A VERDADEIRA MÁQUINA DO TEMPO - PARTE 1

– Onde estou?

– Não reconhece? Este é o seu quarto. Sou eu meu amor: Janet. Seja bem vindo.

Duas grossas lágrimas saltaram dos olhos de Janet ao pronunciar estas palavras. Pela primeira vez, após trinta anos de total inconsciência, Peter abrira os olhos e sua voz era ouvida. Isto merece uma explicação. E não será uma explicação simples, melhor dizendo não será simples o seu entendimento. Pela lógica dos fatos, trinta anos são capazes de mexer com a vida, em todos os sentidos porque significa transformação, mas não no caso de Peter. Quis ele, levado menos pela curiosidade do que pela ânsia de por em prática suas múltiplas teorias, provar ao meio científico a possibilidade de se deslocar em outras dimensões sem o uso do corpo físico. Peter aceitara este desafio mesmo ciente das dificuldades que teria que enfrentar. Primeiramente as que diziam respeito a sua integridade física para depois ter que provar à comunidade científica da qual fazia parte que dera certo sua experiência.

Cálculos matemáticos meticulosos, noites insones e um bocado de investimento financeiro. Foram estes os principais esforços a que se entregou durante anos. Deles logrou êxito por que eram os que dependiam de si, diretamente. O fator tempo, este sim, deveria representar uma incógnita e sem sombra de dúvida, o seu maior obstáculo. Graduado em física quântica, aos vinte e dois anos de idade, passou a dedicar ao aprofundamento dessa ciência quase todas as horas do seu dia. É certo que a intuição cruzou, não raro, o caminho de suas investigações; teve, contudo, resultados práticos que o animaram vezes sem conta. Quando se sentiu convicto, iniciou a parte prática de seus estudos. Constituiu, a primeira fase, de inúmeras e cada vez mais prolongadas experiências de viagens fora do corpo. Tinha nessa ocasião trinta anos incompletos e já era casado. Janet, a esposa, embora um tanto cética e cheia de medos, não deixava de incentivá-lo. Em uma dessas viagens, reconheceu, ou melhor, intuiu Peter o ambiente no qual iria vivenciar as situações e se ligar às pessoas que iriam alterar todo o rumo de sua vida. Quanto ao ambiente, sua descrição é difícil, senão impossível, visto não se enquadrar em nada que costumeiramente faz parte de nossas concepções.

Para começar não havia construções. Melhor dizendo, elas existiam, mas apenas dentro da mente de cada ser. Quer isso dizer que surgiam e desapareciam de acordo com a vontade do interessado. O mesmo se pode dizer dos seres com que Peter precisou se defrontar em suas viagens. Neste caso, porém, a mudança era unilateral: cada ser possuía a capacidade de se transformar independente da vontade do outro.

Foram essas sensações, transformadas em visões cada vez mais nítidas que deram Peter o ânimo necessário para perseverar em suas experiências, pois se certificou de estar no caminho certo.

– Isto pode ter sido apenas um sonho. Quem pode garantir que este

mundo e essas criaturas existam realmente? Você esteve ausente, fora de sua consciência, por menos de uma hora. Como pode ter visto tanta coisa e passado por tantas experiências?

Por mais que Janet se esforçasse em auxiliá-lo, se mostrava ainda cética e insegura.

– Isto prova a minha teoria, meu amor. Todo sonho é linear e a mente não consegue aprisioná-lo por muito. Acabamos esquecendo ou mantemos quando muito, detalhes muito vagos e imprecisos. Eu, porém, consigo me lembrar de cada detalhe de minhas experiências futuras.

– Eu compreendo. Mas, por mais sinceras e verídicas que sejam as suas teses, como pretende provar isto na prática se, como você diz, tudo se passa em outro plano?

– Esta é a parte mais difícil do meu trabalho. Pelo fato de ser eu um cientista, tudo que pretendo mostrar virá confirmado e provado através das vias exclusivamente científicas. As viagens fora do corpo a que tenho me submetido podem ser comprovadas, também cientificamente. Prepare-se, portanto, para grandes surpresas. O que tenho visto é inenarrável por meio de simples palavras, não sei se compreenderia, estou quase certo de que não.

– Tente, pelo menos – Janet esboçou um sorriso meigo, porém ansioso. Suas faces rosadas e seus grandes olhos castanhos afoguearam-se e ela não pode evitar a pergunta:

– Por que não me ensina a fazer essas viagens? Se deve ser mesmo fascinante conforme diz, não acha que eu poderia ser útil em situações futuras?

– Não tenho dúvidas que sim, mas não me peça isso agora. Estou no começo das experiências e ainda desconheço os riscos, se é que eles existem. Meu treinamento tem sido longo e penoso. Vamos ver o que acontece.

Peter necessitava de dias entre uma experiência e outra a fim de se refazer por inteiro, física e mentalmente, do estresse que envolvia os seus esforços. O próximo passo o levaria a tentar uma forma de contato com as criaturas que pressentira na última viagem que fizera. Orientou a esposa acerca dos cuidados que deveria ter enquanto estivesse ausente, cuidados com as prováveis reações físicas e psíquicas; sobretudo, que não o despertasse no meio da experiência. Tão convicto era Peter acerca deste pormenor que deixava a cargo e disposição de Janet toda uma gama de instrumentos necessários à reversão de uma eventual parada cardíaca, caso isto viesse a ocorrer, mas esta possibilidade era por demais remota, embora não deixasse de ser considerada.

As primeiras idéias de Peter quando apresentadas ao meio científico tiveram, de um modo geral, boa aceitação e mínimas foras as críticas. Usou como base, a visão relativista de Einstein, em que o velho espaço de três dimensões tem de ser substituído por um novo espaço-tempo, de quatro dimensões. O tempo passava assim a ser concebido como uma quarta dimensão; isto foi fundamental e necessário para a construção da teoria da relatividade geral e a subsequente revolução promovida por ela. Neste caso a gravitação entre os corpos deixa de ser vista como uma força física para ser considerada uma propriedade geométrica do espaço-tempo.

Peter, no entanto, foi ainda mais longe quando tentou demonstrar que, se o espaço-tempo, postulado por Einstein fosse acrescido de uma quinta dimensão, então, usando-se as próprias teorias da relatividade, mostra-se que os fenômenos eletromagnéticos podem ser interpretados como tendo origem geométrica. Em outras palavras, o campo eletromagnético, a semelhança do campo gravitacional também é geometrizável. O grande problema para ele era fazer com que fosse aceita a existência de uma dimensão que não se via, que não se detectava experimentalmente. A quinta dimensão seria uma dimensão, por assim dizer, escondida. E foi este obstáculo que fez Peter entrar de corpo e alma no estudo das viagens astrais.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 10/11/2012
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