O IRÃ NO ANO 3030! parte 2

Como sabem, as relações entre Irã e Estados Unidos estão com as relações estremecidas, por causa da decisão do governo americano em aumentar o preço da água mineral, que se tornou o produto mais valorizado, após a crise da água potável de 2222, ultrapassando inclusive o ouro e o petróleo, que também anda já muito escasso. O pré-sal brasileiro, tão propagado mundo afora, como a solução para o risco de escassez do produto, no início do século XXI, não deu nem pro cheiro, durou pouco menos de 30 anos, e olhe, olhe!

Só que para matar a sede, o petróleo não é o líquido mais indicado, mas sim a água, por isso a partir do século XXIII os valores foram invertidos, e países com água em abundância passaram a ditar novas regras ao mercado. O 1º Mundo não teve outra saída, teve de se submeter... até agora!

O Irã, agora, é uma nação desenvolvida, uma superpotência armamentista e econômica, à frente de um poderoso bloco econômico, o do Médio Oriente, que inclui Paquistão e Afeganistão. Porém, o Irã depende muito da água vinda do ocidente, sobretudo das Américas, principalmente Brasil, Colômbia... que, por sua vez, dependem muito do mercado consumidor norte-americano. Por conta disso, o governo estadunidense resolveu comprar uma briga com o Oriente Médio, em especial o Irã, aumentando o preço da água mineral, o que acabou causando um efeito cascata por todo continente.

O governo iraniano, obviamente, não gostou nem um pouco disso. Dona Nazira Ahmadinejad, presidente da República, prometeu retribuir com boicotes a outros produtos, um embargo geral, mais pesado, como era o embargo a Cuba, durante os séculos XX e XXI, e, como última alternativa, recorreriam a solução armada, ou seja, à guerra. E era essa a perspectiva que mais preocupava Rudí, apesar da tranqüilidade quase zen-budista de seu pai.

Seu Mahmoud estava 50% certo, o povo iraniano encarava a situação mais ou menos desta forma: só porque o governo estava boicotando os produtos norte-americanos, isso não significava que eles tinham de boicotar as franquias de empresas daquele país, como era o caso da rede de fast foods McDonald’s. O problema é que, com oo embargo, ficava bem mais difícil contar com alguns produtos da marca, que só eram fabricados, ou comercializados pelo país de origem. Seu Mahmoud não esquentava com a eventual de bacon, mas seus filhos já começavam a preocupar-se por ele. Principalmente quando o embargo deixou de ser somente praticado por Irã, passando a ser adotado por todos os países do bloco. Aí é que as coisas começaram a ficar realmente bravas pra seu Mahmoud manter sua lancheria!

Pelo menos Rudí já estava formado, agora, trabalhava numa indústria de componentes nanotecnológicos para uma montadora de eletroeletrônicos e celulares coreana, instalada na Zona Franca de Itacoatiara, no Brasil. Tinha um bom salário e comprou recentemente um excelente apartamento de andar inteiro, giratório, em um condomínio de classe média alta em Teerã; estava tentando convencer o pai a aposentar-se definitivamente e ir ocupar uma das três espaçosas suítes do imóvel, não obtendo lá muito sucesso.

Em março, as relações entre Irã e EUA foram formalmente rompidas, após o pronunciamento do presidente Amos Van Damme, que acusava o embargo econômico médio-oriental de injusto, arbitrário, classificava como um mero capricho de mulher – uma alfinetada em dona Ahmadinejad – e um ranço de viés socialista/comunista. Dona Nazira respondeu com um discurso inflamado, numa coletiva em frente ao Novo Palácio do Povo Iraniano, disse que os americanos ainda não tinham aprendido com seus erros de séculos atrás, que não tinham nem metade do poder que um dia tiveram e ainda assim empinavam seus narizes ao tratar com outros povos, creditando a si mesmos uma pretensa superioridade.

Assistindo à coletiva, no telejornal noturno, Rudí percebeu, através de comentários de amigos e colegas, que a opinião geral era só uma: aquilo não acabaria nada bem!

E tudo, realmente, indicava que a situação tinha ido longe demais. Tanto que num fim de semana, em fins de abril, quando a família estava reunida, para receber a visita da irmã de Rudí que morava no Brasil, Norí, os governos americano e iraniano tinham fechado suas respectivas embaixadas e retirado seus respectivos diplomatas e a presidente foi novamente a público justificar suas razões e pedir apoio popular a sua decisão de entrar em guerra com os Estados Unidos. Rudí ficou espantado, pois a reação de sua irmã foi algo zen-budista, como a do pai, lamentando apenas: “Poxa vida, isso vai me atrapalhar na volta a Boa Vista...”

“Puxa vida, Norí, te preocupa só isso?!”, protestou o rapaz. “E o fato de entrarmos em guerra, isso pra ti só significa que vai ser mais difícil a tua volta ao Brasil??”

“Égua porra, e tu acha isso pouco, é?! Téleso, sabe quanto custa a remarcação de uma passagem aérea, ainda mais internacional, tem a questão cambial, etc, sabia disso, mermão?! Sem falar que nem vou poder esperar pelo fim da guerra, pra voltar a trabalhar, tá sabendo disso?”

“Tenha paciência com teu maninho, minha filha... o guri nem nunca saiu do país, nunca foi nem a Meca, imagina Belém (do Pará)!”, disse seu Mahmoud, rindo e procurando tranqüilizar a filha. Voltou seu rosto de ar tranqüilizador ao filho: “Fudí, tens que ter mais calma, essas coisas de política são assim mesmo e não somos nós quem vai concertar...”

Nazíbi, o irmão mais velho e oficial da Aeronáutica iraniana, orgulho da família, por ter sido o primeiro iraniano a pisar em Marte, falou: “Tá certo, véi, mas eu entendo o ponto de vista do Rudí. Os políticos brigam e quem paga o pato é sempre a gente, sempre o povo trabalhador, é sempre assim... por exemplo, como é que o senhor ta se virando com a tua lancheria?”

“Até tu, Nazíbi, filho meu?! Meu jovem, fica tranqüilo, já tô tratando com uma outra rede de fast food, vou largar o Mc Donald’s... essa é brasileira e tem um nome árabe, acho que agora vai!”

“Ai, pai, fico feliz, com certeza vai fazer sucesso, lá essa empresa é maior que as yankees!”, apoiou Norí.

“Além do quê”, continuou seu Mahmoud, com sua típica expressão zen-budista, “se ninguém cede, o melhor mesmo é acabar logo com isso e ir pra guerra! Quebra o pau e aí, ou tudo se resolve, ou tudo se arrebenta! Não concordas, Nazíbi?”

“É, concordo, graças a Alá que não estamos nos tempos em que tudo se arrebentava pra todo mundo, agora as guerras têm vencedores e os vencidos têm que acatar...”

“Sim, verdade, graças ao bom Alá... e, que nossos governantes não me ouçam, temos que dar graças também aos americanos, por isso!”

Nazíbi, com um riso frouxo, levantou o copo de guaraná trazido pela irmã da Amazônia e brindou: “Um viva a John Brennan!”, no que foi acompanhado pelas irmãs, filhos e sobrinhos e também por seu Mahmoud, o patriarca. Rudí não aderiu ao entusiasmo de sexta-feira dos outros e somente balbuciou: “Quem é esse tal Brennan?” Nazíbi pousou a mão no ombro do irmão mais novo e com uma gargalhada, respondeu: “Rudí, te senta bem ereto e confortável, que essa é uma história longa... e lá vem ela!”

Continua...

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 22/02/2013
Código do texto: T4153859
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