2111: World War 3 - VI - Europeus e Americanos: Parte III

Antes de postar o texto, queria compartilhar com vcs o blog em que originalmente eu posto a história, aqui no recanto eu fico limitado as opções de formatação, no blog tenho varias opções de formatação e imagem que deixam o texto, e a história mais organizada e bonita, segue o link das séries que são publicadas na Guilda: só copiar e colar, não da pra redirecionar links ;D http://guildacop.blogspot.com.br/2012/11/series.html

Lá vcs podem ler 2111 e outras séries de nossos autores, a Guilda é uma parceria de autores, caso se interesse e queira entrar também, é só participar do recrutamento, clicando no botão da página, aproveito para divulgar aqui a Guilda: http://guildacop.blogspot.com.

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A Toca,

Córdoba - 16 de abril de 2110

01:35 am

Hernán estava caído no canto da cela, por seu corpo espalhavam-se hematomas e sangramentos, seu rosto estava meio desfigurado, as maçãs da face possuíam agora o dobro do tamanho original, seus dois olhos estavam inchados e roxos e sua testa com vários cortes abertos, além de um amontoado de gaze e esparadrapos em torno do lugar onde anteriormente ficava a sua orelha direita, que fora arrancada pelo major enlouquecido, usando nada mais que uma faca de cortar pão. As plantas de seus pés estavam queimadas devido à exposição ao maçarico assassino com seu fogo azul celeste, ondas lancinantes de dor irradiavam do ferimento a cada circulação do sangue.

Ele foi reduzido a um trapo total, sentia dores terríveis por todo o corpo e cada movimento era como mergulhar num rio de brasa ardente, como se o calor, o fogo queimasse cada célula. Ele mal conseguia enxergar, nem mesmo pensar direito. Respirava com imensa dificuldade, cada inspiração acompanhada de uma tosse que quase lhe arrancava a garganta. A agonia de se encontrar naquele estado era tanta, que ele por vezes desejava que seus algozes acabassem logo com aquilo, mas lhe pouparam a vida justamente para faze-lo penar. Agora estava ali, surrado, caído e sem nenhum amparo.

A cela não media mais que o suficiente para que hospedasse um único ser humano, era escura e úmida, não havia cama, somente um bloco de pedra que provavelmente servia como travesseiro. Tampouco um vaso sanitário, um buraco no chão era tudo que havia de disponível para as necessidades do prisioneiro, era esse buraco no chão que dizia que alguém havia passado por ali recentemente, um fedor abominável saia dali e impregnava todo o lugar, um odor sufocante o doentio, maximizado pelo fato de não haver nenhum tipo de janela nem ventilação, a não ser a pequena abertura na porta de aço reforçado.

Hernán tentava manter a consciência acesa o máximo que podia mas o seu cérebro, o seu corpo todo implorava por descanso, pela escuridão da inconsciência. Ele não cedeu, com extrema dificuldade, dor e sofrimento inimagináveis, se pôs de pé apoiando-se nas paredes. Não conseguiu por muito tempo, caiu e bateu as costas violentamente no chão, tentou sufocar o grito o máximo que pode, o que o fez involuntariamente morder a língua, agora sentia o gosto acre de sangue. A dor da queda extinguiu todas as suas forças, seu campo de visão foi tomado por estrelas explodindo e clarões coloridos, psicodélicos, sua mente implorava por descanso, ele tentou mais uma vez se erguer mas mal conseguia movimentar o diafragma para respirar e tomar impulso, desabou novamente e dessa vez não lutou mais contra a vontade do corpo, deixou-se tomar pela escuridão inebriante da inconsciência.

Em outro lugar dentro daquela base militar, não muito longe de onde Hernán se encontrava detido, Dänika, a mulher sombria de sobrancelhas grossas, característica herdada de seu pai e que ao contrario dele a deixava ainda mais bela, estava sentada atrás de uma pequena mesa, folheando alguns papéis. Suas mãos delicadas, mas ágeis, viravam folha por folha enquanto seus pequenos olhos azuis e alertas se moviam de um lado para o outro, rapidamente absorvendo o conteúdo. Possuía uma cabeleira loira, tão clara quanto a sua pele, prova da sua descendência dos nobres povos da Dinamarca, os povos de Thor, Odin e Loki, a suprema raça oriunda de Asgard, bem, assim era como eles se auto-intitulavam. Embora se reconhecessem como divinos, não praticavam xenofobia nem declaravam as raças estrangeiras como inferiores.

Não até agora.

A sua volta se encontravam soldados fortemente armados, sua guarda pessoal, embora odiasse que aqueles homens a ficassem rodeando todo o tempo, seu pai, o general August III, Comandante do II Exército da Grande e Sublime União Européia de Nações, nome oficial geralmente encurtado para a simples sigla UE, insistia que ela devia estar protegida o tempo todo, o que ele mais temia era que a sua jovem e adorável filha, com apenas 25 anos de idade, viesse a perecer vítima de qualquer coisa, desde uma traição interna ao simples engasgar de algum alimento. Então aquela pequena equipe de soldados, entre eles alguns formados em medicina, a rodeavam todo o tempo, seja dentro ou fora da base.

Dänika lia com atenção todos aqueles papéis, que na verdade eram documentos oficias oriundos de outras formações da Frente Invasora, seja de bases firmadas ou ainda provisórias. Todas elas relatavam os avanços ou recuos que sofriam, era ela quem lidava com toda aquela informação e deveria filtrar os dados mais importantes afim de relata-los ao seu pai, que por fim tomaria a melhor decisão de acordo com as informações, seja mover uma tropa de um lugar para outro, estaciona-las definitivamente ou simplesmente abandonar uma posição. Tudo passava pelas mãos dela, todos os relatos, e o seu comprometimento com a causa além de sua capacidade de julgamento eram levados ao limite, qualquer erro poderia custar muitos homens e recursos, talvez mesmo até a derrota definitiva numa cidade ou província, e era muito perigoso qualquer tipo de revés agora, quando Le Bataille de Méxique se aproximava do seu ápice e resolução final depois quase 20 anos, ela achava e tinha certeza que grande responsabilidade e o futuro da conquista passava por suas mãos, ainda assim o fazia com extrema habilidade e rapidez.

Nenhum dos seus guarda-costas ousavam lhe dirigir a palavra, a não ser que algum deles fosse solicitado pela Højbårne Frue, a Nobre Senhorita, como era dever deles a chamarem, então enquanto ela fazia seu trabalho, todos ficavam de costas para ela, nem mesmo era permitido se virar e fita-la nos olhos, sob pena de prisão e trabalhos forçados. Embora ela não ligasse para isso no começo, seu pai insistia em manter a firmeza na disciplina e com o tempo ela passou a gostar de ser tratada como uma princesa, já mandara três soldados desobedientes, não à prisão, mas à forca, agora, todos eles tinham um enorme pavor daquela mulher.

Dänika era fria como a morte, gelada como o inverno austral, eficiente como uma militar altamente treinada e assustadora como um pesadelo.

De repente seu pai, o general August, adentrou de supetão na sala, todos os soldados fizeram fila e prestaram continência, ele com um único gesto mandou que eles saíssem, em menos de 2 segundos eles ja haviam se retirado. O idoso comandante parecia mais velho ainda, a testa suava e a expressão era de preocupação, Dänika não parou o que estava fazendo, sequer levantou o olhar, o velho puxou uma cadeira, virou-a ao contrário como se fosse um garoto e se sentou de frente para a filha, seus olhos eram tão azuis e sua pele tão branca quanto a da jovem a sua frente.

– O que foi? – Ela perguntou sem parar de folhear e ler os documentos.

– Eles estão vindo, chegou a hora de você partir – o velho disse, com a voz forte que possuía, embora ja estivesse cansada e ofegante

Dänika desta vez parou o que estava fazendo, fitou-o e arqueou a sobrancelha.

– O que o senhor está dizendo?

– Eles são muitos, possuem muito poder de fogo, será uma batalha ruim, difícil, vamos empregar tudo o que temos e acabar de vez com qualquer resistência que possa se esconder aqui – O velho continuou, sério e sem muita empolgação enquanto retirava uma carta timbrada do bolso e entregava a filha – Será terrível, a ultima batalha, provavelmente essa cidade será reduzida a cinzas, se por um acaso falharmos e sucumbirmos, quero ter certeza que você estará a salvo.

Dänika pegou a carta, o papel era macio como se fosse feito de veludo, o envelope possuía uma enorme figura de uma águia, além da uma marca d'água brilhante que ora aparecia, ora desaparecia, com a figura das estrelas douradas em circulo num fundo azul. Ela a abriu e leu, sem dizer nada pôs no bolso e se levantou.

– Então nenhum desses papéis importa mais, não é? – ela perguntou olhando diretamente nos olhos do velho – Esse é o centro de tudo, daqui controlamos tudo, vamos simplesmente fugir e...

– Ninguém irá fugir! – o velho possuía uma voz de trovão, muitos oficiais puxa-saco diziam que sua voz era emanação do próprio Thor – Nós vamos esmaga-los, mas eu não sou louco, não cheguei até aqui praticando insanidades. Você irá agora para Veracruz, e de lá comandará as tropas até que ele chegue e possa nos guiar a vitória final nesse continente de merda!

– Ele quem? Harald? – ela perguntou

– Sim, Harald! O Herói de Guerra, O Herói do Povo! Aquele que transformou a Realidade! Aquele que salvou todas as nações hegemônicas do pesadelo vermelho! Ele virá e colecionará a cabeça dos vilões! – O velho general dizia enquanto inflava o peito e demonstrava toda a paixão que sentia por aquela figura heroica, o Filho dos Deuses. – Por isso imploro, minha filha, vá agora e leve adiante.

August, filho de Henning, nobre cavalheiro dos tempos futuros das dinastias europeias, herói de guerra e exímio militar, para os europeus, se levantou, deu a volta na mesa e abraçou a filha, uma demonstração de afeto que ele não exercia sabe-se lá há quantos anos. Dänika era gelo puro, ele sentia que abraçava um pedaço de mármore, e isso antes de o entristecer o enchia de orgulho, era preciso que se fosse firme, que se herdasse a Vontade de Odin, e ela o fazia muito bem. Mas enquanto por fora ela era uma pedra gelada, por dentro sentia a ternura e o amor como quando era criança e brincava alegremente junto com seus irmãos no gramado esbranquiçado de sua casa, com vista para os picos nevados do Ártico. Sem dizer mais nada o general se foi. Dänika rapidamente pegou suas coisas, entre elas uma pequena pistola dourada, e saiu. Junto com seus guarda-costas, dirigiu-se rapidamente até o pátio externo, onde dezenas de tropas já se perfilavam armadas até os dentes. Um carro sem rodas, que planava a esperava, dispensou seus guarda-costas, que foram se juntar as tropas perfiladas, e deu uma ultima olhada naquela cena. Um soldado ereto no meio do pátio em frente as tropas carregava uma bandeira azul com as famigeradas estrelas douradas formando um circulo, aquela cena a enchia de orgulho.

Entrou no carro e saiu, as portas que davam para o exterior da Toca, vigiadas por sentinelas, se abriram para lhe dar passagem, ao mesmo tempo que davam passagem para um carro de patrulha entrar, com um soldado e uma garota de pele morena, Dänika observou aquele carro entrando enquanto ela saia, a garota dentro do carro a viu e os olhares se cruzaram, mas se desviaram rapidamente, nenhuma das duas tinha visto nada de especial na outra.

Nem imaginavam, Nadine e Dänika, que o destino as poriam frente a frente mais uma vez, e que aqueles olhares iriam se cruzar novamente, desta vez numa ocasião totalmente diferente e importante para ambas.

Em algum lugar, num deserto estéril, bem longe da movimentação de Córdoba, um homem caminhava. Vestia grossas botas escuras sujas de vermelho, aquele vermelho era de sangue. Usava uma farda amarelo escura por baixo de um grosso colete preto. No peito do colete haviam duas insígnias, uma com uma bandeira vermelha com uma cruz branca de lado, Dinamarca, a outra era aquela azul com as estrelas douradas em forma de círculo, o colete também exibia uma mancha em vermelho.

Seus olhos eram de um azul tão claro, que pareciam quase cinza, suas sobrancelhas e seus cabelos desmazelados de um dourado brilhante, embora estivesse perdendo a cor, se transformando em algo esbranquiçado. Sua face era marcada por várias cicatrizes, mas elas não o deformavam, pelo contrário, o faziam parecer mais confiável, junto com sua barba rala, também clara como os cabelos.

Harald Lykketoft, O Homem Cicatriz, carregava uma pequena espada, algo parecido como uma baioneta, uma adaga ou um facão, ela possuía um pequeno botão azul na bainha que a transformava em algo que seus oponentes odiariam ver, e que quando vissem, marcava o fim de suas vidas.

Harald Lykketoft era o Homem Cicatriz, o Colecionador de Cabeças, o Numerador de Cadáveres.

E ele estava chegando, estava vindo, junto com o pequeno exército que o seguia. Ainda estava longe, nos desertos de um país que um dia foi a maior potência mundial, mas que hoje não passava de uma pilha de cinzas, que embora resistisse bravamente, nada podia fazer contra A União.

No céu, bem lá no alto, aquelas coisas coloridas faziam sua dança esotérica e eterna.

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