Oceano Gasoso - parte 5

Onde fica o Norte? Acima? Na frente? Como este conceito é relativo! Lógico que este conceito surgiu, originalmente, na observação da rotação TERRESTRE. Quem questionaria o conceito óbvio de que NASCENTE era onde nascia o sol e todas as estrelas e demais corpos celestes, enquanto POENTE era onde o sol desaparecia e igualmente o resto do céu? Nascente, denominado LESTE, e poente OESTE. Colocando-se o nascente à direita (lado inexplicavelmente preferencial de 90% da humanidade) e poente à esquerda, nossa frente encarava o NORTE, e atrás de nós vinha o SUL. Por quê? Ah, como saber? Escolha arbitrária? Os chineses, por exemplo, sempre consideravam o SUL como estando à sua frente, e que o sol nascia à sua esquerda para se por à sua direita.

O fato é que LESTE-DIREITA, OESTE-ESQUERDA, NORTE-FRENTE e SUL-ATRÁS acabou se consolidando como padrão. E o fato dele se repetir em todos os planetas que conhecíamos o cimentou na mente humana! O próprio SOL girava no mesmo sentido de nosso planeta, e no sentido de translação e rotação da maioria dos planetas e satélites de planetas do sistema solar! O norte solar era o norte da rotação e translação de quase todos os corpos celestes! Foi eleito por unanimidade o NORTE do sistema solar, com os planetas translacionando e rotacionando em torno dele em sentido anti-horário. Apesar de ninguém nunca conseguir provar ainda a relação, parecia também ser este o motivo da orientação da hélice de DNA de todos os seres vivos conhecidos até agora. Inclusive das bactérias marcianas, que... adivinhem!! Girava de tal forma que o sol nascia no leste e se punha no oeste, como parecia ser a regra.

Mas não era regra, e possuíamos duas exceções notáveis no sistema solar! Urano, com seu polo de rotação inclinado em 90 graus em relação à órbita, era o mais impressionante! Por 50% de seu longo ano não existia nem dia nem noite, já que seus polos apontavam, em duas estações claras, diretamente o sol nestes períodos! Polo Sul e polo NORTE apontando sempre o sol em um quarto mais um quarto de seu longo ano!

Mas Vênus era ainda mais impressionante neste sentido: ele era o único que girava ao contrário em relação ao seu movimento de translação! Em todos os outros planetas do sistema solar, o fato da rotação seguir o sentido no movimento de translação fazia seu DIA SOLAR ser sempre um pouco mais longo que o DIA SIDERAL. DIA SOLAR é o tempo que o planeta leva para que o sol apareça de novo no mesmo local aparente do céu. DIA SIDERAL é o período equivalente, mas em relação às estrelas distantes. Nos planetas comuns, padrões, o dia solar sempre é um pouco maior que o dia sideral. Em Vênus era diferente.

- Agora percebo meu erro, Aruna! Sempre me falaram que Vênus tinha um dia mais longo que o ano! De fato tem, pois leva 225 dias terrestres para girar em torno do sol, mas 243 dias para girar em torno de si mesmo.

- Nem vou comentar a atmosfera em hiper-rotação, girando mais rápida que o próprio planeta, mas... é isso mesmo, Mary Jane!

- Com rotação um pouco maior até que a translação, não era de se esperar que o dia durasse, combinado, quase uma eternidade? Que quase tivesse sempre a mesma face voltada para o sol, como acontece com a Lua em relação à nossa Terra?

- Não quando você descobre que Vênus tem rotação RETRÓGRADA!

- Como???!

- Como começou ninguém sabe. Mas o fato é que Vênus gira ao contrário, no sentido oposto ao de sua translação e a dos demais planetas de nosso sistema solar.

- Ah!!! Já ouvi falar disso quando estudava na pré-escola!

- Sim, todo mundo tenta passar rápido por isso, por não terem explicação convincente. Mas o fato é: tá aí! Vênus gira ao contrário! E ninguém sabe explicar por que até hoje!

- Esta diferença de 18 dias, compensadas pela translação... - Mary Jane calculava em seu computador de bolso. - Sim! Faz sentido! Combinadas elas dão um dia solar de uns... 120 DIAS? Não, espera... 116,75 dias terrestres para o sol voltar a aparecer no mesmo ponto do céu. Sim, agora vejo!

- Dois X-Burgues no ponto saindo!!! - gritou o chapeiro, interrompendo as divagações.

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Mary Jane sempre foi cuidadosa em tentar evitar gafes. Mas acabara de cometer uma imperdoável! Como ela havia pedido um X-Burger para um indiano? Ainda tentou consertar o "inconsertável"

- É carne sintética, Aruna! Nenhuma vaca foi sacrificada para fazer este hambúrguer...

- Em nossa tradição, Mary Jane, o DNA da vaca é sagrado! Não faz diferença se é carne de uma vaca real ou sintetizado do DNA digital memorizado de uma vaca: este DNA é sagrado pra nós, indiferente se seu desenvolvimento foi natural ou artificial. É a "ideia" de "vaca" que respeitamos, o software da vaca, independente de como a informação de seus genes são interpretadas.

- Desculpa, Aruna! Eu... - deixou de lado seu próprio lanche, pois não se sentiria bem em devorá-lo, apesar da fome, desrespeitando aquela tradição milenar...

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Aruna tentou se desfazer do mal-estar perguntando à garçonete se eles faziam sanduíches com carne de dragão ou de unicórnio. Ele as comeria tranquilamente, pois sabia que nunca existiram nem dragões nem unicórnios. Ele poderia tranquilamente comer carnes de animais imaginários. De qualquer forma, o DNA de unicórnio, assim como DNA de dragão, nunca foi plenamente desenvolvido como um ser vivo funcional! De fato ninguém nunca esperava mesmo que isto acontecesse! Era apenas uma estratégia de marketing tentando trazer veganos convictos a uma dieta mais saudável, mais ricas em proteínas artificiais. Afinal, eles não deveriam se sentir tão culpados assim em comer carnes de animais imaginários, não é?

- Comi uma vez um X-Sauro que... - Mary Jane parou na hora, vendo que isto repugnava Aruna.

- Os dinossauros já foram reais! Que direito temos, milhões de anos depois de sua extinção, de ressuscitar seus genes apenas para torná-los comida exótica?

- Certo, Aruna! Certo! - se rendeu Mary Jane. - Pede então dois X-Unicórnios pra nós, no capricho!

* continua *