2111 - Cap II - A 3º Guerra Mundial

Chicago, Illinois - 25 de dezembro de 2083

6:15 am

É manhã de Natal! Em todas as casas do subúrbio de Chicago, centenas de lampadas coloridas iluminam o dia que acaba de nascer. Os enfeites decoram os postes e as cercas vivas, guirlandas embelezam as portas das casas, mas o clima não é de festa. A rua estava deserta, de repente as luzes coloridas se apagam, e as casas mergulham numa escuridão total, o silencio toma conta de todo o lugar, mas ao longe ouve-se um som, que mergulha em terror todos os corações naquela manhã. Todos estavam despertos, em todas as casas daquela rua, sem exceção, e talvez naquele bairro inteiro, provavelmente a cidade toda não dormiu na véspera do Natal, e se engana quem acha que eles estavam só esperando o bom velhinho. Eles estavam esperando sim algo que vinha do céu, mas era algo macabro, algo que aterrorizava todas as crianças, adultos e anciãos, aquele algo trazia a morte.

A pequena Stella, como toda a sua família, não conseguiu dormir direito, quando finalmente conseguia, vez ou outra era desperta por aquele som aterrorizante, aquele som infernal, e quando o som vinha de perto o suficiente pra fazer as paredes balançarem, sua mãe corria em desespero até seu quarto e a pegava com força. Ela pouco via, mas entendia o que era, ouvia seu pequeno irmão chorando, talvez sentindo a onda de medo que vinha da sua mãe. Ela os levava até o pequeno porão da casa, e eles ficavam ali até tudo acabar, ou pelo menos até aparentar ter acabado, mas para eles parecia que aquilo demorava uma eternidade, a cada novo estremecer das paredes, o coração acelerava, a cada piscada de luz causada pelos impactos, a alma se enchia de terror, com certeza aquela foi a pior véspera de natal de sua vida.

Até o momento.

Pois as seguintes seriam piores.

Mas agora já era manhã, o sol já despontava no horizonte, a vida está mais calma, pelo menos é o que parece, e aqueles sons não são mais ouvidos, a não ser de uma grande distancia, alguns se atrevem a sair de casa, ver como estão os outros, seus vizinhos, ver o quanto de estrago aquilo causou. Aparentemente não muito, as famílias aos poucos começam a se sentir mais seguras, podem comemorar o natal, não comemorar realmente, mas podem se reunir e abrir seus presentes.

Stella observa sua frágil mãe enquanto ela abre seus presentes, um por um, livros, ela gostava de ler. Aquele era um presente de seu pai, então ela lembrou-se dele. Nesse momento seu pai estava ao norte da cidade, havia sido convocado, como a maioria dos homens e jovens daquele lugar, havia sido convocado para defenderem suas famílias, e morrerem por elas, pelo menos era isso que sua mãe dizia.

O café da manhã já estava na mesa, sua mãe estava pálida e com olheiras enormes, que faziam ela parecer um panda, segurava no colo seu pequeno irmão, Thomas, que dormia tranquilamente. O clima estava tenso, sua mãe parecia a beira do colapso, faltava um pouco para isso acontecer, e ela sabia que quando acontecesse, precisaria manter a calma e pensar como adulta, mesmo que só tivesse 11 anos. Instantes depois, percebeu que o momento chegara, o colapso final, embora achasse que estava cedo demais.

Um zumbido chegou aos seus ouvidos, e foi crescendo, crescendo, até chegar em uma amplitude inimaginável, um barulho ensurdecedor seguido de outro, e outro. Sua mãe correu pra janela, e ela viu que seu rosto havia perdido toda a cor que já não tinha, uma coloração nova, totalmente bizarra, o cumulo da palidez. Um olhar cheio de terror, como se o pior pesadelo dela houvesse ganho vida.

Sem aviso prévio, a lateral da casa explodiu com uma violência assustadora, a forte onda de choque os atingiu, a janela se despedaçou, e a pobre mãe quase não teve tempo de proteger seu bebê dos imensos cacos, antes mesmo de entender o que havia acontecido, todo lugar já estava em chamas. Stella viu que parte da cozinha tinha desaparecido, no lugar havia somente uma imensa cratera fumegante, que pegou fogo instantaneamente. Sua pobre mãe, ainda atordoada pelo choque inicial a pegou pela mão e saíram correndo pelos fundos.

Enquanto isso aquele barulho continuava, eles podiam ouvir os gritos que vinham da vizinhança, enquanto ao redor tudo explodia e incendiava. O porão, estava a poucos metros, e antes que sua mãe se jogasse-lá junto com eles, ela viu, por um instante o caos à volta, e compreendeu, que o inferno havia recomeçado, e que ele não acabaria tão cedo, e dessa vez elas estavam bem no meio dele.

Ficaram cerca de meia-hora encolhidas dentro do porão escuro, enquanto tudo se desenrolava la fora, quando tudo se acalmou, elas, lentamente saíram do abrigo, e o que viram não iriam esquecer pelo resto da vida, aquele era o choque inicial.

A rua, antes larga com seus casebres elegantes, agora era uma pilha de cinzas e escombros fumegantes, pessoas corriam de um lado para outro, feridas ou carregando feridos, alguns carregavam seus mortos nos braços, como zumbis ensanguentados, tomados pelo choque, membros amputados, pessoas gritando de dor física e emocional. Da sua própria casa não restava quase nada, a não ser pedaços de concreto escuro. Uma catástrofe terrível havia se abatido sobre aquele lugar, mas não só naquele lugar, e nem seria a ultima, catástrofes piores iriam acontecer, coisas inimagináveis iriam castigar aquela nação, que tanto se orgulhava de si. Elas viram com seus próprios olhos, embora todo aquele tempo, todos haviam duvidado que algo desse tipo pudesse vir a acontecer. Aquele era o Inferno, era o Apocalipse, era o começo de um conflito sem precedentes, um conflito que iria castigar a humanidade por longos anos, que iria devastar países inteiros. Aquela era a tão temida, tão desprezada, e tão subestimada, Terceira Guerra Mundial.

Cidade do México, Distrito 3 - 11 de abril de 2110

Stella examinava a base militar pelo binóculo, estava no topo de um prédio, um dos poucos que continuavam de pé, todos esses anos, na parte norte da cidade. Aquela era uma posição perigosa, tinha que ser rápida e sair logo dali, mas o lugar era muito grande, e mesmo com um mapa em mãos, achar o que estava procurando era difícil. Hernán, que fazia sua escolta, já estava começando a ficar impaciente.

– Que você acha de sair logo dai, hã? – Ele estava apoiado a uma parede ao lado dela, empunhando um imenso rifle de precisão, aquela arma podia acertar um alvo à mais de 2km, possuía tecnologia russa.

– Só mais um minuto – respondeu­ – Pronto, achei. Setor 9, 3 metros ao sul, tem uns cinco soldados lá, armados.

– Entendeu Juan?

– Já transmiti, vamos dar o fora daqui – Juan, um hacker profissional, estava sentado logo atrás dos dois, com um computador portátil no colo.

Rapidamente desmontaram o aparato improvisado que haviam montado para aquela pequena missão, e trataram da sair dali o mais rápido possível, não queriam estar por ali quando os alarmes soassem.

Desceram pelas escadas laterais de emergência, e quando puseram o pé na rua o alarme soou. Logo aquele lugar iria estar cheio de patrulhas, correram pelas vielas antigas da cidade até uma posição que julgaram ser mais segura, um pequeno estacionamento subterrâneo onde antigamente os refugiados se escondiam, agora a única coisa que restava era um monte de concreto empilhado nos fundos da caverna. Adentraram cautelosamente naquele lugar escuro. Tentaram falar com alguém pelo rádio mas este começou a falhar, haviam perdido o contato, estavam sozinhos e em território hostil.

Juan tirou do bolso um mapa traçado em uma folha transparente, as linhas brilhavam sobre o papel como um letreiro de neon, na hora Stella lembrou-se do presente que seu pai havia-lhe dado no seu décimo aniversário. Era um kit com aquele papel especial que fazia as linhas brilharem, rapidamente apagou da mente a lembrança.

– Merda, vamos ter que andar 3km até poder usar alguma coisa eletrônica, agora que eles acionaram o campo, qualquer coisa que usarmos vão nos acusar no radar, nem a pulseira vai funcionar. – Juan disse enquanto examinava os traçados brilhantes no mapa – Algo me diz que vamos dar de cara com uma porrada de patrulhas assim que sairmos na Av. principal.

– Então melhor seguirmos as linhas de transmissão até a hidroelé... – Hernán começou.

– Não vai dar – Juan interrompeu – As patrulhas saem de la, e mesmo que já não estiverem mais lá, estaríamos em campo aberto, qualquer um iria nos ver.

– Ora, vocês sabiam que ia ser difícil, não sabiam? – Stella parecia tranquila, enquanto montava o seu RPG.– Simples, vamos ficar aqui e esperar o campo ceder, chamamos o Eddie pelo rádio e saímos daqui.

– Você ficou louca? – Juan já demonstrava sua impaciência característica com a calma daquela mulher, ele sempre deixava a situação o afetar da pior forma – Vamos ter umas trezentas patrulhas aqui, vamos ser mortos! – De tão descontrolado, deixou cair a caixa de munição, que se espalhou pelo chão.

– Deixa de ser histérico hombre­! – Hernán o pegou pela farda e o sacudiu – Acorde porra! Se formos lá pra fora, aí sim seremos mortos. Vamos manter por enquanto, o idiota do Eddie não esperou nós sairmos do raio de ação, então nosso plano de fuga foi pro espaço! A única coisa que dá pra fazer agora é observar a situação e traçar um plano B, então pare de choramingar e pegue a porra da sua munição!

Hernán mais uma vez demonstrava o porque de ter sido um oficial amado pelos seus superiores, mas odiado por seus subalternos, pela sua gentileza característica.

Contrariado, Juan tirou uma pequena maleta da mochila, onde guardava sua Z-8, uma pequena sub-metralhadora portátil, e com uma lanterna, juntou a munição no chão carregou na arma e ficou a espera. Eles ficaram o tempo todo agachados na escuridão daquela caverna, com os ouvidos a postos ao menor sinal de perigo.

Lá fora ouviam as rajadas e as explosões, a batalha estava acontecendo. Mantiveram a posição por quase 2 horas, quando já estavam ficando fartos daquele lugar escuro, a barulheira lá fora cessou, esperaram um pouco mas já não se ouvia mais nada. Aguardaram mais meia-hora.

Os 2 homens dirigiram seus olhares para a mulher, em busca de orientação, mas ela continuava impassível, os ouvidos à espera. Foi então que ouviram algo, sons de passos, alguém se aproximava. Adentaram mais fundo no estacionamento, onde a escuridão os protegeriam de serem vistos, esconderam-se o melhor que puderam, com as armas em punho.

Alguém entrou, um facho de luz cortou as sombras, enquanto os passos continuavam a ecoar pelas paredes. Juan suava frio, com a arma tremendo nas mãos, Hernán parecia que iria explodir, tamanha era a adrenalina em suas veias, estava se controlando para não avançar e receber, quem quer que estivesse ali, com uma boa rajada. Stella estava calma e mantinha atenção à sombra que se aproximava. De repente a sombra parou, e ficou assim por um bom tempo, talvez tentando enxergar ou ouvir alguma coisa.

Eles sabiam que não poderiam atacar indiscriminadamente, pois além de não saberem quem era, se fosse algum inimigo, logo aquele lugar estaria cheio deles, e eles não teriam pra onde fugir, o jeito era esperar.

Passou-se uns 10 minutos antes da sombra ser mover novamente, em direção a saída, ela disse algo em russo, Stella entendeu, Hernán entendeu, Juan não entendeu. Ela tinha dito: "Há alguém aqui".

Aconteceu tudo muito rápido, Hernán acertou bem na cabeça da sombra, que desapareceu, enquanto o corpo caia desengonçadamente. Quando outras sombras apareceram na entrada daquela caverna, Juan as presenteou com uma saraivada de balas, que de primeiro momento as assustaram, pois não sabiam da onde vinha, não conseguiam enxergar, mas depois de passado o susto inicial, começaram a atirar no escuro. Sabiam que não havia outra saída, alem daquela, então quem quer que estivesse ali, não tinha como escapar.

Juan, Hernán e Stella também sabiam disso, e tentavam bolar algum plano, enquanto trocavam tiros com as patrulhas, quando viram que elas haviam jogado granadas de gás dentro do estacionamento, logo o lugar estaria tomado pelo gás venenoso, e qualquer chance deles cairia para 0. Entendendo que não havia outra maneira, Stella empunhou seu imenso RPG e, sem demora, disparou na direção da entrada, onde as patrulhas se aglomeravam. O que aconteceu foi o que se esperava, uma imensa onda de choque os jogou para trás, enquanto uma explosão surpreendente iluminava todo o local. Uma parte da entrada do estacionamento cedeu e começou a desmoronar, rapidamente os três correram para lá, enquanto o cogumelo de fumaça ainda se formava.

Já do lado de fora, a fumaça cegou-os por um instante, mas cegava também as patrulhas, que não os viram sair. Eles correram, a toda velocidade, sem olhar para trás, atravessando ruas e vielas. Os ouvidos ainda estavam zunindo. Tudo à volta jazia em pedaços, prédios inteiros, que vieram abaixo à muito tempo, ruas completamente esburacadas, crateras imensas dos antigos bombardeios. Corriam em direção ao norte, para fora do campo de radares, onde poderiam usar o rádio sem serem detectados.

Quando saíram de um beco lateral e atravessaram uma rua cheia de carcaças antigas de carros, viram de relance, a uns 300 metros mais abaixo na rua, um tanque colossal, tão grande quanto um ônibus, e dezenas de patrulhas agitadas, elas os tinham visto, mas não tiveram chance de fazer nada. Ainda correndo, Stella deslizou para trás de uma carcaça abandonada, com extrema habilidade e velocidade carregou um projétil, parecido com um comum de fuzil, mais um pouco maior, no RPG e disparou. O zunido daquela coisa indo em direção ao alvo causava terror em muitos soldados, sua trilha de fumaça era característica, aquela era uma arma especial, altamente sofisticada, e eis o motivo por que era conhecido como Panzerjäger:

Os três viram uma bola de fogo enorme, como uma pequena bomba atômica, surgir no local de impacto, e um cogumelo de fumaça, maior que o anterior, subir ao céu. Um clarão, como o de centenas de holofotes cegou-os, o que fez com que seus olhos ardessem instantaneamente. Mesmo de longe era possível sentir a forte onda de choque, alguns carros perto da explosão, mais longe o bastante para não serem pegos por ela, subitamente pegaram fogo, como por magica, e o barulho era ensurdecedor. Embora aquilo sempre os maravilhasse, mesmo à ela, que era a portadora da arma, não podiam ficar ali contemplando tal cena, trataram de sair dali o mais depressa possível.

Correram por alguns quilômetros entre becos, ruas, escombros, carros abandonados, até a exaustão. Enquanto faziam isso, passava pelas suas mentes, que se continuassem desse jeito e topassem com uma patrulha, não iriam ter tempo de reação, mas a adrenalina no sangue era tão grande, tão..

Eles sorriam, aquilo era perigoso, mas gostavam daquela sensação. Por fim pararam em uma pequena ponte sobre um curso d'água que saia do subterrâneo. A água era preta como petróleo, e cheirava mal. Tomaram um pouco de ar, a última tempestade havia ajudado a dispersar o ar tóxico que pairava pela cidade, mas ainda era um pouco pesado, o que gerava irritação nos pulmões depois de muito esforço, e a neblina escura aparecia constantemente. O céu estava coberto por nuvens escuras, o dia já estava caminhando para o fim. Hernán tentou contato pelo rádio, dessa vez conseguiu, estavam indo até eles.

Já a caminho do bunker central da Cidade do México, os 3 ficaram sabendo que a missão tinha sido um sucesso, embora a falha na comunicação quase tenha custado as suas vidas. Mas ainda não era hora de comemorar. Quando chegaram ao bunker, souberam de más notícias acerca da resistência. Foram conduzidos até o PC do Generalíssimo Edgar Sanchez, Comandante das Forças de Resistência do Distrito 3, o que incluía a Cidade do México, e as vizinhas Santiago de Querétaro e Celaya. Ao entrarem prestaram continência ao General, que devolveu junto com seus méritos.

– Os senhores desempenharam um ótimo papel – o velho começou, vestia uma farda velha e empoeirada, mas as platinas e medalhas, muitas, brilhavam como novas. Tinha setenta e poucos anos, um rosto cansado com um bigode que cobria boa parte do rosto e olhos escuros brilhantes por causa da catarata. – Mas temo que nossos esforços não estejam sendo suficientes para rechaçar os invasores. Os senhores são alguns dos nossos melhores soldados, por isso temos uma missão especial para vocês.

Os três ouviam atentamente enquanto o velho falava, mas não gostavam muito daquela conversa.

"La vem bomba" Juan pensou

– Nós perdemos a cidade e o porto de Vera-Cruz – o velho continuou, com sua fala arrastada enquanto andava de um lado para o outro. – Fomos encurralados e perdemos muitos homens, nossa assistência aos cidadãos está critica, por isso precisamos que vocês vão até lá, e ajude-nos a retomar o controle da situação.

O velho General se sentou na sua cadeira e começou a folhear um livro de anotações, quando terminou olhou demoradamente para os três jovens a sua frente, e riu, talvez estivesse lembrando do passado, da época que era jovem e o mundo não estava tão arrasado.

Mas havia algo de macabro naquela risada.

Os 3 se entreolharam, não sabiam o motivo da graça.

– Vocês são sobreviventes, guerreiros natos, essa missão é importante, precisamos daquele porto, sem ele, cortam-se nossas conexões com Havana, e a existência do nosso país ficará cada vez mais complicada. Se a resistência mexicana sucumbir, toda a América do Norte também sucumbirá, e não poderemos mais ajudar nossos vizinhos canadenses e estadunidenses, também iremos perder o controle do Caribe e das Guianas, então toda América Central será dos europeus, só nos restará metade da América do Sul, vocês entendem a situação?

Os 3 ficaram parados ali, tentando absorver a dimensão do que era dito. Sim, eles entendiam a situação, porém...

– Tu tá querendo colocar a porra do futuro da guerra sobre a nossa cabeça? É isso velho? – Juan enlouquecera – Quanto tempo nós estamos em guerra mesmo? 17 anos? Porra, 17 ANOS! Ou mais! – Ele, balançava as mãos e a cabeça como se estivesse delirando. Hernán tentou segura-lo, mas ele o repeliu violentamente.

– Tudo bem, deixe ele – Disse o General, que continuava sentado calmamente – Você acha que eu nunca tive ataques de histeria filho? Quando você ainda era um garoto eu já estava no campo de batalha, perdendo companheiros, familiares, e tendo que matar outras pessoas, isso é a guerra, nós estamos defendendo os nossos camaradas, as nossas crianças e o nosso país.

– Que país? Que porra de país? já foi lá fora? já viu o que sobrou? não sobrou nada! Nada! Quanto tempo ficamos nessa de perder e retomar uma base, uma cidade, ou a porra de uma província? – Juan já estava aos berros, um tenente entrou na sala, mas o General fez menção pra que ele não se intrometesse.

– Não seja tão chorão Juan. – Stella se virou à ele, e calmamente pôs a mão sobre seus ombros, Juan olhou estranhamente para aquele braço, meio robótico, meio humano. – Até parece uma criança! – Ela sorriu.

O General contemplava aquela cena, como um velho sábio, sorria também. Havia recebido aquela garota, ensinado a ela tudo que sabia, e se orgulhava pelo seu trabalho, e pensar que ela era tão rebelde no começo, tão arisca quanto seu companheiro.

Juan ficou vermelho, de timidez e de raiva, e tirou, educadamente as mãos dela do seu ombro, virou as costas e balançando a cabeça, disse:

– Tudo bem, o senhor manda chefe, vamos pra maldita Vera-Cruz, tomar ela e ganhar a guerra, só nós três.

– E quem disse que serão só os três? – o velho respondeu – Venham aqui.

A Sala de Comando do General tinha uma pequena janela, que dava pra parte principal do bunker, aquela mini-cidade subterrânea, e de lá eles viram uma grande tropa em posição. Deveria ter uns 600 homens lá.

– Onde conseguiram tanta gente? – Hernán perguntou impressionado.

– Digamos, que me cederam reforços – O velho respondeu divertidamente. – Quero que vocês os comandem, e assaltem Vera-Cruz.

– É uma honra, General – Hernán disse, prestando uma continência, e saiu.

– Fazer o que? – Juan completou mau-humorado, prestou uma continência e saiu.

Stella prestou uma continência e já acompanhava seus camaradas, quando o General lhe fez um ultimo pedido:

– Cuide dele pra mim.

–Sim senhor – ela respondeu e saiu da sala.

O velho continuou na janela, contemplando aquele lugar, as pessoas indo e vindo, montando suas barraquinhas, vestindo suas roupas maltrapilhas como de mendigos, as crianças correndo de um lado pro outro, se divertindo. Ele achava que aquele era o ultimo resquício de humanidade que eles poderiam ter, não poderiam suportar viver lá fora, não podia deixar que aquilo acabasse, não tinha nenhuma esperança de vitória, então faria de tudo pra proteger aquele lugar, custasse o que for.

Voltou a sua mesa, pegou o telefone, discou um numero de segurança e esperou, quando o outro lado atendeu, ele deu a ordem.

– 42.

E desligou.

Daniel Santos MontSerraint
Enviado por Daniel Santos MontSerraint em 04/02/2013
Reeditado em 07/02/2013
Código do texto: T4123129
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.