à noite, como agora...

Respirou fundo e concluiu:

- E procuro, procuro... e não vejo o Sol.

[06-04-2013]