Nublado Com Chuvas no Decorrer do Período

Pasanov estava no centro de um grande salão circular, imerso em penumbra. Nos painéis holográficos montados nas paredes à sua volta, rostos imensos o fitavam com ar grave. O Colegiado de Mentes estava reunido para ouvir o que ele tinha a dizer.

- Destruíram um planeta com 3,5 bilhões de habitantes e não vamos fazer nada?! - Protestou.

As vozes ao seu redor revezavam-se, embora o discurso fosse unificado.

- Compreendemos a sua revolta, mas não temos ainda dados suficientes para decidir qual será o nosso curso de ação, nem podemos tomar esta decisão solitariamente, em nome da Cultura. O que aconteceu em Abahria não se constitui numa ameaça para a nossa existência coletiva, e isso induz à uma reflexão mais cuidadosa. Mas, sim, os responsáveis por esse ato de violência sem precedentes deverão ser punidos exemplarmente - quando os identificarmos.

- O que aconteceu em Abahria foi um ato de guerra - pior, sem prévio aviso! Sem uma declaração formal de guerra!

- Evidentemente, os Idirans estão cientes de que não podem declarar guerra à Cultura. Mesmo com essa demonstração de força, de um novo tipo de arma de destruição em massa, continuam não sendo páreo para a nossa capacidade de retaliação. SE decidirmos retaliar. Como dissemos, os dados ainda são inconclusivos.

- Se ficarmos inativos, atacarão novamente!

- Isso é bastante provável. E é óbvio que temos o direito à autodefesa, para isso não é necessário pedir autorização ao Coletivo. Daqui para a frente, se houver qualquer manifestação de hostilidade por parte deles contra um dos nossos membros, agiremos com a força necessária para dissuadir, imobilizar ou mesmo destruir o atacante. Mas isso não nos dá o direito de planejar uma expedição punitiva ou destruir um dos seus planetas como vingança.

- Portanto, mesmo provocados, não vamos entrar em estado de guerra?

- Sabe muito bem que a destruição de Abahria, por terrível que seja, por si só não é determinante para a declaração do estado de guerra. Mesmo a destruição de 100 Abahrias talvez não fosse suficiente. Para uma declaração formal de guerra, é necessário que o Coletivo esteja de acordo - expressiva parte dele, como sabe.

- Estamos falando de uma consulta a todos os... quantos somos mesmo?... trilhões de cidadãos da Cultura?

- Se é a guerra que deseja, sabe que é esse o caminho. Não há outra forma de colocar o carro da destruição em marcha. Temos que perguntar aos 50 trilhões de cidadãos o que acham de alocarmos os nossos vastos recursos para extirpar os Idirans do Universo - ou, ao menos, para torná-los inofensivos o suficiente para que se dediquem a atividades menos danosas.

- Mas isso vai tomar muito tempo!

- Provavelmente. E deve ser com isso que os Idirans estão contando; que não façamos nada e que eles continuem avançando sem oposição, explodindo planetas indefesos e aniquilando nosso povo. Pois terão uma surpresa desagradável...

- Nautarca Pasanov?

Pasanov virou-se para ver quem o chamava.

- Sim, Nublado Com Chuvas no Decorrer do Período?

- Você já ouviu falar do Agente Especial Quindane Malwr Haaresi?

- Creio não ter tido a honra...

- A magnitude da missão exige alguém à altura. Converse com o Agente Especial, penso que ele poderá ajudá-lo.

As outras Mentes voltaram seus olhos para Nublado Com Chuvas no Decorrer do Período. Pela expressão de algumas, aquela intervenção poderia ser encarada como uma quebra da tão almejada neutralidade.

- Não me lancem essa carga de censura - disse Nublado Com Chuvas no Decorrer do Período, uma sombra de sorriso a lhe passar pelo rosto. - Vocês deram uma tarefa impossível ao Nautarca Pasanov. Eu só estou ajudando-o a torná-la improvável...

- Não será impossível quando o Coletivo souber o que foi feito de Abahria! - Respondeu Pasanov.

- Boa sorte, então - respondeu Nublado Com Chuvas no Decorrer do Período.

[01-04-2013]