Expresso Transcroniano - Parte 11
*** Refugiados de uma Estupidez ***
Foi de Einstein a ideia original:
- A rigor, vetores são unidimensionais. Sempre se pode representá-los como um escalar redefinido numa base dimensional mais adequada. Tanto faz se ele está num plano bidimensional, tridimensional, tetradimensional... só depende da referência! Tudo é relativo! E velocidade É um vetor!
Harlan não estava tão certo disso.
- Você acha mesmo que é seguro, Einstein? - o condutor do Expresso perguntou pela bilionésima vez ao famoso cientista.
- Tudo correrá bem se mantivermos uma velocidade temporal constante! Mesmo não preparados para isto, os vagões acompanharão os saltos temporais! Em velocidades enormes sempre existe uma "inércia cósmica" acompanhando a direção do deslocamento. Mas...
- Mas??? Tem um "mas", Einstein??
- Tem! Não vamos poder parar na estação 19-39!!! Precisaremos passar direto! Voltar, se for o caso. Mas, a princípio, estes vagões rústicos não aceitariam tal desaceleração temporal! Precisaremos passar como um raio por esta parada!
- Este é o menor dos problemas! - diz Harlan, puxando do bolso seu transcomunicador temporal. - Alô? É da estação 19-39? Avise que o Expresso não irá parar aí no horário previsto, mas que voltaremos à normalidade assim que for possível!
Andrew Harlan olhou esperançoso para Einstein.
- Qual o próximo passo, professor?
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Raul não podia acreditar naquilo!
- Bixo!!! A parada passou pela gente como um raio!!!
Jules Verne compartilhava da indignação com Raul, olhos perdidos tentando fitar aquilo que era "infitável".
- Paciência, amigo! Ele volta! Afinal, a gente comprou a passagem, né?
Raul não comprara nada. Era totalmente contra seus princípios.
"Todo Homem tem o direito de transitar livremente pelo seu planeta, pois o planeta é dele! O Planeta é nosso!"
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- É estranho, Leonardo... - disse Judas ao novo amigo. - Ele deveria ter parado aqui! Algo aconteceu...
- É pra se preocupar, amigo?
- Não na verdade. Apenas... é imprevisto! Uma exceção à regra! Algo deve ter acontecido...
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Agatha Christie embarcou na estação 19-30. Não aquela Agatha que já estava no trem, mas a outra Agatha, a que embarcou antes, e motivo pelo qual a atual se encontrava agora naquele trem. Só existia uma Agatha agora voltando ao passado porque aquela Agatha atual embarcava neste exato momento. Difícil entender este tipo de coisa, né? Tais tipos de paradoxos costumam acontecer quando não se planeja direito as paradas. Felizmente a Agatha-1 embarcou num vagão diferente daquele da atual Agatha-2. Um encontro das duas seria bem difícil mesmo de se explicar...
- Vocês vão para estação 19-39, não é mesmo?
- Excepcionalmente... sim! Nós vamos! Mas seu comboio é outro, o regular.
- Que mal há em eu me adiantar e tomar este?
O fiscal seria capaz de citar um milhão de restrições! O que não fez, sabendo que nenhuma a convenceria. Apenas pegou seu bilhete:
- Pode entrar, Mrs. Mallowan. - disse após se certificar de que ela não encontraria sua equivalente futura naquele vagão.
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Harlan nunca havia se encontrado com... ele mesmo! Era de se esperar! Dificilmente transgredindo regras temporais básicas de isolamento de eventos, era mesmo improvável que isto acontecesse. Mas aconteceu! Seu próprio rosto mais velho, como se olhasse por um espelho capaz de lhe acrescentar idade, lhe sorria cordialmente. E não parecia tão surpreso assim...
- Relaxa, meu caro! - disse o "outro" ele para si mesmo! - Sei o que você está pensando, já passei por isso! Nós vamos acabar nos acostumando! - tentava tranquilizar seu irmão gêmeo mais velho naquela estação de manobras.
- Eis aqui os... - vendo a si mesmo, em carne e osso, à sua frente, era impossível não engasgar!
- Sei o que tens aí, meu caro! Desengate os vagões dos refugiados, eu assumo daqui em diante!
- Eles estão...
- Assustados? Famintos? Sei disso! Chegam de uma linha alo-história de terror, que tentamos aos poucos consertar.
- Refugiados Históricos...
- Isto mesmo, Harlan! - ele se disse para si mesmo, de outro tempo.
- E ficarão bem aqui? Retomando suas vidas uma década no passado?
- Melhor do que eles poderiam esperar DAQUELE outro futuro, isto pode ter certeza!
Harlan apertou a mão do Harlan futuro. A sensação era realmente bem estranha!
- Eles estão em suas mãos agora, amigo!
O Expresso Transcroniano guiado pelo Harlan futuro tinha linhas bem mais futuristas que o atual. Harlan viu a locomotiva prateada sumir ao longe, carregando os vagões com os refugiados judeus e ciganos logo atrás. Hora de voltar à estrada. Ou melhor, à estrada de ferro! Quis comunicar isto diretamente:
- Caros passageiros, avançaremos agora para a estação 19-39. Quem esperava descer lá, favor fazê-lo na próxima parada!
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- Olha lá o trem de volta, seu Júlio! - avisou Raul Seixas, vindo de um papo longo com Jules Verne a respeito de planetas, extraterrestres e viagens espaciais.
- De fato, é o trem! Vamos continuar a viagem, Raul. A propósito, para onde e quando você vai mesmo?
- Pro futuro! Encontrar os discos voadores!
- Mas... esse não vai voltar?
- Ah, era só o que faltava, seu Júlio! Eu não estou doido! Os trens que vêm deste lado da plataforma chegam do passado, em direção ao futuro! Não posso ter errado de novo!
- De fato, Raul! De fato! Mas, pelo número de minha passagem... Estranho! Ele vem mesmo do passado, mas vai continuar voltando depois? Já não estou entendendo mais nada... Que diz seu bilhete?
Raul não tinha bilhete, como sempre! Pegaria outra carona? Bem, aquele trem vinha do passado. Portanto, estava indo para o futuro! Não tinha como se enganar de novo!
- Me dá cobertura, seu Júlio?
- E seu bilhete, Raul?
- Cara, acabei perdendo! Tenho certeza de que está por aí... - vasculhou o chão, mentindo discaradamente. - Você não vai me abandonar aqui na década de 30, ou vai?
- Certo! Mas seja discreto!
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Raul entrou ligeiro no vagão. Só não sabia era que, de novo, estava indo ao passado! Mais uma vez, fôra enganado pelo Monstro Sist!!!