Saudações holográficas

- Gostou?

Malakor Nobu Dasomon balançou a cabeça em aprovação. O seu novo escritório era amplo, com móveis de aço escovado, um impecável carpete branco autolimpante e grandes janelas de vidro polarizado que agora permitiam apreciar o mar verde-esmeralda das ilhas Namaris, pontilhado aqui e ali por iates prateados movendo-se preguiçosamente 300 m abaixo dele. O sol de Deuteria ia pelo meio do céu azul-arroxeado praticamente sem nuvens, num perfeito dia de verão local.

- Espetacular! - Exclamou. - Você tem muito bom gosto, Zorava-Hava.

- Não fiz tudo sozinha - disse a robô modestamente. Estava vestida num longo de seda cor de ouro-velho que contratava vivamente com a decoração asséptica do escritório e com o exterior verde e azul do mar e do céu deuterianos. - Raniva-Sur possui um conhecimento profundo de decoração. Eu só dei alguns toques pessoais, baseando-me no que sei a seu respeito.

- Ficou realmente muito bom! Então quer dizer que vou ter que agradecer também à sua amiga Raniva-Sur? - Perguntou em tom maroto.

- Poderá fazê-lo pessoalmente, Malakor Nobu Dasomon. Ela está aqui, nas Namaris. Excepcionalmente, Pergunte-me Como trouxe-a em uma de suas viagens de trabalho.

- Aqui? Começo a desconfiar do que Pergunte-me Como está tramando...

Zorava-Hava virou-se para a porta principal, como se tivesse ouvido alguma coisa, e exclamou:

- Oh! A Central de Vigilância acaba de confirmar que eles estão chegando!

- Raniva-Sur e... ?

- Pergunte-me Como, naturalmente. Está usando uma projeção holográfica sobre um campo de força. Poderá interagir com ele como se fosse um ser material.

- Ele faz isso sempre? - Espantou-se Malakor.

- Não é incomum - riu-se Zorava-Hava.

Raniva-Sur e Pergunte-me Como adentraram a sala. Ela, num vestido justo azul-turquesa, que deveria estar lhe dificultando a respiração, e ele numa espécie de robe e pijama acetinado num tom de púrpura escuro. A aparência de Pergunte-me Como era a mesma do telão: um homem moreno, de meia-idade, cerca de 1,70 m de altura, os cabelos ficando grisalhos nas têmporas. Apertou a mão de Malakor e sacudiu-a efusivamente.

- Ah! Malakor! A nossa arma secreta contra os Idirans!

- Não exatamente contra os Idirans... - respondeu Malakor, temendo que com tamanha energia Pergunte-me Como acabasse se empolgando e o atirasse janela abaixo. Raniva-Sur veio em seu socorro:

- Menos, menos! Você não está em campanha política!

- Isso de apertar mãos sempre me diverte! - Exclamou Pergunte-me Como. E depois de dar uma olhada panorâmica pelo escritório:

- Homem! Você está melhor instalado do que eu! Quase sinto inveja disso aqui.

Apontou um dedo para Raniva-Sur:

- Você nunca gastou meia hora do seu tempo para planejar a decoração do meu escritório!

E dando uma palmada entusiástica nas costas de Malakor:

- Nem imagine a quantidade de compromissos que tive que desmarcar para estar aqui hoje!

Malakor sentiu-se embaraçado.

- Verdade...?

Raniva-Sur balançou negativamente a cabeça.

- Não acredite em metade do que ele diz, Malakor Nobu Dasomon. Sempre reclama que está com a agenda cheia para valorizar as suas visitas "em pessoa".

Pergunte-me Como cruzou os braços e fez uma expressão séria.

- Ei! Mas isso é verdade! Eu tenho uma agenda social das mais carregadas. Diga pra ele, minha filha!

Raniva-Sur olhou para o teto e começou a recitar:

- Neste exato momento, Pergunte-me Como está "em pessoa" em 264 eventos ao redor de Deuteria. Isso inclui casamentos onde ele foi convidado para padrinho, inaugurações de edifícios públicos, abertura de campeonatos esportivos, jurado em concurso de beleza... a lista é longa, você não vai querer ouvir tudo.

- Fazia tempo que eu não vinha às Namaris! - Exclamou Pergunte-me Como olhando para o mar verde. - Pelo menos, não à trabalho.

E encarando Malakor, acrescentou:

- Onde vamos almoçar?

Malakor olhou para Raniva-Sur, como quem pede socorro.

[03-12-2012]