O Artefato
- Professor?
Na penumbra da sala de controle, barba por fazer, Telat Aber Okal ergueu os olhos cansados do frequencímetro e fitou o rosto do assistente:
- Qual é a má notícia agora, Ravan Tol?
- Perdemos o contato com o submarino. O maremoto que identificamos...
- Eles foram atingidos?
- Ao que parece... captei algumas transmissões externas, o bombardeio continua.
Telat Aber enterrou o rosto nas mãos.
- Talvez eles tenham conseguido desembarcar... talvez estejam vivos...
- Melhor que não tenham desembarcado, senhor. Qamoghar foi incinerado logo no primeiro ataque.
Silêncio. Depois, Telat Aber falou lentamente:
- Ninguém mais sabe que estamos aqui. A continuar esta demência, é improvável que sejamos resgatados...
- Podemos abandonar a base nas cápsulas de fuga - atalhou Ravan Tol, esperançoso.
- Se não houver para onde ir, qual é a vantagem? Prefiro esperar, talvez a Cultura consiga mandar uma nave de combate a tempo.
Ravan Tol balançou a cabeça.
- É tarde demais, senhor. Quando chegarem, não haverá mais ninguém para ser resgatado.
- Temos que aguardar - insistiu Telat Aber. - Principalmente para honrar o trabalho dos que se foram. Onde está o Artefato?
- Encaixotado na câmara de descompressão número 3, pronto para embarque.
- Logo agora que estávamos tão perto de começar a desvendar um mistério de 5 mil anos, os malditos Idirans resolvem destruir o planeta - exasperou-se Telat Aber. - Será que isso é só uma coincidência infeliz?
- Difícil pensar em outra coisa, professor. Este projeto é ultrassecreto. E, fora eu e o senhor, ninguém mais da equipe conhecia o real significado do Artefato.
- Sim, - ponderou Telat Aber - sei disso.
E virando-se na cadeira para encarar o assistente:
- Mas se os Idirans soubessem, talvez considerassem que valeria a pena destruir um planeta inteiro do que permitir que a Cultura colocasse as mãos nele?
- Quem sabe o que os Idirans pensam, senhor? - Retrucou Ravan Tol sem pestanejar.
A conversa foi interrompida por um "bipe" vindo de um dos consoles. Uma lâmpada amarela piscava insistentemente.
- Temos visitas - anunciou Ravan Tol.
E após uma rápida consulta num dos monitores de vigilância externa, acrescentou:
- E não é o nosso submarino.
[17-12-2012]