Angústia do tempo


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Giovani saiu do prédio do “Instituto de Inovação Genética”, nos arredores de Zurique, e ligou seu carro. Era um daqueles sem motorista, portanto tinha tempo de olhar mais uma vez no computador os detalhes de seu plano de “reestruturação genética”. Passara quase dois dias pelo processo. Poderia, agora,  viver mais de 150 anos. Deu um sorriso indefinido. Era quase noite e as luzes azuis dos modernos conjuntos habitacionais reverberavam na neblina tênue que cobria a paisagem. Ele sabia que, na verdade, viveria mais de duzentos. Por motivos legais eles colocavam no contrato o mínimo de 150. Só com o avanço normal da ciência e da medicina, muita gente já alcançava essa idade. Por outro lado, ultimamente tinha lido muito sobre o que chamavam “angústia do tempo”, uma expressão mal traduzida do alemão. Apesar do enorme aparato de entretenimento, passatempo e tudo mais que as novas tecnologias ofereciam, havia aquele pavor do tédio. A certa altura parece que você já fez tudo, principalmente numa sociedade em que as coisas  já vêm prontas para você, nada precisa ser conquistado. Giovani tinha apenas 27 anos e, lá no fundo, desconfiava que já tinha dentro de si a sementinha da “angústia do tempo”. Talvez por isso seu sorriso era “indefinido”. Indefinido como seu futuro, suas aspirações.  Olhou de novo para a neblina azulada e tentou pensar em outra coisa.  Era o primeiro dia de dezembro de 2060.

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