Pena de morte (dobrada na reincidência)

Quando o Meritíssimo Juiz adentrou a sala de audiências e lhe lançou um olhar de estudado desprezo, percebeu que suas perspectivas, já bastante ruins, haviam se tornado subitamente piores.

- O réu queira levantar-se para ouvir a sentença!

Os guardas - um de cada lado - também ergueram-se com ele, como se temessem que pudesse querer fugir. Mas, mesmo que essa hipótese houvesse lhe passado pela cabeça, não iria muito longe com os pés e mãos atados por correntes.

O juiz ajeitou os papeis e começou a ler:

- Eis o relatório: com base no que foi descrito nos autos, o réu é declarado culpado pelo Colegiado. Pela gravidade dos crimes cometidos, será aplicada a pena de morte, dobrada em caso de reincidência. A execução será imediata.

Havia contado com essa possibilidade. Era horrível, mas era melhor do que...

O juiz continuou a ler:

- Adicionalmente, e para que sirva de exemplo, o réu também perderá seu nome. O mesmo será apagado de todos os registros eletrônicos.

Ouviu alguém gritar. Era ele mesmo.

- O MEU NOME NÃO! O MEU NOME NÃO!

Um dos guardas disparou a arma de choque contra ele. Caiu ao chão em convulsões, uma cena patética.

O juiz fez um gesto para que o levassem dali.

* * *

Acordou numa cela metálica de piso acolchoado, onde o haviam atirado, já sem as correntes. A iluminação do cubículo aumentou ligeiramente, quando foi percebido que ele estava desperto. Tocou as paredes e sentiu uma ligeira vibração.

- Onde estou? - Perguntou para uma das paredes.

- Olá! - Respondeu uma voz alegre que parecia sair do teto. - Você está à bordo da nave que o conduzirá à execução da pena de morte. Como se sente?

- Mal. Como queria que me sentisse?

- Há algo que eu possa fazer para que se sinta melhor?

Pensou em dar uma resposta grosseira, mas a pergunta havia sido feita num tom tão gentil que ele acabou por dizer, sardonicamente:

- Me dê o seu nome!

- Acho que não está tão mal assim. Já está até fazendo piadas - gracejou a voz.

- É, foi uma piada. De péssimo gosto. Como é esse lugar para onde estamos indo?

- Oh, é... um planeta. Bastante primitivo, aliás. Os habitantes ainda não dominam o voo espacial.

"A prisão perfeita", pensou.

- E qual é a expectativa de vida?

- Os nativos vivem uns 50 anos - se tiverem sorte. Há guerras, doenças, esse tipo de coisas...

- Pelo visto, não vou sofrer de tédio - ponderou. E depois, considerando que a viagem seria longa, acrescentou:

- E qual é o seu nome?

A voz alegre deu uma risadinha:

- Funcionou da Outra Vez!

[17-01-2013]