Um Estranho Mundo /3

..continuação do capítulo 2...

Eu despertei caminhando.

Foi uma experiência diferente de um simples acordar, minha consciência retornando devagar, como se estivesse lentamente me dando conta de onde estava. Primeiro a sensação dos pés afundando na neve a cada passo, só depois o frio em meu rosto, o ar entrando gelado em meus pulmões. Depois as memorias, a queda da nave, meus companheiros mortos.

Eu olhei para trás, apenas para ver uma longa trilha de pegadas subindo uma montanha, até se perder de vista, meus pés ainda se movendo mecanicamente, como que sem meu controle consciente. Eu devo ter saído da nave e começado a caminhar como um sonâmbulo, um resultado da batida em minha cabeça, talvez.

Uma vez mais coloquei a mão na cabeça. O sangue estava seco agora, mas minha cabeça ainda doía. Pelo menos não estava mais tonto.

Eu parei de caminhar e olhei ao meu redor. Hora de pensar no que estava acontecendo e no que ia fazer.

O terreno era inclinado, e eu estava obviamente descendo. Havia neve, e algumas árvores. Percebi que parecia haver mais para baixo, eu parecia estar no que seria o limiar de uma floresta. Ao longe, podia ver montanhas, algumas muito mais altas do que onde eu estava. O sol estava em um angulo de talvez 45 graus. Estaria começando ou terminando o dia? No segundo caso, em breve anoiteceria, e imagino que faria muito frio.

Foi só então que me dei conta de que estava em sério risco. Se já estava tão frio a ponto de haver neve, uma temperatura talvez ligeiramente abaixo de zero, quão frio ficaria de noite? Minha roupa era térmica?

Olhei para mim mesmo. A roupa era estranha, toda de uma só cor e de um tecido estranho, mas parecia proteger bem do frio. Era a roupa que usávamos na nave, é claro. Nosso uniforme.

Eu tinha que decidir o que fazer. Voltar para a nave? Havia mantimentos, talvez o rádio funcionasse, eu deveria esperar lá por uma equipe de resgate.

Então me lembrei. Eu não estava na Terra, não haveria nenhuma equipe de resgate.

Então continuei descendo, os passos tão mecânicos quanto antes, apenas meu olhar mais atento. Se estivesse terminando o dia, em mais algumas horas estaria tudo escuro, e era melhor aproveitar o tempo.

Por sorte, o dia estava na realidade começando. Começou a esquentar perto do meio dia, a neve derretendo tornando a descida mas escorregadia, a floresta gradualmente se tornando mais cerrada.

Algumas horas depois eu parei e sentei ao pé de uma árvore. Estava cansado e com fome. Uma ou duas vezes pensei ter ouvido movimentos de pequenos animais, esquilos ou algum animal equivalente deste mundo. Mas não tive certeza. De todo modo eu não era um caçador, nunca tinha sido sequer um escoteiro. Não tinha a menor ideia de como procurar comida.

Ainda estava sentado, à árvore, meu pensamento divagando, os olhos querendo se fechar novamente, quanto ouvi sons, como de pessoas se movendo e conversando.

Eu me levantei e comecei a caminhar na direção dos sons, depois a correr até me deparar com um grupo de cavaleiros no que parecia uma clareira, que, na verdade vi a perceber mais tarde, era na verdade uma estrada.

Eu os assustei, os cavalos começaram a relinchar e eu estava prestes a dizer para ficarem calmos, que eu apenas queria socorro, quando vi seus rostos. Não eram humanos. Eram amarelos, a pele como se fosse uma pantera.

Eu estava prestes a gritar, e meu braço direito instintivamente se estendeu, a mão apontando para um deles, por um instante eu tive a sensação de que iria explodi-lo com apenas um gesto.

E um golpe me atingiu uma vez mais na cabeça. A inconsciência desta vez veio instantaneamente.

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Ashur
Enviado por Ashur em 29/01/2013
Código do texto: T4112927
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