O Mecanismo

O artefato original nem mais existia naquele final de século XCIX. Mas seu mecanismo preciso ainda estava cuidadosamente registrado no banco etéreo de memórias da via-láctea. Qualquer ser de energia poderia consultá-lo, tentar entendê-lo... e, invariavelmente, todos se surpreendiam ao fazê-lo. Que maravilha mecânica milenar era aquela? Quem havia planejado tal mecanismo agora certamente reduzido a migalhas lascadas de metal oxidado, espalhadas na superfície desértica de um planeta que milênios atrás costumava ser chamado de "Terra"?

Sim, todo mundo alguma vez na vida já vibrou energéticamente, ou ouviu falar de quem o fez, com um descendente energético dos antigos terráqueos. Mas uma quantidade muito maior ainda poderia mesmo descender de terráqueos sem saber. Tempo demais se passou, já haviam todos se desfeito do pesado fardo de seus corpo orgânico a pelo menos uns 40 séculos. Podiam viajar para qualquer lugar da galáxia instantaneamente, na forma de campos energéticos modulados. Muitos nem mais conseguiam conceber como seria viajar preso a um corpo formado de tecidos de carbono ou silício, dentro de enormes carcaças metálicas que confinavam gases pesados como oxigênio, nitrogênio ou metano, tentando acelerar o monstro de matéria até próximo do frustrante limite da velocidade dos fótons. Ah, como deveria ser dura a vida na pré-história da via-láctea!

O fato é que aquele mecanismo, por mais incrível que fosse esta hipótese, parecia ter vindo exatamente de algum lugar desta pré-história! Como explicá-lo? Era natural que a maior parte dos cidadãos galácticos não se lembrassem mais em que ponto exato da espiral se situava seu planeta de origem. Nem mesmo saberiam dizer se eles ainda existiam, se suas estrelas centrais já explodiram... A grande maioria conseguia no máximo apontar, e isto com certo grau de incerteza, de qual dos braços da via-láctea surgiram os seres físicos dos quais eles descendiam. Não era mais importante, pois as inteligências não viviam mais em corpos. Não dependiam de tal veículo primitivo para existirem. Vida orgânica? Certamente ainda existiam de forma primitiva na galáxia inteira, microbianas, vegetais, animais primitivos evoluindo, iniciando suas civilizações. Mas não precisavam mais passar pelo tortuoso caminho evolutivo pelo qual passaram os primeiros seres inteligentes da galáxia. Eram rápido conduzidos por seus tutores cósmicos à civilização energética. Agora era possível detectar bem rápido as primeiras emissões artificiais de rádio de civilizações que começavam seu desenvolvimento tecnológico.

Naturalmente os corpos energéticos não tinham forma. Portanto, nenhuma anatomia em particular. Os poucos corpos do fim do século XL já tendiam a uma uniformidade, quer pela combinação genética de características interessantes das várias espécies inteligentes, quer pela simbiose de cérebros orgânicos com cérebros quânticos tão comum na época. Mas agora que todos os seres inteligentes eram energéticos, ficava praticamente impossível lhes distinguir as origens. E isto nem tinha mais importância mesmo para eles. Não viviam mais em 55Cancri, nem na Terra, nem em Titã. Nem no gigante gasoso Veôncituf, cortejado pelas suas seis anãs-brancas girando ao seu redor. Um dos poucos exemplos de planetas hiper-massivos que eram centros de seus sistemas planetários. Nada disso tinha mais importância, e era raro mesmo alguém se preocupar em saber qual era seu planeta de origem.

Mas a Terra era diferente! Sabiam com certa precisão que ela orbitava alguma estrela no centro daquele aglomerado desgarrado entre os braços de Perseu e de Sagitário, e isto já era uma precisão surpreendente! E o que tornava a Terra tão especial assim era um fato bem simples: foi de lá que veio O Mecanismo!

"Tantos já estudaram esta máquina, e ainda faltam tantas lacunas para entendermos seu mecanismo..." - vibrou Muö para o amigo Ihnm. - "Seria possível colocarem um algoritmo etéreo tão complexo assim num dispositivo mecânico? Material? Como fizeram, Ihnm? Me explica! Você que tem descendência terráquea, me diz!"

"Não estou certo disso, Muö! Se sou mesmo do sol amarelo da Terra, ou de alguma outra estrela perto. Sírius, Capela... posso ter vindo de qualquer uma naquela região, não me lembro bem."

"Mas de qualquer forma seus tataravós tiveram contato bem direto com terráqueos, não é? Devem ter acompanhado a construção dO Mecanismo..."

"Não estou certo se isto é mesmo do século XXXV, amigo! Pode ser mais antigo..."

"Anterior à pré-história?! Não, agora você está exagerando."

"Faz sentido, Muö!" - Éa resolveu participar daquela ressonância mental. - "Se já possuíam até computadores quânticos implantados em seus cérebros orgânicos, por que projetariam um dispositivo mecânico tão complexo? Não faz sentido... A não ser que o dispositivo seja bem mais antigo!"

Muö alterou o spins de alguns bósons para ionizar registros armazenados no hidrogênio neutro do disco gasoso da via-láctea, base material capaz de atuar naquela gigantesca memória coletiva armazenada em meio etéreo. Buscava maiores detalhes sobre a origem daquela lembrança dos detalhes dO Mecanismo.

"Sim, tem razão... A lembrança foi migrada de antigos registros digitais. Quem as registrou já não possuía mais O Mecanismo original."

Continuaram algum tempo admirando O Mecanismo, imaginando Sua função.

"Era consciente!" - arriscou Ohar, se juntando àquela acalorada ressonância de ideias. - "Acredito que quando enfim conseguirmos encadear todos os mecanismos, simular o algoritmo latente nessas rodas, molas e pistões cambrianos, uma consciência deve emergir dO Mecanismo!"

"Francamente, Ohar! Um dispositivo mecânico com consciência?"

"Por que a surpresa? Os antigos neurônios, com suas sinapses registrando informações, não eram no fundo dispositivos mecânicos? Usando reações químico-elétricas ao invés de engrenagens e molas, mas... não eram tão mecânicos quanto O Mecanismo? E ninguém duvida que eram conscientes, não é?"

"O grau de complexidade é bem diferente!"

"Como sabemos? Se nem conseguimos ainda consolidar todo O Mecanismo num funcionamento uno, harmônico, que ele deveria possuir em sua origem. Como saber?"

"E qual a finalidade dele?" - Éa colocou em discussão. - "Pra quê foi construído? Qual era sua finalidade?"

Os seres energéticos se debruçaram sobre aquela antiga lembrança. Tinham esperanças. E se aquilo respondesse suas perguntas? A grande pergunta, por exemplo: como chegar em Andrômeda? Inexplicavelmente sem vida inteligente, ao que tudo indicava. Mas seria possível mesmo que a vida inteligente só tenha surgido numa galáxia espiral de tamanho médio chamada Via-Láctea, existindo tantos outros bilhões de galáxias repletas de estrelas no resto do Universo? Impossível alguém acreditar nisto, mas... não tinham provas! Tentavam se comunicar com Andrômeda a milênios! Com as nuvens de Magalhães também, e com outros aglomerados estelares próximos usando os canais supra-etéreos. Mas sem respostas! Ir até lá? Vocês não fazem ideia do vácuo que existe entre as galáxias! Dentro do disco galáctico, o suposto vácuo na verdade não era vácuo! Existia matéria lá! Esparsa? Bem, em escalas pré-históricas sim! Os antigos seres primitivos talvez não percebessem diferença alguma entre o vácuo interestelar e o vácuo intergaláctico. Mas para os seres de energia, era esta a diferença entre poder respirar e não conseguir respirar! Vidas valiosas foram perdidas na tentativa absurda de se saltar este vácuo intergalático para atingir aglomerados mais próximos. Acreditavam que O Mecanismo, quando emergisse no plano consciente, poderia lhes mostrar o caminho a seguir.

Eles queriam mesmo saltar até Andrômeda, descobrir sua vida inteligente, ou povoá-la caso não a encontrassem. Lhe mostrar o caminho, atuar sobre o anel rico em carbono ou silício em torno das estrelas de lá, sugerirem o formato de espiral codificadora... Mas no momento este salto quântico era impossível. Estavam presos ao cordão umbilical da Via-Láctea, presos ao seu disco gasoso. Não podiam atravessar o vazio, pois a energia dependia de alguma matéria, mesmo que fosse POUCA matéria. Eles não se lembravam mais, mas que grande ironia se soubessem que temores parecidos faziam os terráqueos acreditarem ser impossível chegar na Lua de seu planeta, ou em Marte, ou nas luas de Júpiter e Saturno. E que mais absurdo ainda seria pensar em visitar estrelas próximas, como Vega, Carinae, Sírius... Sempre o vácuo! O Vazio! O grande vilão!

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- De onde vieram estes diagramas? - esbravejou o capitão Koreoatovane, não entendendo que urgência havia em registrar no tecido cósmico os mecanismos daquela máquina do século XXII.

- Um engenho mecânico incomparável, Capitão! - tentava Jorholderine, técnico de comunicações, exaltar a importância daqueles novos dados.

- São dados terráqueos, não é? - o capitão capeliano não conseguiu disfarçar seu tom de desdém.

- Na verdade de computadores marcianos, capitão! - Jorholderine tentou amenizar um pouco do enorme preconceito que existia na época por informações provenientes da Terra. Ele próprio tentava a todo custo esconder suas descendências terráqueas, por saber que isto nada lhe favoreceria no novo mundo estelar.

- Mas... Marcianos reproduzindo informação terrestre, não é? - não era fácil enganar o capitão capeliano.

- Senhor, as informações são sobre... O Mecanismo!

Ah, O Mecanismo! A Terra era ruim! Inferno galáctico! Tudo de ruim acontecia nela! Guerra Atômica? Que imbecil inteligência seria capaz de, tendo desenvolvido tecnologia nuclear, utilizá-la para guerrear, lançar bombas covardes deste tipo sobre representantes da própria espécie? Todos sabiam a resposta: humanoides terráqueos! Eles foram inteligentes o suficiente para chegarem à energia nuclear muito rápido! E burros o suficiente para a testarem na superfície do próprio planeta!! Um misto de admiração e pena era o que todos sentiam por toda a galáxia pelos humanos terráqueos! E se tivesse demorado mais? E se o socorro chegasse tarde demais, depois dos humanos se auto-extinguirem? Bom, olhar para trás é besteira! O que aconteceu, aconteceu. O que não aconteceu, não aconteceu. Assim as coisas avançavam...

- Então... O Mecanismo veio mesmo da Terra, não é?

- Tudo indica que sim, capitão! O espectro de minerais, por exemplo, indicam origem terrena. Difícil questionar!

O capitão Koreoatovane baixou a cabeça pensativo. Ele precisava confiar em seus especialistas!

- Século XXII? De 13 a 14 séculos atrás, não é? E o que faz tal máquina?

- Tentamos reproduzi-la! - assegurou seu mestre-arqueólogo. - Reproduzimos suas peças, tentamos fazê-la funcionar, mas... está além da nossa compreensão!

- Não sabem montá-la?

- Não! Temos todas as peças! Todas as rodas, engrenagens, réguas, molas... Imprimimos as peças todas em nossos materializadores moleculares, mas... não temos instruções de como interligá-las! Só podemos fazer suposições...

- E onde levam estas suposições?

- A um mecanismo de inteligência artificial, meu capitão! - ousou se apresentar o especialista em inteligência robótica daquele habitat.

- Inteligência Artificial? Num dispositivo mecânico? - o capitão só não ousou rir por perceber a expressão séria do especialista.

- Aquilo que conseguimos parcialmente com dispositivos de processamento quântico? Sim capitão! Exatamente isso!

- Meu caro Lioipzatch! Como você explica terem conseguido, a mais de dez mil anos atrás, com um dispositivo mecânico, algo que buscamos a tempos nos computadores quânticos sem sucesso?

- Provavelmente eles se arriscaram na direção certa! - afirma Lioipzatch. - Numa direção que nunca tentamos, confiantes em nossos computadores quânticos. E se a aleatoriedade quântica não for indispensável para a emergência de consciência?

- Como?

- Dispositivos mecânicos podem ser ainda mais imprevisíveis! Estamos tentando pôr mordaças naquilo que não podemos! É isto que estou dizendo!

Apesar da intensa mistura genética, era inegável a evidente raiz terráquea do capitão da nave. Quer pelas mãos simétricas com 5 dedos cada uma, quer pelo contorno cartilaginoso em torno de seus orifícios auditivos... era evidente que seus olhos reptilianos, de retinas verticais, eram artificiais! Uma tentativa de não parecer tão humano, tão terráqueo... quanto de fato ele era! Na época, ninguém se orgulhava muito mesmo de ser terráqueo! Quem era, tentava esconder.

- Vale a pela continuar estudando O Mecanismo, Lioipzatch?

- Não sabemos encadear tudo ainda, dizer como funcionavam, mas... sim! Vale a pena! Algum dia, alguém será capaz fazê-lo!

- Então registre a máquina no tecido cósmico... e vamos nos ocupar de coisas mais interessantes.

- Registrado, capitão! O mecanismo parece antigo, foi escaneado de uma rocha já bem gasta... Mas algum dia alguém vai ser capaz de reconstruí-lo. Contanto que o armazenemos bit a bit.

- Não sabem mesmo pra que servia?

- Completamos algumas lacunas! Conectamos algumas engrenagem que nos pareceram óbvias. Aquelas sobre as inferências cronológicas, por exemplo: nos pareceram óbvias demais para não estarem no plano original! E foram assim conectadas que as registramos!

- Ótimo! Quanto à origem? De onde vem O Mecanismo?

- De algum momento do século XXII! Pelo menos uma dúzia de especialistas garantem isto!

O capitão Koreoatovane olhou de lado a lado toda a extensão daquela galeria de sua gigantesca nave, rumando ao canto oposto da galáxia, ainda desconhecido.

- E quanto às dobras temporais, meu caro? Já sabemos que existem. Mas como inferi-las? Como localizá-las?

- Acreditamos que O Mecanismo era capaz de prevê-las.

- Numa época tão antiga? Em que as naves ainda se moviam a velocidades newtonianas? Que interesse teriam eles em tais dados?

- Não sei, capitão! Nem sei se foram eles mesmos que o fizeram! Parece bem mais antigo...

- Anterior ao século XXII??? Está brincando...

- Possuíam computadores quânticos primitivos no século XXII, capitão! Não precisavam de dispositivos mecânicos para seus cálculos... Acredito mesmo que ele seja bem mais antigo.

- Que seja, meu Lioipzatch. Mas sem aplicações práticas? Registremos e o deixemos de lado. Parta para o estudo do próximo mecanismo: a Máquina de Antikythera!

Assim Lioipzatch deixou de estudar O Mecanismo, e começou a se dedicar a outro tão antigo quanto, ou talvez mais: os rascunhos da Máquina de Antikythera!

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O pedaço de rocha chegou cuidadoso em Marte, considerado o lugar mais esterilizado do sistema solar, com menor possibilidade de contaminar aquele artefato milenar. As colônias marcianas eram consideradas as mais livres de contaminação naquele século XXII mesmo! Não era coincidência ser o lar de inúmeros arqueólogos. Ou ao menos os mais conceituados.

- Em que estado se encontra o mecanismo? - queria saber Indiana.

- Bem desgastado, professor! Parece bem antigo!

- Não poderemos testá-lo?

- Infelizmente não. Mas escaneamos, podemos fazer uma cópia exata em metal mais resistente.

- Não é suficiente... tem que ser o MESMO metal! E se sua densidade, porosidade, etc... fizerem parte do processamento? Não podemos arriscar...

A réplica brilhava prateada à sua frente.

- Ah, não é a mesma coisa... - suspirou o arqueólogo. - Mas deve servir para o começo.

Começou a girar as rodas. De onde supunham vir aquilo? Do ano 2000 A.C.? Não existia domínio técnico na época para confeccionarem tal tipo de máquina!

- É um planetário! - afirmou Indiana logo nos primeiros movimentos da réplica. - Óbvio que o pino central é o sol, a roda menor é mercúrio, a seguinte Vênus, depois Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão, Sedna, Orcus, Eris, Makemake, Haumea... os ciclos são claros!

- Êpa! Calma aí! Como eles sabiam destes outros planetas? De Plutão, Sedna, Haumea e companhia? Mesmo de Urano e Netuno, invisíveis a olho nu do planeta Terra? Por que fariam uma máquina prevendo movimento de planetas que eles nem eram capazes de detectar na época?

- Ah, me explique você! - se divertia o capitão.

- Eu explico: ISTO NUNCA FOI UM PLANETÁRIO! Queríamos que fosse, e distorcemos nossas explicações para que se ajustassem a isto. Mas acredito que era além! Que servia a um propósito quer somos incapazes de imaginar!

- Ninguém conseguiu fazê-lo funcionar ainda na totalidade.

- O mecanismo é complexo! Existem certas rodas de inferência com tal complexidade em suas engrenagens que nem conseguimos sonhar qual seria sua finalidade original!

- Onde isto foi encontrado?

- Um museu da Europa.

- A lua de Júpiter?

- Não, capitão! Não a Europa lua! Eu falo da Europa continente da Terra. Na antiga Itália, mais especificamente!

- A sim! - completou o capitão, com certo asco. - Isto veio da Terra...

- Sim! Preservado numa igreja do século XVIII

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Isaac Newton não se cansava de manipular O Mecanismo! Estava bem danificado, mas ainda operacional! A peça milenar, prateada, com vários trechos oxidados, ainda cumpria bem sua função.

- É um antigo integrador mecânico! Não tenho dúvida alguma quanto a isso!

- Integrador mecânico? Isto não existe, professor!

- "Inexistência de provas nunca é prova de inexistência!". Eu reafirmo que isto foi um integrador mecânico! Um dispositivo capaz de realizar cálculos de infinitesimais!

- Mas... com que finalidade, Newton?

- Sabem de que época isto veio?

- Suposições apenas. Talvez dos gregos. Dos egípcios. Impossível saber ao certo com as tecnologias que temos hoje...

Ainda que não fosse sua especialidade, ele conseguia reconhecer muito bem os símbolos gravados na roda dentada mais externa.

- Certamente estes aqui não são "hieroglifos gregos", não concorda meu caro? Isto poderia ter 5... 6 mil anos?

- E ainda funcionando? Improvável...

- Algumas falhas óbvias que consertamos, mas... sim! Ainda funciona! Por que não pode ser tão antigo?

Isaac Newton ordenou que O Mecanismo fosse preservado da melhor maneira possível. Reconheceu que inexistiam recursos na época para estudá-lo a fundo, mas que isto seria possível no futuro. O lacrou o melhor que pôde. Mas não sabia que o mecanismo acabaria oxidando por melhor que fosse o cuidado que a ele dispensasse...

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O faraó adorava gatos! Convivia com centenas deles! Cuidava de cada um individualmente. Ou tentava fazê-lo...

Gatos são bichos caprichosos, têm personalidade própria. Difícil cuidar de um só, muito mais de uma centena deles! Mas o príncipe do delta do Nilo os amava! Por isto chamou logo seu conselheiro ao perceber as reclamações felinas insistente:

- Qual o problema? Por que esses gatos miam tanto?

- Nem imagino, meu faraó!

- Pois descubra!

Ammon crescera rodeado de gatos. Sabia bem existir uma língua clara em seus miados. Por isso decifrou logo a lamentação dos felinos.

- Estão com fome, meu faraó!

- Fome??? Por que não estão sendo alimentados?

Ammon deixou a pirâmide real, em direção à pirâmide dos gatos. Por que os gatos estavam com fome? Entrou na pequena pirâmide felina, de 100 metros de altura. Se dirigiu logo à câmara central. Era lá que comiam os gatos do faraó! Cada um com seu pratinho, suas preferências particulares, seus horários fixos. Um adorava peixe, outro preferia aves... Mas a vontade de cada um era respeitada com cuidado! O que estava errado?

À medida em que se aproximava pelo corredor principal da pirâmide, o amontoado de comida de gato espalhada pelo corredor indicava que algo estava errado. Sujeira! Os gatos odeiam sujeira! O que estava errado? Que estava acontecendo dentro daquela pirâmide?

Ammon se deparou com O Mecanismo no centro da pirâmide dos gatos. Viu suas rodas mecânicas, suas polias, molas, pistões. As mais externas transportavam peixes. As centrais levavam aves em pedaços. Leite jorrava sem parar do centro de uma engrenagem periférica, espalhando comida e sujando tudo em volta. Sim, havia algo muito errado mesmo! Teria que chamar de volta os engenheiros, dar um jeito naquela bagunça. Voltou correndo até o trono do faraó, para lhe dar a desagradável notícia:

- Meu faraó, a Máquina de alimentar os gatos quebrou de novo!

**** FIM ****