2111: World War 3 - V - Europeus e Americanos: Parte II

Antes de postar o texto, queria compartilhar com vcs o blog em que originalmente eu posto a história, aqui no recanto eu fico limitado as opções de formatação, no blog tenho varias opções de formatação e imagem que deixam o texto, e a história mais organizada e bonita, segue o link das séries que são publicadas na Guilda: só copiar e colar, não da pra redirecionar links ;D http://guildacop.blogspot.com.br/2012/11/series.html

Lá vcs podem ler 2111 e outras séries de nossos autores, a Guilda é uma parceria de autores, caso se interesse e queira entrar também, é só participar do recrutamento, clicando no botão da página, aproveito para divulgar aqui a Guilda: http://guildacop.blogspot.com.br/

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Córdoba, Distrito de Veracruz - México

16 de abril de 2110 - 01:15 am

O gigantesco comboio preparava-se para a batalha, iriam adentrar a cidade em direção à base partisan, e de lá, atacar a zona central, incluindo a Toca. Stella, como comandante daquele pequeno exército, fazia as ultimas inspeções e checava o equipamento, agora com todos em ordem, tomava a frente, a pé, junto com a infantaria que caminhava devagar entre os destroços empilhados nas ruas. Os minitanks iam pelos flancos e retaguarda, enquanto La muerte ambulant, aquela peça de artilharia monumental, ia no meio, com vários soldados sobre ela, montados nas suas metralhadoras e canhões, preparados para interceder ao menor sinal de perigo.

Seguiram calmamente e sem nenhum alarde, alguns scouts foram enviados à frente, afim de checar o terreno, mantinham contato permanente com Juan, se houvesse qualquer problema, avisariam a frota, que se reteria imediatamente e deslocaria algumas tropas para resolve-lo, assim que solucionado, o comboio recomeçaria a marcha. Até agora os scouts não acusaram nenhum inconveniente, nesse ritmo eles estariam na chamada zona azul em meia hora.

Stella estava especialmente nervosa, vestia um pesado colete preto sobre a farda escura e empoeirada, havia retirado a platina que carregava nos ombros, cuja patente era a de capitão, já que ela brilhava mais do deveria, todos o fizeram, queriam passar o mais desapercebidos possível. Um pesado capacete cobria seus cabelos cor de ferrugem, seu braço biônico piscava algumas luzes azuis que eram possíveis de serem vistas por debaixo da grossa manga do fardamento, prendia o RPG Panzerjäger às costas com uma bandoleira velha e grossa, enquanto nas mãos carregava um enorme fuzil de precisão, uma arma de tecnologia incrível, leve e silenciosa, um dos melhores filhos da indústria bélica. Seguia com passos pesados, suava frio, vez ou outra lembranças terríveis vinham à sua mente, a fuga de Chicago, a morte de seu pequeno irmão, a loucura que isso levou a sua mãe, e pior...

Tratou de afastar esses pensamentos, limpar a mente, precisava dela livre para fazer o que tinha de fazer essa manhã, uma missão importantíssima havia sido posta em suas mãos, alem do mais, algo lhe dizia que Hernán estava com algum problema, não era de seu feitio simplesmente sumir sem dar nenhum tipo de satisfação, ele era bem pragmático. Ela se aproximou de Juan, que ensinava a um jovem soldado como se manuseava a pistola magnética azul metálica que ele carregava, ela o puxou pelo braço, o que o fez protestar.

– Mas que porra hein! – Juan começou, mas parou ao ver o rosto de Stella, sua feição demonstrava o máximo de stress e nervosismo, alem do suor que gotejava da testa. – O que foi? Por que essa cara?

– Estou morrendo de medo.

Juan fitou-a, um misto de desprezo e simpatia, no instante seguinte ia começar a rir, mas se conteve ao dar uma segunda olhada para o expressão daquela mulher.

– ¿Usted me estás jodiendo? – Ele disse num tom debochado, sua face estava ficando vermelha – Cacete, você tá com medo? medinho? Puta que pariu! Você é a chefe dessa bagaça! Já passamos por coisa pior, e você ta com medo de uma merdinha dessas? – Juan tinha um jeito natural, não só de perder rapidamente a paciência, como a falta de tato ao se comunicar com as pessoas, principalmente com mulheres, exclusivamente com aquela mulher. Ele já não tinha mais paciência com os tipos bipolares.

– Eu me arrependi, estou sendo sincera, não devia ter aceitado o comando disso, eu não estou preparada, isso aqui é sério, se falharmos... – Ela se interrompeu, algo na sua voz não agradava o jovem ao seu lado, parecia uma garotinha indefesa. Juan ficava cada vez mais nervoso com os lamentos daquela mulher, explodiu.

– Para com esse choro porra! – Ele gritara, alguns oficiais em volta o encararam, ele nem ligou, uma veia saltava da sua testa, como da ultima vez, o estouradinho estava em ação novamente – Você mulher, me irrita profundamente quando começa com essa ladainha! Primeiro começa a vacilar dizendo que não sente ódio desses animais, depois começa a entrar em um pânico totalmente desnecessário depois de nós ja estarmos dias na estrada e prontos pra acabar com essa corja estrangeira. Eu fui o que menos gostou dessa missão escabrosa, e você foi a primeira a me chamar de criança quando eu mandei aquele velho ir pro inferno com as missões dele, mas agora eu estou aqui porra, e vou cumpri-la até o fim, a menos que seja morto!

Ele já gesticulava, dava socos no ar enquanto falava, cuspia e gritava. Sem Hernán ali, para controla-lo ele era um verdadeiro ogro, embora fizesse uma cena digna de peças de teatro, ninguém nem mesmo intercedeu ou procurou saber o que estava acontecendo, continuaram caminhando, somente de vez enquanto o encaravam quando ele soltava seus palavrões, já conheciam o sujeito, e também já a conheciam, alias, conheciam todos os três.

Ela tinha essa fama de bipolaridade, enquanto em certas ocasiões agia com frieza e determinação, em outras com demonstrava medo e nervosismo, ja ele era conhecido pelas explosões instantâneas e habilidade com ferramentas computadorizadas, Hernán pela disciplina ferrenha e comprometimento com a causa, alem de ser quem prevenia aqueles dois de agir feito crianças, com ele ausente o caminho estava livre.

Stella ouviu todo o sermão de Juan enquanto caminhava de cabeça baixa, suspirou, levantou a cabeça com um sorriso, começou a tremer de excitação, parecia febril e irradiava como uma criança à espera de um presente.

– Tem razão, que se foda essa bobagem.

Juan balançou a cabeça, odiava essas porras de crises, como ele chamava. Ajeitou o capacete, deu uma olhada na submetralhadora Z-8 que carregava e foi procurar o menino com o qual estava confabulando anteriormente antes de ser puxado por aquela mão feita de silício.

– Se você me puxar daquele jeito de novo, eu arranco seu outro braço!

Stella ria enquanto ele se afastava.

Zona Azul (partisan) - Córdoba

16 de abril de 2110 - 01:35 am

Leon cochilara por uns 10 minutos, despertou assustado com um barulho, se escondeu como pode atrás da carcaça do veículo em que estava apoiado, se encolheu na sombra, amaldiçoou Nadine por ter lhe dado um tiro, te-lo desarmado e deixado sem amparo numa rua escura. Ele apurou os ouvidos, tratou de não se mexer nem fazer nenhum som, viu ao longe alguns vultos indecifráveis, os sons aumentavam, parecia algo familiar como...motores de carros?

Ele tentou se erguer, inutilmente. Engatinhou um pouco para frente, numa zona mais iluminada afim de tentar enxergar quem estava se aproximando, ele viu, mais a frente, uns 200 metros, um comboio enorme com vários carros, mas ele não se atreveu a pensar que fossem seus compatriotas, esperou até ver o sinal que lhe daria certeza que eram eles. Então teve a certeza quando momentos depois viu aquela sombra monumental caminhando devagar, la muerte ambulante.

Ele gritou, imediatamente algumas sobras pararam, se puserem em formação e acenderam suas lanternas, Leon se censurou pela burrice, sair simplesmente gritando por aí no escuro só iria fazer com que eles lhe dessem um tiro na cabeça! Dessa vez tentou algo mais efetivo, engatinhou, com dificuldade e dor, até a luz do poste, onde eles poderiam avista-lo, quando la chegou, acenou-lhes da onde estava sentado. As sombras vieram em sua direção devagar, com as armas apontando-lhe. Momentos depois já estavam há uns 30 metros do garoto, mas não o reconheciam.

– Quem está ai? – uma das sombras gritou.

– Sou eu, Leon – ele achou que o simples fato de responder na mesma linguagem, ou seja, espanhol, faria com que eles abaixassem a guarda e ele pudesse se mexer, então ele pôs a mão no bolso atrás da pulseira azul metálica que tinha e...

A sombra atirou, por sorte errou, a bala passou zunindo a poucos centímetros da cabeça de Leon, que se desequilibrou e caiu devido à onde de choque, pôs-se a sentar novamente enquanto as sombras gritavam-lhe para que ficasse parado, elas agora já estavam à 10 metros dele, ainda apontando-lhe os fuzis.

– Apontem essa merda pra lá, caralho! – Ele gritou com raiva – Vocês querem me matar, seus porras?

As sombras pararam, abaixaram as armas quando viram a expressão do garoto, os olhos esbugalhados mostravam não só a sua raiva, como a frustração e o medo de que tivesse sido morto por aquele tiro.

– Merda, é um dos nossos, eu já vi esse garoto – um dos soldados falou, enquanto os outros ajudavam Leon a se levantar, mas a perna ferida protestava e ele gemia de dor – Você está bem, soldado?

– Não graças a você! – Leon retrucou, ainda com raiva, enquanto os soldados o carregavam em direção ao comboio, dessa direção, Juan vinha abrindo os braços.

– Mas que porra foi essa? – ele perguntou.

– Señor, esse é um dos nossos, ele estava caído ali atrás.

– E que tiro foi esse?

– Nós não o enxergávamos direito, ele fez um movimento brusco, então eu disparei – O soldado tentava se explicar – Por sorte, errei o alvo.

– Então, a sua falta de habilidade o salvou de cometer um erro terrível pela sua falta de preparo? – Juan pôs a mão na cabeça, e riu – Meu Deus, estamos ferrados mesmo.

O soldado também riu, embora estivesse nervoso, quase matara um compatriota, sua mão agora tremia segurando o fuzil.

– Não se preocupe cara – disse pondo a mão sobre o ombro do soldado – deixa pra lá. E você, quem é e o que faz aqui? Como se feriu? – ele se dirigiu a Leon.

– Señor, Nadine... ela, foi embora, matou Enrique e... o señor Hernán está com a señora Maria e... – Leon mal conseguia falar, estava bastante nervoso, as palavras atropelavam sua boca.

– Calma, devagar. – Juan fez com que Leon se apoiasse nele e caminharam devagar de volta ao comboio, Leon gemia de dor toda vez que a perna ferida tocava o chão. Quando chegaram ao comboio, Juan o pôs dentro de um minitank e pediu ajuda médica. Enquanto a enfermeira cuidava dos ferimentos de Leon, Juan foi até Stella reportar o que houve.

– Era o moleque que saiu com Hernán – Ele disse – Talvez tenha acontecido algo.

Stella empalideceu, entregou o rádio de comando que segurava à um oficial qualquer e se dirigiu até o miolo do exército, até o carro onde se encontrava o menino. Ele estava sentado, todo desgrenhado, Stella e Juan esperaram a enfermeira terminar de trata-lo, quando ela terminou e tranquilizou-os dizendo que ele ficaria bem, lhe entregou uma camisa e saiu, então eles entraram no carro e começaram a conversar com Leon.

Ele lhes contou o que houve, desde que eles saíram do perímetro na fronteira, conheceram Maria e sua família, até quando Hernán os mandou voltar a base junto com alguns mapas que deveriam entregar a Stella. Contou que Maria pedira ao seu irmão, Enrique, que os escoltasse na volta. Então, já bem no meio do caminho, Nadine distraiu Enrique, o desarmou e lhe assassinou friamente, depois foi até Leon e atirou-lhe na perna, mas por algum motivo não o matou, deu-lhe um golpe na cabeça e fugiu com os mapas, um tempo depois ele acordou em uma rua escura, ferido, onde lhe encontraram.

– E onde está o Hernán? – Stella perguntou.

– Eu não sei, ele disse que ia ao centro dar uma olhada. Nem sei o porque Nadine fez isso conosco, eu a conheço a algum tempo, nunca pensei que ela pudesse fazer algo assim.

Stella se voltou a Juan, que ouvia atentamente sem dizer nenhuma palavra, ele viu que a expressão dela tinha voltado àquele estado de nervosismo e medo exagerado.

– Você sabe quem é essa garota? – ela perguntou

– Não, sei que é daquele bando que pegamos em Puebla, junto com esse aí e mais uns outros, pela descrição dele eu já a vi, mas não conheço.

Stella se virou novamente a Leon – Tem certeza que conhece essa garota, soldado? – Ela inconscientemente puxou Leon pela gola da camisa, o jovem arregalou os olhos, não só de medo daquela mulher pálida, mas também pela aparência daquele braço o segurando, podia ver por baixo da manga da farda algo parecendo luzes piscando nele, outra coisa que o assustava era a expressão de desespero daquela mulher.

– Sim señora, eu a conheço, nós andamos juntos já faz um tempo, mas não mais que isso. – Leon respondeu assustado.

Juan pôs a mão sobre o ombro de Stella, que lenta e gentilmente soltou a gola de Leon, com um sorriso amarelo e um pedido de desculpas, rapidamente os dois saíram de dentro do carro afim de deixar Leon sozinho, mandaram que ele descansasse um pouco e que quando chegassem à base dos partisans, veriam o que ele poderia fazer.

Já do lado de fora, Stella retirou o capacete, soltou os cabelos cor de ferrugem e enxugou a testa. Juan nada dizia, só fitava o nada enquanto continuavam caminhando. Tinham um problema, não sabiam qual era o tamanho dele, mas o simples fato de ser um problema os deixavam nervosos. Enquanto caminhavam na escuridão, mal podiam imaginar que alguém os vigiava.

Do topo de uma construção velha e enegrecida, a poucos metros de distancia do comboio que passava naquela rua escura, um binóculo oscilava, escondido pela escuridão, passava instruções em alemão por rádio à alguém, dizia o tamanho, a quantidade e as armas que aquele mini exército possuía, no final do pequeno relatório, soltou um risinho travesso como o de uma criança. Depois da informação passada saiu correndo alegremente e dando pulinhos, tirou do paletó velho que usava, uma pequena bandeirinha azul com um circulo de estrelas douradas no centro, beijou-a e sorriu, depois a colocou novamente na segurança e aconchego do bolso, na lapela de seu paletó era possível ver um broche, ainda que desbotado, que parecia ser uma carinha amarela feliz, ao lado uma pequena suástica, como a dos antigos nazistas alemães, acompanhada de uma caveira, vestiu o chapéu preto que carregava em uma das mãos e voltou a sorrir. Um riso estranho, algo totalmente branco em meio ao preto da escuridão, seus dentes perfeitos eram notáveis numa época e lugar como aqueles, tratou de sair dali, pela escada de incêndio na lateral do prédio, ainda dando pulinhos e risadinhas macabras ocasionais.