Pelas contas dos registros da policia local, ao todo foram seis desaparecimentos. Quatro homens e duas mulheres, todos jovens na faixa entre 20 e 30 anos. Nos registros continha as datas e os nomes dos desaparecidos.


Elton Luis 23 anos, desapareceu dia 08 de junho de 1958. (amigo dos primos)

Celis di Paula, namorada de Elton, 21 anos, desapareceu no mesmo dia. (amiga dos primos)

José Antonio Rondinelli, 30 anos desapareceu dia 23 de agosto de 1956.

Raimundo Rocha Marquesini, 29 anos, amigo de José Antonio, desapareceu no mesmo dia.

Cássia Cassiano Costa, 25 anos desapareceu dia 14 de julho de 1954.

Josué Ramirez Costa, 28 anos, esposo de Cássia, desapareceu no mesmo dia.


Segundo o atual delegado de Marília onde foi feito o boletim de ocorrência, todas estas pessoas desapareceram durante caminhadas dentro da mata, muitos foram em busca de caça, outros para procurar palmitos e alguns foram para se aventurar mesmo, numa dessas aventuras duas testemunhas que conseguiram voltar, disseram em depoimento que estavam andando por uma trilha há três dias, quando do nada uma forte neblina caiu sobre onde estavam, não conseguiram enxergar  um palmo á sua frente, o casal Cássia e Josué estava com eles, só escutaram um grito de Cássia e logo depois um grande silencio que foi possível ouvir uma queda d’água, Bernardino e Moises gritaram pelos amigos, mas ninguém os respondeu. Com medo e sem como procurar pelos amigos, o jeito foi tentar voltar e pedir ajuda. No depoimento Bernardino disse que apesar de terem marcado a trilha, a neblina fez com que se perdessem, depois de muitas horas é que conseguiram sair da neblina e perceberam que estavam muito longe do local que estavam. Moises teve que subir num pé de jequitibá para poder ver onde estavam exatamente, e dali encontrou o caminho de volta. - Ao chegarem, foram diretamente á casa da família do casal, como já era noite, vieram na delegacia pela manhã e uma equipe com três policiais e dois bombeiros mais eles dois retornaram para a floresta procurar pelo casal, mas depois de uma semana procurando, o delegado acabou encerrando as buscas, mesmo seguindo as trilhas demarcadas jamais foi encontrado nenhuma cachoeira e até mesmo o local onde eles disseram que o casal sumiu, não havia nada, apenas mato e muitas arvores, como a mata era fechada naquele lugar, havia pouca luz, a luz do dia não conseguia penetrar, o chão era úmido e com muitas folhagens, tentamos iluminar o local com as lanternas, os bombeiros ainda adentraram mais um pouco, mas era impossível continuar, alem do perigo com onças e outros animais atacarem, contou o atual delegado Dr.Miguel...


... -Já os outros desaparecidos, as famílias só fizeram boletim de desaparecimento semanas depois. Era época de chuvas e não foi possível fazer buscas, mesmo assim depois de alguns dias de estiagem, foram feita buscas, mas a única coisa que encontraram, foram pertences como algumas roupas, botas e as armas, todos na mesma área, separados apenas por alguns metros e posições diferentes, as pessoas jamais foram encontradas.
Os familiares acreditam que ainda possam estar vivos no meio da mata em algum lugar, tentando encontrar o caminho de volta, mas desde o primeiro desaparecimento já se passaram 16 anos, Moisés faleceu á dois anos, e o senhor Bernardino hoje com seus 65 anos tentou algumas vezes refazer o caminho novamente, mas sem êxito, acabou desistindo, hoje mora num pequeno sitio com sua esposa e os três filhos.


O corpo de Henrique chegou à superfície. Na infância os dois brincavam de mergulhar dentro de um barril com água e disputava quem ficava mais tempo dentro mergulhado, apesar de Samuel ser um exímio nadador, Henrique era o que tinha mais fôlego dentro d’água.


Por instinto Henrique buscou o ultimo sopro divino, um sopro, só um sopro de ar era o que ele precisava. Depois de girar e descer pelo redemoinho seu corpo parou de girar e boiou até uma superfície e chegou até uma margem de areia, aquele ultimo sopro divino que tanto precisava, lhe foi concedido. Começou a tossir e aos poucos jogou o excesso de água que havia engolido. Desesperado seus olhos buscaram pelo primo, ainda cansado levantou-se devagar e cambaleando viu do outro lado da margem o corpo de Samuel. Henrique atravessou as águas rasas e chegou até onde estava o corpo despido do primo. Rapidamente ele o virou de bruços e verificou seu pulso, o virou de lado para tentar que expelisse um pouco da água, depois o virou novamente de bruços, aspirou as secreções do nariz e da garganta, fez respiração boca a boca, enquanto repetia o procedimento, Henrique gritou para ele não desistir.


- vamos primo, eu sei que está me ouvido, você é teimoso, não vai desistir, respira, respira, por favor!


Depois da quinta tentativa, enquanto Henrique fazia respiração boca a boca, Samuel finalmente tossiu e jogou um pouco de água pela boca.

- graças a Deus, eu sabia que você era teimoso e não ia desistir e me deixar sozinho.


Henrique também despido puxou o primo até a margem mais alta. Estava quente, embora o tempo fechado e garoando, Henrique ainda não havia assimilado o lugar em que estava. Só se preocupou em cuidar do primo que aos poucos recuperou os sentidos e o abraçou.

- o que, coff coff, o que aconteceu ?

- ainda não sei Samuel, só lembro que estávamos tomando banho no lago, você estava sendo puxado por um redemoinho, tentei te segurar, mas acabamos sendo puxados pela correnteza e caímos nesse lugar, agora precisamos encontrar como voltar, nossas roupas, comida e os burros ficaram todos lá, precisamos voltar de qualquer jeito, antes que escureça.

- Mas a gente nem sabe onde estamos, olhe este lugar, só tem arvores secas, onde está os pássaros, a floresta, acho que estou vendo coisas.

Como milagre os dois sobreviveram. Ainda nus, procuraram alguma coisa para se cobrir, mas não encontraram nada que pudessem usar. Estavam em um lugar estranho, árvores que saíam de dentro do lago, parecia um pântano.

 

- Samuel, onde será que estamos? Esse lugar é muito estranho, não se parece nada com o lugar de onde estávamos, parece loucura, se você não estivesse aqui comigo, diria que estava ficando louco, olhe estas árvores retorcidas, isso não faz parte do nosso mundo.

- é, estou te entendendo, diria até que fomos transportados para outro mundo.

Os dois estavam certos, o redemoinho era um tipo de portal para outro mundo, os dois mal podiam esperar pelo pior, muita coisa iria acontecer talvez eles não voltassem para o seu mundo novamente.

- vamos sair daqui e procurar alguma coisa, quem sabe não achamos mais alguém que possa nos informar de onde estamos e emprestar umas roupas.

Saíram do lago e foram conhecer o lugar e tentar encontrar alguém, o dia estava claro ainda, mas as nuvens estavam carregadas, logo mais iria chover forte. O lugar realmente era tenebroso, muitas árvores com galhos secos e retorcidos por todo lado, o chão era uma espécie de lama, como se estivessem andando num manguezal. A paisagem retorcida e melancólica era deprimente, lembrava muito a caatinga nordestina, só que ao contrário de terra seca, era uma terra extremamente úmida, escura e mal cheirosa.


O tempo se fechou completamente, raios iluminavam o escuro céu, trovões ecoavam ao longe e a chuva começou a cair fortemente, onde eles estavam era só lama, teriam que sair dali rapidamente se não poderiam ficar presos, resolveram voltar até o lago onde caíram, pelo menos lá havia areia, ficaram sentados debaixo de um tronco, a água começou a subir rapidamente e segurando nos galhos subiram até a parte mais alta do tronco.


Na floresta onde estavam antes de caírem no redemoinho o tempo estava igual, raios e trovoes acompanhado de muita chuva. Os burros procuraram abrigo e ficaram debaixo das árvores, o lago logo começou a encher rapidamente, ás águas que desciam do morro formaram uma verdadeira enxurrada que acabou empurrando as roupas e as cangalhas para dentro do lago e ficaram boiando.



O lago onde estavam os primos ficou bem cheio e com uma visão do alto, Samuel e Henrique avistaram uma montanha de pedras que dava uns dois dias de viagem até lá, e também puderam depreciar a funesta paisagem.

Alguma coisa se moveu na água logo abaixo deles.

- o que é isso Samuel, será que é algum jacaré, peixe não deve ser pelo tamanho.

- sei lá, se fosse jacaré dava pra ver a cabeça dele, na duvida é melhor a gente ficar aqui até parar de chover e a água baixar.


Na outra parte da floresta, o lago transbordou, as roupas boiaram, mas as cangalhas pouco se moveram do lugar por causa do peso. O redemoinho começou a puxar as roupas que logo foram engolidas enquanto o casal de burros permanecia debaixo da arvore.


Era dois mundos completamente diferentes, de um lado uma floresta viva, cheia de vida, árvores, plantas, matas nativas, flores, pássaros e animais de toda espécie. Do outro lado, uma natureza mórbida, árvores secas e com galhos retorcidos, não havia vegetação nem sinais de animais, pelo menos por enquanto, apesar do solo ser escuro e úmido não havia nenhum tipo de vida vegetal.


A chuva deu uma trégua e água do lago começou baixar, Samuel e Henrique desceram do tronco e foram até a margem, quando um milagre aconteceu.

- Samuel, Samuel, olha lá, acho que é a nossa roupa!

- pelas barbas do profeta! Não é que é verdade!


Os dois logo correram e entraram no lago para recolher suas roupas.

Junto com suas roupas também vieram as botas, os facões que estavam presos junto a bainha amarrada no cinto, uma espingarda que veio enroscada no cadarço de uma das botas, mas que não adiantava muito, pois a pólvora havia se perdido.


Mesmo com as calças molhadas eles se vestiram, calçaram as botas e as camisas, algumas outras roupas não vieram, como os casacos com toucas nem as luvas, mas dado à situação que estavam, foi muita sorte terem recuperado parte das roupas e armas.

- com o calor do nosso corpo, logo, logo as roupas estarão secas e é melhor andar com elas molhadas do que pelado, - comentou Henrique.

- isso é verdade primo, já estava cansado de ficar olhando pra sua bunda branca, agora vamos procurar um lugar pra passar a noite, e é melhor acharmos logo.

-simbora! Vamos até aquela montanha de pedra, lá deve ter algum lugar pra ficar.


Enquanto estava se preparando pra sair, aquela mesma coisa saltou no lago, assustados os primos olharam pra trás e só viram uma grande costa escamosa que parecia a cauda de um jacaré.

- misericórdia Samuel, se isso foi um jacaré, nem quero ver o crocodilo.

A montanha de pedra.


Apertaram os passos e seguiram em direção á montanha de pedra. Havia muita dificuldade para andar, ainda mais que ficou quase tudo alagado, andaram se segurando nos galhos secos e espinhosos. No céu avermelhado da tarde surgiu o segundo sinal de vida daquele lugar, mas estava longe e não dava pra definir o que seria, parecia uma grande ave sobrevoando a montanha de pedra.

Andaram até chegarem ao meio do caminho, saíram do lamaçal. Embora o chão ainda estivesse úmido, não se comparava do lamaceiro de onde estavam. A noite chegou, o céu ainda avermelhado dava um pouco de claridade e assim procuraram um local pra passarem a noite. Encontraram uma enorme arvore com raízes com mais de um metro de altura.

-é aqui mesmo Henrique, dá pra gente dormir aqui, pelo menos se chover não vamos nos molhar, só precisamos tomar cuidado com cobras e algum tipo de animal.

O chão ao lado do tronco da arvore estava seco e duas raízes grandes formavam um triangulo, fazendo uma parede de proteção e os escondendo de algum perigo. Extremamente cansados, tiraram as botas e dormiram...

As criaturas

 chefe Gnoru
...não, eles não dormiram, ouviram vozes, murmúrios e sons de animais que jamais ouviram. Pela fenda entre as raízes, os primos olharam com pavor o movimento, que se parecia uma formação de batalha.
Carregando tochas e montados sobre os animais estranhos, as criaturas mutantes se revelaram com o iluminar do fogo. O corpo se assemelhava aos humanos, mas havia algo diferente que não dava para ver direito, as orelhas eram nitidamente maiores, o nariz achatado e uma grande mandíbula.
Uma carapaça, espécie de capacete formava sua cabeça, braços alongados, assim como os dedos com grandes unhas, as pernas musculosas e compridas e os pés eram como patas de animais e os dedos colados e tinha uma grande cauda. Os animais eram um tipo de ave pré-histórica, pernas alongadas e um enorme bico,  emitia um 
som estranho.

Gnokus
Uma das criaturas foi á frente, provavelmente era o chefe do bando, levantou sua mão esquerda para o alto dando sinal para que parassem, desceu do seu animal e começou a iluminar o chão com a tocha, logo descobriu os passos de Samuel e Henrique.

CAPTURADOS.

O chefe seguiu até onde iam os passos e cheirando o chão chegou até onde estavam os primos. Olhos arregalados e o coração batendo forte, Samuel e Henrique tentaram conversar, mas foi inútil.

 Arrancados à força de dentro de onde estavam, foram amarrados e pendurados atravessados no lombo de um dos animais, ambos se debateram e gritaram, mas uma das criaturas se irritou com os gritos e os golpeou na cabeça, deixando os desmaiados.

A caravana retornou á montanha de pedra, Samuel e Henrique seguiram desacordados e seus corpos jogados no lombo do estranho animal. Depois de algumas horas de viagem, chegaram do outro lado da montanha de pedra. Com um instrumento de sopro que parecia um berrante, mas feito de pedra e enfeitado com penas coloridas, uma criatura no alto de uma grande torre de madeira, soprou avisando aos outros que o chefe estava chegando com novidade. Na parte logo abaixo da grande torre que servia de observatório, havia um grande portão feito de troncos que se ergueu depois de algumas criaturas puxarem com as cordas, dando passagem para o bando.

A grande muralha de pedras sobrepostas servia de proteção contra algum invasor. Samuel e Henrique começaram a acordar com os gritos, criaturas ergueram suas armas para o alto e soltaram gritos indecifráveis de guerra. Ainda pendurados seus olhos seguiram os passos daquele estranho animal e quando olharam mais ao alto viram apenas as silhuetas estranhas iluminadas com as grandes tochas fixadas nas rochas da montanha. Uma criatura veio e os levaram arrastados para dentro de uma enorme caverna debaixo da montanha.

A AGONIA

Ao chegarem empurrados dentro da grande caverna, depararam com coisas muito bizarras, cordas que desciam do teto seguravam crânios de toda espécie de animais ou criaturas desconhecias e alguns que pareciam de humanos. Andaram por um corredor com varias entradas e depois chegaram á um local que parecia uma concentração de prisioneiros. Ainda era noite, jogados numa cela com paredes de pedras e uma portinhola de madeira trancada por um tronco que era seguro por duas forquilhas, uma de cada lado da portinhola, apoiavam o tronco que era impossível deles alcançarem com seus curtos braços. Machucados, sujos, cansados e com fome, dormiram no chão no canto da gelada cela.

O dia seguinte.

Pela manhã Samuel e Henrique foram acordados por um guerreiro da tribo, parecia um pesadelo, mas infelizmente não era. Samuel e Henrique foram puxados pelo braço e aquela criatura bizarra falou alguma coisa impossível de se traduzir. Durante o percurso, até onde estavam sendo levados, havia varias celas enormes com outros prisioneiros, todos eram criaturas estranhas, não havia nenhum sinal de humanos, havia um olhar hostil tanto por parte dos que o prenderam como por parte dos presos. Samuel e Henrique estavam com muito medo, e o pior é que não entendiam o dialeto das criaturas. Passaram por uma ponte de madeira presas por cordas atravessando de um penhasco ao outro, andaram uns 20 minutos até chegarem á um grande campo com outros prisioneiros que trabalhavam em caldeiras enormes de fundição, outros quebravam pedras e outro grupo carregavam as pedras até um elevador manual que era puxado com cordas em carretilhas até o topo da montanha onde havia uma espécie de escorregador gigante onde as pedras eram jogadas e rolavam até outro grande campo, outras criaturas as carregavam para algum tipo de construção.
Os dois foram recebidos por um ser muito estranho que pela forma de como foi recebido, parecia ser o comandante do lugar, cabeça oval coberta com um capacete que parecia escama de peixe, deixava suas grandes orelhas para fora, olhos esbugalhados, nariz achatado e uma grande boca com dentes pontiagudos para fora, na mão carregava um chicote, ameaçados, os dois foram levados até um pequeno galpão construído com pedras, onde havia outros seres trabalhando.

A GRANDE SURPRESA

Assim que chegaram ao galpão, Samuel e Henrique foram simplesmente jogados para dentro, a criatura apenas disse alguma coisa para os que o recepcionaram e saiu. Apesar de estarem em pânico, tiveram um momento de alegria quando encontraram outros humanos no galpão. Foram recebidos com tristeza misturada com esperança por parte dos anfitriões, Josué e Raimundo vieram recebê-los.

O galpão feito com pedras sobrepostas como um iglu tinha uma grande porta de ferro vazado, assim os guardas das criaturas pudessem ser vigiados e se estavam trabalhando. Havia uma bancada para serra e algumas vigas de ferro encima, mas ao fundo um grande forno para fundição, onde trabalhava Elton que era mestre em serralheria e ferramentaria e era um dos queridos das criaturas, assim como a Cellis, sua esposa.

 

- não acredito! Vocês encontraram o lago não foi?- perguntou Josué.

Nesse momento os outros humanos surpresos se aproximaram e todos começaram a fazer perguntas.

-calma pessoal, eles devem estar com fome e sede, tragam comida e água para eles, depois fazemos perguntas – disse Josué, líder do grupo.

 

José Antonio trouxe uma jarra de água, pedaços de pão e carne. Samuel e Henrique estavam famintos e com sede, devoraram a comida em minutos e descansaram um pouco, e se prepararam para as perguntas e respostas.

 

- antes de vocês começarem a perguntar, nós queremos saber que lugar é esse, o que estão fazendo aqui, quem são aquelas criaturas.

- calma, calma, uma coisa de cada vez, -começou a falar Josué – nós chegamos aqui da mesma forma que vocês, estávamos caçando e acabamos nos perdendo quando uma neblina caiu sobre a floresta e começamos a escutar um barulho de cachoeira. Fomos procurar  ela do nada apareceu entre as folhagens e quase caímos lá embaixo onde estava o lago, descemos, ele estava encoberto com a névoa, que depois descobrimos que era por causa das suas águas quentes, fomos seduzidos á entrar no lago para tomar banho, quando fomos engolidos por um redemoinho, nos afogamos mas fomos salvos por um milagre, na hora que aparecemos no lago desse lado, essas criaturas estavam lá como se soubessem o que estava pra acontecer, então quando nos capturaram de tanto nos sacolejar encima  do Glokus acabamos soltando água que havíamos engolido pra fora e nos tornamos prisioneiros, cada um de nós tem uma historia diferente, mas são bem parecidas a maneira de como chegamos aqui, assim como vocês.

 

- só são vocês três que estão aqui?

- não, tem o Elton que está na fundição, a Cellis sua esposa e a Cássia que é minha esposa.

- Gnorus, então é assim que se chamam essas criaturas?- perguntou Samuel.

- eu sabia que meus amigos estavam vivos, quero vê-los – disse Henrique ansioso para ver Elton e Cellis.

Raimundo foi chama-lo.

- não acredito! Henrique, Samuel! Como vieram parar nesse inferno?

-é uma longa historia, -disse Samuel – na nossa cidade todos sabiam da historia do desaparecimento de vocês, a sua família como os dos demais procuraram junto com a polícia por tudo quanto é lugar na floresta atrás de vocês, mas a única coisa que encontraram foi as suas bolsas jogadas umas longe das outras, a policia acha que foram atacados por onças, mas a família não acreditou nessa historia, eles acham que estão perdidos na floresta e tem a esperança de encontra-los vivos, então eu e o Henrique resolvemos nas férias ir à floresta procurar por vocês, andamos vários dias até que nos perdemos por causa da neblina e acabamos encontrando a cachoeira e o lago, falando nisso onde está a Cellis?

- ela e a Cássia, esposa do Josué trabalham na cozinha do chefe dos Gnorus, o chefe Mukala, embora sejam hostis, eles são generosos com a gente, porque nos acham inteligentes e habilidosos, em relação aos outros prisioneiros somos bem tratados, temos água e comida á vontade, o único problema é que por nos acharem inteligentes, nos vigiam o tempo todo. Mas me diz aí como estão as coisas no nosso mundo, a minha família está bem?

-está sim, mas é grande o sofrimento dos seus pais, por isso que a gente resolveu vir procurar por vocês e porque também queríamos fazer uma aventura.

- e que aventuram encontraram heim, pelo jeito foi sua última aventura, á essa altura sua família é quem deve estar preocupados com vocês. - falou José Antonio.

- mas vocês já tentaram encontrar como sair daqui? –perguntou Henrique.

- sim, fizemos amizade com outra tribo, depois de tanto tempo aqui, foi a única alem da tribo Gnorus que conseguimos nos comunicar, eles são da tribo Pakalala, que eram os moradores daqui e foram expulsos pelos Gnorus com ajuda de outras tribos. o líder Muon Pu Lala me contou uma historia que pode ser a nossa salvação, embora eu acredite que seja só uma lenda e que vamos continuar aqui pra sempre, como você deve ter percebido, estamos do mesmo jeito de quando caímos nesse maldito mundo, o tempo aqui é diferente, os anos são longos as noites e os dias embora passem no mesmo ritmo que estamos acostumados, eles são mais longos e por isso não envelhecemos.

 

Nesse momento Gharin um dos guardas de Mukala entrou no galpão nervoso dizendo para Josué que era pra dar trabalho para os dois, se não iam ficar sem comida e água, Josué abaixou a cabeça e disse que tudo bem.

- esse é Gharin, um dos guardas, ele disse pra fazer vocês trabalharem pra poder ganhar comida e água, aqui nosso trabalho é fundir ferro, é tudo manual mesmo, não tem moleza, pra poder ganhar a confiança do chefe eu mostrei a ele que podia fabricar armas com ferro, já que eles usavam lanças de madeira com ponta de obsidiana, que é uma pedra fatal, corta e perfura até a alma, os outros prisioneiros de tribos rivais, ficaram com ciúmes e queria nos atacar, por isso Mukala resolveu nos separar e construiu esse galpão pra gente morar e trabalhar, aqueles que se comportarem bem, tem um dia no mês quando a lua muda que podemos no dia seguinte fazer uma caminhada lá fora, com escolta dos guardas é lógico, e assim vamos imaginando como fugir daqui, só tem um problema, completou Josué...

...temos que ajudar a tribo Pakalala que são os únicos que podem nos ajudar a sair desse lugar e voltar pra casa.

Josué e Raimundo já mostraram aos dois o quais seriam suas tarefas, Henrique iria ajudar Elton na fundição e Samuel ajudaria José Antonio na serralheria e assim começaram o seu primeiro dia de trabalho.

 

Segundo a história contada pelos Pakalalas, na quarta lua cheia há uma mudança radical no clima do mundo Cirith que é o mundo de todos ali, porque no mundo Cirith existem quatro luas, e quando chega o tempo da quarta lua cheia, as outras luas se alinham e acontecem grandes mudanças climáticas, são períodos de muito calor, outras vezes o clima fica muito frio, com tempestades de neve, e outras vezes muita chuva, deixando os vales inundados.  Em um lugar em especial acontece a abertura de um portal, que só os Pakalalas sabem onde fica e quando acontece, esse portal pode ser aberto em qualquer outro mundo,trazendo assim criaturas de toda espécie que passam pelo portal sem saber e acabam vindo pro mundo Cirith. Os pontos mais altos são disputados pelas tribos, a montanha de pedras é um território conquistado pelos Gnorus que expulsaram os antigos donos, os Pakalalas, a maioria foi morta e os que sobreviveram foram presos e depois soltos para que pudessem encontrar outro lugar e refazer sua tribo, já aqueles rebeldes que teimaram em ficar próximo ou caçando perto da montanha de pedra foram presos e feitos escravos definitivamente. Muon Pu Lala disse uma vez para Josué que seus companheiros lá fora estão planejando resgata-los, mas para isso precisaria de mais ajuda de outras tribos e os humanos seriam grandes aliados e os ajudariam com armas e estratégias. Os Pakalalas eram minoria entre todas as tribos, pelo menos era essa a ideia que o líder queria passar para todas as tribos. Um dia já foi a maior e ajudava as outras tribos menores, agora os Gnorus conseguiram domesticar os Glokus e sua popularidade aumentou muito e outras tribos se aliaram a eles, porem existe um descontentamento por parte das tribos que não aceitaram tratamentos diferentes de outras tribos e qualquer insinuação de conspiração contra os Gnorus, aceitariam de prontidão uma rebelião. Eram as tribos Maiasxi, Incaperu e os Gualtecas.

O mundo Cirith.

CHEFE PAKALALA.

Cirith é um submundo com varias tribos alienígena. Uma época a maioria das tribos viviam pacificamente, algumas até ajudavam entre si. A tribo Pakalala era a maior e a mais respeitada, suas leis era a que prevalecia, mas como em todo outro mundo, existe sempre alguém pra discordar. Muon Pu Lala é o representante e líder de todas as tribos, menos para Mukala, chefe da tribo Gnorus.
tribo Incaperu
Em Cirith as tribos eram divididas por região, cada região tinha uma tribo líder, ao norte a tribo líder era os Maiasxi, no sul os Incaperu, oeste os Gualtecas e os Pakalala ficavam no oeste na parte mais alta onde ficava a montanha de pedra e as terras férteis. Sobreviviam de caça, os Glokus antes eram abatidos, mas depois que os Gnorus os domesticaram, serviam como montaria.
guerreiro Gualteca
Alem de serem rápidos no solo, eles também voavam e podiam escolher suas caças e espionar as outras tribos, foi assim que conseguiram tomar a fortaleza dos Pakalalas.
lider Maiasxi
Agora só os Gnorus eram os únicos que plantavam trigo e algumas plantas estranhas que só eles comiam, com a chegada dos humanos, descobriram-se novos cardápios, as carnes dos animais abatidos, antes eram ou cozidos diretamente sem temperos ou assados, agora eles conheciam os ensopados e os pães, graças a Cellis e a Cássia que por sobrevivência ensinaram esta receita. Nos rios alagados tem uma espécie de anfíbio, o krokis é um tipo de meio peixe e meio jacaré, tem nadadeiras, a pele escamosa e a boca igual de jacaré, mas não anda na terra, come pequenos skraxos, (peixes de carcaça dura parecido com o cascudo), os habitantes de Cirith disputavam a caça dos Krokis que tem uma carne macia e muita apreciada pelos nativos, os Krokis serviam de isca, também existiam vários outros animais e aves, os únicos animais que não eram comíveis eram os Urubutres e as krikrienas que comiam restos de comida e carniças. Os Pakalalas guardavam um segredo das outras tribos, donos de toda a região Oeste, os Pakalalas eram conhecedores profundos da sua região, já que era proibida uma tribo invadir a região da outra, os Pakalalas usaram a montanha das pedras como seu reduto, mas era tudo encenação para enganar as outras tribos, assim não revelariam seu segredo, uma terça parte da tribo moravam na montanha de pedras o resto da tribo morava em Ungol Pala.

Uma enorme ilha cercada por um grande rio em sua volta, que a transformava em uma fortaleza, qualquer presença de estranhos era vista por todos os ângulos e seriam alvos fáceis, mas os que descobriram por engano o paraíso foram mortos antes de levarem a noticia a sua tribo. Em Ungol todos da tribo Pakalala viviam pacificamente e eram extremamente unidos, a cada ciclo do xamanã (fenômeno que acontece na quarta lua cheia, quando há o alinhamento das quatro luas), havia um revezamento da tropa sem que outra tribo desconfiasse, subiam e desciam dez por vez durante a noite até a tropa toda da montanha de pedra ser trocada. Dessa forma não haveria discórdia na tribo, onde todos teriam que fazer o revezamento.


As quatro luas alinhadas.

Henrique e Samuel trabalharam até o anoitecer, quando Cellis e Cássia vieram trazer comida acompanhada sempre por um soldado Gnoru, assim que entraram no galpão elas surpresas viram a presença dos dois, embora tristes por mais dois caírem naquele mundo, estavam eufóricas para saberem de noticias do seu mundo.

- não acredito Henrique e Samuel, como vocês cresceram! Desculpe-me, mas estou feliz de ver vocês – disse toda eufórica a Cellis.

- pois é Cellis, saímos na floresta á procura de encontrar alguma pista do desaparecimento de vocês e acabamos encontrando vocês de uma forma inusitada e triste, mas vamos dar um jeito de sair desse inferno – respondeu Henrique enquanto se abraçaram.

- você deve com certeza é a Cássia, não é?

- sim, sou esposa do Josué, por favor, me diz alguma coisa da minha família, meus pais, meu irmão...

- eles estão bem na medida do possível, apesar de estarem desaparecidos há dezesseis anos, eles ainda acreditam que estão vivos – disse Samuel.

 Todos ao mesmo tempo perguntaram assustados e incrédulos.

- dezesseis anos? Você está de brincadeira não é?

-não, -respondeu Henrique – é verdade, Josué e cássia já faz dezesseis anos que desapareceram, Raimundo e José Antonio 14 e o Elton e Cellis faz exatamente 12 anos, quando disseram que o tempo aqui não passava, nós acreditamos, porque vocês estão exatamente como estavam quando desapareceram, pelo menos a Cellis e o Elton que conhecemos pessoalmente.

Todos entraram para outro cômodo fechado que era onde dormiam e comiam. ao lado havia um banheiro onde Josué fez uma espécie de chuveiro, inventou um grande balde de lata com pequenos furos fixo no teto, um balde menor subia com água puxado com uma manivela e derramava a água dentro do balde em forma de chuveiro e assim tomavam banho. A privada foi Raimundo que providenciou com José Antonio, fizeram um buraco e com tubos de ferro fizeram os encanamentos para uma fossa fora do galpão, e logo acima do buraco Josué fez uma espécie de bacia com pedaços de ferro e arames e a revestiu com argila.

As camas também foram improvisadas, feitas com tijolos de barro e forradas com capim seco e com peles de Glokus, que também era a matéria prima das roupas de todas as tribos, além de resistentes, também serviam para se proteger do sol e do frio.

-bem, apesar de estarmos em um mundo hostil e sendo escravos, ainda temos algumas regalias, não podemos reclamar da sorte, - comentou Jose Antonio.

Todos tomaram banho e se alimentaram com carne de krokis com batata e um tipo de suco feito com uma fruta seca batida na pedra que servia de aperitivo, era muito forte e se parecia com a nossa vodka, depois de uma conversa rápida, foram se deitar. Henrique e Samuel dormiram numa rede improvisada.

 

Henrique e Samuel observaram a noite estranha e magnífica, as estrelas pareciam que ficavam mais baixas, as quatro luas deixavam a noite mais iluminada e mais bela, grandes aves sobrevoavam no céu atravessando seu vulto negro na frente das luas. Os soldados de Mukala ficavam indo e vindo observando se havia algum movimento estranho, mas estava tudo calmo, todos estavam dormindo.

O dia amanheceu. Cássia e Cellis já haviam acordado antes para irem preparar a comida da manhã, já que não havia café. Henrique e Samuel foram acordados por José Antonio.

- vamos rapazes, temos muito trabalho pela frente, daqui a pouco as meninas vão trazer nosso “café” que saudades, até posso sentir o cheirinho do cafezinho da minha mãe – comentou Elton.

Cada um seguiu para o seu setor de trabalho, Samuel foi ajudar Josué na fornalha, enquanto Henrique foi com Raimundo pinar algumas vigas, Samuel inventou uma forma, um tipo de pilão estreito e com ferro derretido e fazia os pinos, e quando esse atravessavam os buracos da viga, batiam na sua ponta amassando para não poder sair de volta pelo buraco.

Estavam criando uma estrutura para montar uma torre que serviria de observatório, lá de cima poderiam vigiar os escravos e em volta da montanha, pelo menos a parte da frente.


continua... aguardem a parte 3